As águas do Brasil

21 de março de 2014

ABC da água: origem, conceitos e a vida surge na terra.

O Planeta Terra, do ponto de vista cósmico, é representado por três ambientes físicos: a litosfera, hidrosfera e a atmosfera. Os três ambientes dão suporte à vida: a biosfera.
 
 
▶ Por quê recurso hídrico?
Designa-se o termo recurso hídrico para identificar o recurso natural como um bem econômico de alto valor, cuja utilização vai render lucro, bem-estar e poder. Usa-se geralmente no plural: recursos hídricos.
Já o termo água se refere a este bem, geralmente, apenas como elemento natural, desvinculado de qualquer utilização.
 
▶ Água doce
Água doce, pela classificação aceita mundialmente, é aquela que apresenta teor de Sólidos Totais Dissolvidos (STD) inferior a 1.000 mg/litro e tem uma salinidade inferior ou igual a 0,5%. A água doce é fundamental para o consumo humano e para o desenvolvimento das atividades socioeconômicas, além de ser essencial para sobrevivência dos ecossistemas.
 
▶ Água Salobra
Água salobra é aquela que apresenta teor de Sólidos Totais Dissolvidos (STD) entre 1.000 e 10.000 mg/litro. A água salobra, segundo classificação da legislação brasileira, apresenta salinidade entre 0,5% e 30%.
 
▶ Água Salgada
A água salgada apresenta teor de Sólidos Totais Dissolvidos (STD) acima de 10.000 mg/litro e tem uma salinidade superior a 30%. (Ver resolução 357/2005, do Conama) 
 
▶ Águas interiores
Águas interiores são originárias dos continentes e ilhas, o chamado domínio terrestre. 
São aquelas usadas para abastecimento humano ou para atender às atividades econômicas. Originam-se de lagos, represas, rios, aqüíferos e mesmo da própria chuva quando coletada. As águas interiores têm qualidades variadas, dependendo de suas características de origem, armazenamento, circulação e percolação. Sofrem, também, influência de fatores antrópicos de acordo com a ocupação pelo homem do meio físico.
 
▶ Origem das águas 
Suporte da vida: a litosfera, hidrosfera, a atmosfera e a biosfera. As teorias são muitas: há cerca de quatro bilhões de anos, começaram a surgir a crosta terrestre e os oceanos.
Estudos estimam que a vida começou a surgir na Terra há cerca de três bilhões e meio de anos. Se a vida veio do espaço – trazida por algum cometa – ou se brotou aqui mesmo na Terra – por força de alguns elementos, proteínas, moléculas ou energia – o fato é que a vida só foi possível pela presença da água.
Foi uma complexa história geológica de cerca de meio bilhão de anos da Terra que deu origem aos continentes e oceanos. Essa evolução foi dinâmica e a melhor explicação está na teoria das placas tectônicas.
O Planeta Terra, do ponto de vista cósmico, é representado por três ambientes físicos: a litosfera, hidrosfera e a atmosfera. Os três ambientes dão suporte à vida: a biosfera. Litosfera é a parte sólida da Terra que compreende o solo, a chamada crosta terrestre. A palavra vem do grego: lithos significa pedra.Hidrosfera (do grego hidro + esfera = esfera de água) é justamente a camada do Planeta que tem água. Todas as águas da Terra formam uma camada descontínua composta pelos oceanos, rios, aqüíferos, gelo e vapor, ocupando 71% de toda superfície terrestre.
Atmosfera já não é exclusiva do Planeta Terra. É uma fina camada que envolve vários planetas e é composta basicamente por poeira e gases, retidos em órbita pela força da gravidade.
O importante é que a litosfera, a hidrosfera e a atmosfera agem, simultaneamente, para permitir a vida na Terra. Da mesma forma, ambas são agentes formadoras dos minerais, carvão, petróleo e da água.
 
▶  Biosfera – É a esfera da vida. São as condições ambientais em que se processa a vida animal e vegetal da terra. É a camada do globo terrestre habitada pelos seres vivos. Contém o solo, o ar, a água, a luz, o calor e os alimentos, que fornecem   condições necessárias para o desenvolvimento da vida. Biosfera é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra. O termo foi introduzido em 1875 pelo geólogo austríaco Eduard Suess.
 
▶ Vulcões, placas tectônicas
A teoria das placas tectônicas diz que, ao longo da história geológica da Terra, as erupções vulcânicas e a movimentação das sete placas tectônicas apresentam contínuos deslocamentos horizontais que vão reconfigurando os limites entre terra e mar.
As erupções vulcânicas lançam na atmosfera grandes quantidades de oxigênio (O) hidrogênio (H2) e gases diversos como dióxido de carbono (CO2), nitrogênio (N2), dióxido de enxofre (SO2) e monóxido de carbono (CO).
A combinação do oxigênio com o hidrogênio lançados na atmosfera dá origem ao vapor de água que, resfriado, vira água no estado líquido. Hoje esse processo é rápido, mas na origem do Planeta a temperatura na Terra era elevada e só possibilitaram a ocorrência de vapor ou de água em estado gasoso.
 
▶  Aparecimento da vida
À medida que as condições geológicas mudavam e a temperatura baixava, os vapores expelidos pelas erupções vulcânicas condensavam-se mais rapidamente, formavam nuvens e caíam na Terra em forma de chuva, que escoava pela crosta, formava erosões, misturava elementos, transportava partículas e passava a mover um fantástico ciclo de matéria e de energia.
A força da gravidade, a incidência diferenciada de luz e calor, os movimentos de rotação e translação em torno do Sol dão força às correntes de circulação atmosférica e à formação de climas. Todos esses complexos fenômenos cósmicos passaram a exercer um papel fundamental na realimentação do processo e foram criando condições para o aparecimento da vida.

 

Distribuição de água na Terra
 
Segundo os cientistas, a Terra tem cerca de 1.360.000.000 km³ de água, distribuídos na seguinte proporção:
 
1.320.000.000 km³ (97%) – Água do mar
 
40.000.000 km³ (3%) – Água doce
 
25.000.000 km³ (1,8%) – Água em estado sólido (gêlo)
 
13.000.000 km³ (0,96%) – Águas subterrâneas
 
250.000 km³ (0,02%) – Lagos e rios.
 
13.000 km³ (0,001%) – Vapor de água
 
 
 

A ilusão, 
o engano e a verdade

No que diz respeito à água, o Brasil é um país perdulário. Com área de 8.547.403,5 km2, possui 53% da produção hídrica da América do Sul e 12% da reserva de água doce mundial. Mas há uma ilusão, um engano e uma verdade: por ser um País rico em recursos hídricos, seus habitantes cultivam, ainda hoje, a cultura da abundância e do desperdício.  A verdade é que as fantásticas reservas estão na Amazônia, longe do centro produtor e longe do maior centro usuário e consumidor. Pior do que a distribuição irregular de água é a sua insipiente gestão. Com uma população de mais de quase 200 milhões de habitantes, o grande desafio brasileiro continua sendo a questão do saneamento ambiental. Somado ao terrível quadro de desperdício, está a poluição dos corpos d´água. Não há eficiência nos serviços de saneamento básico e é dramático o quadro de poluição dos rios que cortam ou margeiam os centros urbanos.

O Estado também ignora a proteção às águas subterrâneas, outro grande patrimônio nacional. Os aquíferos vêm sendo apropriados por grupos econômicos, prefeituras e indivíduos. Sem outorgas, fiscalização e controle, poços são perfurados e abandonados, sujeitos a focos de poluição. As águas subterrâneas representam um outro patrimônio desprotegido institucional e juridicamente em todos os níveis: federal, estadual e municipal.
 
 
PARA REFLETIR
A água nossa de cada dia
 
Caro leitor, para concluir esta abertura, algumas reflexões sobre toda questão que envolve 
os recursos hídricos.
 
▶ A década de 70 foi marcada pelo despertar das preocupações ambientais. Até o início dos anos 80, as questões relacionadas ao uso da água (geração de energia, abastecimento doméstico e industrial, coleta de esgoto e outros) e seu manuseio não levaram em conta as conseqüências ambientais.
 
▶ Hoje não existe mais água no mundo do que havia há 21 séculos, quando a população era menor do que 3% do que é hoje. Se a água vai continuar tendo a mesma quantidade, é bom lembrar que a população continuará crescendo.
 
▶ Mesmo nas regiões caracterizadas como abundantes, a água está se tornando escassa por perder a qualidade. Ela está se deteriorando rapidamente. Essa é uma questão ambiental grave e do momento.
 
▶ Tem-se disseminado a contaminação tanto da água superficial como subterrânea. Por essa razão, para abastecer, por exemplo, a região metropolitana de São Paulo, a água é buscada a mais de 150 km de distância.
 
▶ Foram grandes as agressões que os rios, riachos, córregos e arroios sofreram nos últimos anos. Os mais velhos podem se lembrar do rio de sua terra onde se podia tomar banho, pescar, ou, simplesmente, desfrutar de sua beleza natural. Hoje a maioria deles não passa de um esgoto a céu aberto.
 
▶ Um dado bem moderno: é bom ver uma rua pavimentada e um grande estacionamento de shopping. Melhor do que ver é sentir o conforto. Mas isso tem conseqüências: a pavimentação está diminuindo a capacidade de infiltração de água nos solos, provocando, na hora das chuvas, acúmulo muito rápido do escoamento das águas. Aí, então, fica superada a capacidade de condução de água daquele riacho que serve à nossa cidade. Agravado pelo lixo jogado nas ruas, nos bueiros e nas encostas, o resultado é certo: inundação, destruição de casas e mortes.
 
▶ A verdade é que para utilização de forma sustentável, a água não pode ser retirada de suas fontes em velocidade maior ao que pode ser reabastecido pelo ciclo hidrológico (evaporação, precipitação, escoamento e infiltração) e de sua capacidade de regeneração. Também não pode receber substâncias agressivas fora dos limites estabelecidos pela Resolução do Conama 357/2005.
 
▶ A natureza é sábia e magnânima. Ela sabe que precisa absorver resíduos. Mas tem seus limites. Um lembrete: todas as vezes que lavar suas mãos e utilizar 1 litro de água, saiba que serão necessários pelo menos cinco outros no riacho para restabelecer suas condições naturais.
 
▶ Se no passado recente a crise da água era um pouco mais silenciosa, hoje ela está em evidência. Ela incomoda cidadãos, líderes políticos, governantes, empresários e todos aqueles que têm responsabilidade nos dias de hoje e de amanhã.
 
▶ A lei brasileira é considerada uma das mais avançadas do mundo contemplando as questões básicas da sustentabilidade do uso da água. Mas não se pode fazer a gestão dos recursos hídricos independente da gestão do uso do solo e sem que os usuários participem do processo decisório quanto ao planejamento dos usos.
 
▶ Um outro dado importante: não se pode mais planejar um único uso sem considerar as múltiplas finalidades da água, como abastecimento, geração de energia, navegação, lazer, pesca, proteção ao ecossistema e outros.
 
▶ Sem regulação severa e sem educação ambiental quanto ao manejo efetivo sustentável, não há como promover ações de defesa dos recursos hídricos. Muitas das ações inerentes a recursos hídricos são de longo prazo e requerem tempo e recursos para serem implementadas.
 
▶ A escassez torna a água um bem econômico, em conseqüência abre espaço para que o seu uso seja cobrado.