SEMANA DO ÍNDIO

A hora da Universidade Intercultural

22 de abril de 2014

Marcos Terena: “Nosso sonho é buscar pelo conhecimento e pela educação o poder de formar gente, superar obstáculos ainda intransponíveis na formação da população indígena”.

“Posso ser o que você é, sem deixar de ser quem sou!”
Slogan criado como resposta da juventude indígena diante da ordem do General Golbery do Couto e Silva em mandar de volta para as aldeias os jovens índios que estudavam e se politizavam. 
 
 
 
Marcos Terena, o mais importante líder indígena brasileiro e respeitado em todos os fóruns mundiais que participa, explica que ainda existem muitas armadilhas a serem superadas pelos jovens índios que buscam se firmar nesse novo tempo. Lembra Terena que “apesar de todas as formas de discriminação, diversos jovens conseguiram superar essas armadilhas sociais e se firmaram como ícones nesse esforço de gerar uma ciência social, humana, ambiental e moderna através de uma Universidade Indígena”.
 
 
 

Universidade Indígena
Em novembro do ano passado, o Ministério da Educação criou um Grupo de Trabalho onde estão diversas personalidades do mundo educacional ligados à Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFBA (Bahia), UFMG (Minas) e Unicamp (Campinas), que com os índios Davi Yanomami e Weibe Tapeba, começaram a estudar a criação da primeira Universidade Intercultural Indígena. Marcos Terena explica que o desafio não era fácil. “Nosso objetivo era criar uma instituição forte com capacidade científica, administrativa e política tal como as universidades dos católicos, protestantes, militares ou privadas. Mas, muito importante, com uma identidade indígena com os conhecimentos tradicionais, as culturas, ou seja, o ajuntamento do moderno e do tradicional”.
Dentro deste objetivo, salienta Marcos Terena, “está a superação de velhos preconceitos e do conservadorismo acadêmico. Nosso sonho é buscar pelo conhecimento e pela educação o poder de formar gente, superar obstáculos ainda intransponíveis na formação da população indígena”.
Voltando no tempo, Terena lembra que em 1981 um grupo de 15 jovens dava início a tudo isso, em Brasília, com a União das Nações Indígenas. “O único a perceber o chamado risco étnico e a montagem de um primeiro movimento indígena politizado foi o General Golbery do Couto e Silva – recorda Terena –  que por isso mesmo determinou à Funai a expulsão imediata de todos os jovens índios para seus lugares de origem. 
A resposta da juventude indígena foi tão forte que criaram, na época, um slogan: “Posso ser o que você é, sem deixar de ser quem sou!”
A semente foi lançada e hoje existem quase três mil jovens índios em Universidades. Centenas deles já formados, inclusive com Mestrados e Doutorados. Daí que momento é propício para a criação da Universidade Intercultural Indígena.