UMA PERERECA NO PORTÃO

23 de dezembro de 2013

As coisas da natureza são apresentadas de maneira palpável, mas continuam surpreendendo as pessoas e instigando suas reações e conhecimentos.

"Muitos ensinamentos da natureza estão no caminho do futuro, entretanto, alguns deles não chegarão a ser revelados, pois muitas páginas da cartilha do amanhã estão sendo destruídas."

Manhã destas, após intensa chuva noturna, um de meus filhos saiu para trabalhar. Abri o portão eletrônico e lá foi ele para a sua lida costumeira. Minutos depois retornou para buscar um guarda-chuva, pois o mau tempo estava na eminência de continuar. 

Ao se aproximar, viu que havia uma perereca presa no portão. Uma de suas patas ficou presa na junção final do acoplamento com a base da cerca de ferro. Abri o portão e ela soltou-se, não sofrendo dano aparente, mas permanecendo ali por alguns instantes. 
Examinando-a mais atentamente averiguei por pesquisa ser uma Phrynohyas mesophaea, exemplar comum na região onde moro, principalmente pela residência beirar uma área de reserva permanente. Nunca a tinha visto pessoalmente e causou-me curiosidade suas formas e cores. 
Por ter seu nome popularmente assimilado a vagina, canal do órgão reprodutor feminino, muitas histórias e superstições são contadas e até levadas a sé
rio sobre a perereca. Talvez existam muitas verdades, já que há fatos na vida e na natureza que não se pode explicar. 
Quem já não ouviu gritos de espanto ou susto em algum lugar, quando ela é encontrada ou quando salta sobre alguém? Passado o descontrole, com sensatez consegue-se afastá-la para longe, não obstante o desejo negativo de eliminá-la. 
Criatura abominável para muitas pessoas de todas as classes sociais, o preconceito coleciona histórias de horrores motivados pela falta de conhecimento desta espécie. 
Por este conflito, se tem uma idéia de como está a chance de sua sobrevivência. 
Este anfíbio alimenta-se principalmente de pequenos invertebrados, como insetos e aranhas. Vive sempre em ambientes úmidos e possui ventosas na ponta dos dedos, permitindo andar em diversas superfícies. 
A música do seu coaxar não é tão harmônico, variando no tom e na cadência. Embora seja responsável por boa parte da manutenção da vida terrena, seu universo é ainda muito desconhecido pelos estudiosos, mesmo havendo um interesse especulativo biogerapêutico.
Sua pele é lubrificada por secreções que chegam a mais de 50 princípios ativos, alguns até venenosos. Seus grandes olhos que servem para localizar as presas, também devem visualizar as ações que provocam o seu desaparecimento em muitos lugares do mundo. 
Um fator recentemente averiguado diz respeito aos raios ultravioletas, cuja intensidade vem aumentando devido à destruição da camada de ozônio e, reduzindo a imunidade deste anfíbio aos fungos, que para sua pele é fatal. 
Muitos ensinamentos da natureza estão no caminho do futuro, entretanto, alguns deles não chegarão a ser revelados, pois muitas páginas da cartilha do amanhã estão sendo destruídas. 
A beleza da perereca, que às vezes passa despercebida pela maioria das pessoas, é uma beleza que deve provocar admiração e não pavor. Ela não oferece perigo e deve ser respeitada pelas suas utilidades junto à natureza. 
É costume conceituar as coisas pelo lado considerado ruim, que nem sempre é analisado corretamente. Muitas de suas ações fazem parte do maravilhoso mundo nativo, ao qual somos associados e do qual deveríamos ter um melhor conhecimento. 
Os benefícios desta criatura são maiores que a pequenez que lhe atribuímos e, uma cooperação para a sua sobrevivência seria uma forte interação com a vida no planeta.