Universidade Intercultural Indígena

Índios querem gerir os próprios territórios

22 de abril de 2014

Professora Macaé – Entrevista

“O desenho dos territórios etnoeducacionais é um novo modelo, que ultrapassa as fronteiras municipais e estaduais, uma nova forma de pensar a gestão pública considerando a população indígena”. 
Professora Macaé
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A professora Macaé tem vasta experiência na área de serviço social e políticas pedagógicas. Graduada pela PUC-Minas, é Mestra em Educação pela UFMG e atualmente Secretária de Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação, atuando nos seguintes temas: política educacional, movimentos sociais, inclusão e pluralidade cultural. O objetivo é reduzir os indicadores de desigualdades educacionais.
 
 
 
FMA – O debate começou, mas quando começarão os estudos para a implantação da Universidade Intercultural Indígena?
Professora Macaé – O debate sobre a implantação da UII acontece nas Conferências Regionais, na Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena. Isso além dos debates  realizados nos próprios cursos de licenciatura intercultural. 
Portaria do MEC  nº 52, de 24 de janeiro de 2014, instituiu um Grupo de Trabalho com a finalidade de realizar estudos sobre a criação da instituição de educação superior intercultural indígena que promova, por meio do ensino, pesquisa e extensão, atividades voltadas para a valorização dos patrimônios epistemológicos, culturais e linguísticos dos povos indígenas, a partir de  demandas e necessidades.  O GT se reuniu no dia 17 de março agora e definiu uma série de atividades. Inclusive um cronograma de ações. A Reunião Ordinária da Comissão – CNEEI, está prevista para os dias 27 e 28 de maio de 2014. 
FMA – Quais as principais matérias ou temas de uma Universidade Indígena? 
Profa. Macaé – Os povos indígenas do Brasil querem mais que a formação específica de professores, que já é oferecida por 20 universidades públicas. Querem cursos nas áreas de saúde, gestão territorial, direito,  ciências sociais e humanas, entre outras. 
A criação de territórios etnoeducacionais, por exemplo, gerou a necessidade de qualificação em gestão, que é reivindicada por diversos povos indígenas. Eles querem se preparar para coordenar a gestão dessas áreas.  As comunidades indígenas querem gerir territórios em áreas comprometidas ambientalmente, cuja gestão sustentável necessita de conhecimentos  em engenharia florestal.  
Querem do estudo e do fomento a pesquisas sobre as diversas línguas indígenas, na modalidade  oral e escrita,  as formas tradicionais de construção de moradias, a produção de artefatos e a recuperação de espécies diversificadas de alimentos. Tais estudos e pesquisas demandam profissionais como professores, linguistas, biólogos, antropólogos, historiadores, engenheiros florestais e agrônomos.
 
FMA – Qual o potencial de alunos em todo o Brasil para buscar a Universidade?
Profa. Macaé – O Censo Escolar/2013 registra 238.113 matrículas de estudantes indígenas na educação básica, fato que possibilita o acesso ao ensino superior, anseio de jovens de todas as etnias.  
Lideranças de diversos povos manifestam interesse de terem jovens de sua população em cursos superiores para garantir um diálogo menos desigual em relação aos códigos da sociedade não indígena. Nesse sentido, a Universidade Intercultural Indígena torna-se  um ambiente propício e estratégico para organização dos saberes indígenas,  além da construção de  conhecimento relacionados às áreas  especificas de cada curso.