As Hidrelétricas do Madeira, Jirau e Santo Antônio, prontas para gerar energia, e a gigante Belo Monte, no Rio Xingu, que já ultrapassou a marca de 45% das obras concluídas, atravessaram um caminho polêmico e cheio de contestações. Esses projetos proporcionaram ao Brasil grande aprendizado e renovação tecnológica.
A primeira turbina da Hidroelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, está quase pronta. A inauguração está marcada para o ano que vem. É o ponto final depois de 43 anos de estudos, polêmicas e muitas discussões que envolveram ribeirinhos, técnicos do Ibama, dos Ministérios das Minas e Energia e do Meio Ambiente, construtoras, a imprensa, artistas internacionais, cineastas, a Igreja e sobretudo os índios kaiapós.
A Hidrelétrica Belo Monte vai gerar mais de 11 mil megawatts de energia, o suficiente para abastecer, sozinha, no auge da sua produção, 40% de todas as casas do país. É um projeto complexo que evoluiu ao longo das últimas décadas para se tornar uma forma eficiente de produzir energia limpa com o menor impacto ambiental possível e com a garantia de que nenhuma terra indígena fosse alagada. A Empresa responsável pela obra é a Norte Energia S.A., formada a partir do consórcio entre as empresas Chesf, a Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, Serveng-Civilsan, J Malucelli, Contern Construções, Cetenco Engenharia e Gaia Energia e Participações.
Todas as repercussões negativas nasceram em fevereiro de 1989. Foi durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira-PA, patrocinado pelos Kaiapó, contra as decisões tomadas na Amazônia sem a participação dos índios e contra a construção do Complexo Hidrelétrico do Xingu.
A polêmica instalou-se por dois motivos principais. Do lado a favor, os técnicos do governo garantem que esta era uma obra prioritária para o Brasil. Estratégica para o desenvolvimento do País que já mostra um déficit no seu potencial energético. Já os críticos da obra garantiam que o custo-benefício não compensava, pois a mega-hidrelétrica traz grande impacto social e ambiental.
A verdade é que o novo projeto de Belo Monte ressurge depois de um duro aprendizado com os muitos erros cometidos nas usinas de Balbina, no Amazonas, e de Tucuruí, no Pará. E até mesmo depois do primeiro projeto que foi feito com o nome de Usina de Kararaô. Segundo os técnicos, o novo projeto aproveita a curva e queda natural do rio Xingu e o lago vai ocupar o espaço que todos os anos já é alagado pela cheia natural.
Ficha Técnica da Usina de Belo Monte
Localização: Rio Xingu
Município: Vitória do Xingu
Capacidade mínima instalada: 11.233,1 MW
Garantia física: 4.571 MWmed
Casa de Força Principal: Sítio Belo Monte
Capacidade mínima instalada: 11 mil MW
Garantia física: 4.418,9 MWmed
Casa de Força Secundária: Sítio Pimental
Capacidade mínima instalada: 233,1 MW
Garantia física: 152,1 MWmed
Área do reservatório: 503 km²
Interligação ao Sistema – A casa de força principal (sítio Belo Monte) se conectará ao Sistema Interligado Nacional na Subestação Secionadora Xingu (PA) por meio de cinco linhas de transmissão em 500 kV, circuito simples, com extensão de 17 km. A casa de força secundária (sítio Pimental) se conectará ao Sistema Interligado Nacional na Subestação Altamira, com uma linha de transmissão em 230 kV, circuito simples, com extensão de 61 km.
Tirando as Dúvidas sobre a usina de Belo Monte
Qual o tamanho da Usina de Belo Monte?
Pelo projeto, Belo Monte será a terceira maior usina do mundo, atrás apenas da usina de Três Gargantas (China), com 22,5 mil MW, e da binacional Itaipu (14 mil MW), de propriedade brasileira e paraguaia. Será a maior essencialmente brasileira.
Locais das obras e como é a concepção do projeto?
A Usina de Belo Monte envolve obras em três sítios distintos (Belo Monte, Bela Vista e Pimental). Essa característica faz com que o projeto seja original, uma vez que as grandes hidrelétricas geralmente associam, lado a lado, a casa de força e o vertedouro, no mesmo local de barramento do rio.
Os arranjos que envolvem canais de derivação são mais comuns em pequenas centrais hidrelétricas. Em Belo Monte, o barramento e o vertedouro principal ficarão no Sítio Pimental, onde será instalada também a Casa de Força Complementar, no leito do Rio Xingu, a cerca de 40km da cidade de Altamira (PA).
Desse ponto, por meio de canais de derivação, parte da água do rio será desviada para a Casa de Força Principal, no sítio Belo Monte, para formar o chamado “reservatório dos canais”. Para garantir as condições de segurança na operação da Usina, será construído, no sítio Bela Vista, um vertedouro complementar. Complementa o arranjo um conjunto de diques para fechamento lateral de pontos baixos no reservatório dos canais.
E a complexidade de se desviar o rio?
Quase totalidade das obras poderá ser realizada a seco, uma vez que os sítios Belo Monte e Bela Vista e a região dos diques laterais, dos canais de derivação e do correspondente só serão alagados quando ocorrer o fechamento da barragem principal, no sítio Pimental. Isso acontecerá depois de concluídas todas essas obras, para dar início à geração na Casa de Força Principal.
Qual a área alagada?
O projeto inicial de Belo Monte previa uma área alagada de 1.225 km2, que foi reduzido para os atuais 503 km2, sendo que metade dessa área é o leito natural do Rio Xingu. Essa mudança aconteceu para garantir que nenhum centímetro de terra indígena ficasse embaixo das águas do reservatório de Belo Monte. Para discutir a construção da usina, entre 2007 e 2010, foram realizadas 12 consultas públicas; dez oficinas com a comunidade que vive na área do empreendimento; fóruns técnicos em Belém e no Xingu; visitas a mais de quatro mil famílias; quatro audiências públicas do Ibama, com mais de seis mil pessoas; e 30 reuniões Funai em aldeias indígenas.
Quais as licenças ambientais necessárias?
São necessários três tipos de licenciamento ambiental: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI), e Licença de Operação (LO). De acordo com a legislação, a Licença Prévia deve ser solicitada na fase de planejamento da implantação, alteração ou ampliação do empreendimento. Essa licença não autoriza a instalação do projeto, apenas aprova sua viabilidade ambiental e autoriza sua localização e concepção tecnológica. Além disso, estabelece as condições a serem consideradas nas fases subseqüentes do projeto. A LI autoriza o início da obra ou instalação do empreendimento. A LO será solicitada antes da entrada em operação da Usina.
Qual o investimento para sua construção?
O custo de Belo Monte previsto no leilão que deu à Norte Energia o direito de construir a megahidrelétrica é de R$ 28,9 bilhões. Nesse valor estão incluídas todas as obras e máquinas, que aliás serão fabricadas no Brasil com tecnologia nacional. Apenas em ações de compensação socioambientais a empresa responsável por Belo Monte vai investir R$ 3,8 bilhões. Há ainda um programa chamado Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu que determina que, além desse investimento na mitigação dos impactos, a Norte Energia execute R$ 500 milhões adicionais apenas em projetos que promovam o desenvolvimento da região da usina.
Qual será a tecnologia utilizada na geração de energia?
Belo Monte vai operar o que se chama a “fio d’água”, ou seja, sem reservatório de acumulação. Serão utilizados dois tipos de turbinas: Francis e Bulbo. Na Casa de Força Principal será utilizada a turbina Francis, própria para desníveis entre 40 e 400 metros. A queda observada no local será de 90 metros. A unidade geradora a ser usada na Casa de Força Complementar, no Sítio Pimental, utiliza turbinas hidráulicas tipo Bulbo de eixo horizontal, acoplada a um gerador, também horizontal, que se encontra dentro de uma cápsula metálica estanque, totalmente imersa no fluxo hidráulico. A queda na casa de força complementar será de 11,5 metros.
Como a energia vai fazer parte do Sistema Interligado Nacional?
Esse sistema permite o intercâmbio de energia produzida por todas as usinas interligadas. No caso de Belo Monte, a interligação ao SIN deverá ser feita por cinco linhas de transmissão em 500kv, com extensão de aproximadamente 17 km, operando em corrente alternada. O ponto de interligação com a Rede Básica será a subestação secionadora Xingu, que faz parte da interligação Tucuruí-Macapá-Manaus. A partir desta subestação partirão as interligações previstas com as regiões Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste.
Haverá compensação financeira para o Estado e os municípios afetados pela usina?
Sim. A estimativa de Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH) a ser gerada pelo empreendimento é da ordem de R$ 174,8 milhões. O valor será rateado em proporções legalmente instituídas entre a União, o Pará e os municípios diretamente afetados.