PARQUE ESTADUAL DO JUMENTO

20 de maio de 2014

O parque quer proteger os jumentos, recolher os animais abandonados e fazer do local uma atração turística

“O jumento sempre foi o maior desenvolvimentista do sertão”.
Luiz Gonzaga, Rei do Baião
 
 

Numa fazenda administrada pelo Departamento de Trânsito do Ceará, em Santa Quitéria, a 222 km de Fortaleza, com o apoio da Ong ONE VOICE (francesa) e com o trabalho de conscientização da população, Geuza lutou e conseguiu a criação do primeiro parque de preservação dos jumentos. 
Não foi fácil, mas Geusa foi atrás de apoio político e mobilizou e conscientizou a população sobre a importância do jumento para a região. A defesa do Parque de Preservação do Jumento tinha três finalidades principais: proteção dos jumentos, recolhimento dos jumentos abandonados nas estradas e também fazer do local uma atração turística para movimentar a economia do município.
“Quando se fala em proteção e adoção de animais, cães e gatos são a 1ª opção. Dificilmente as pessoas se preocupam com outras espécies, como por exemplo o jumento que sofre maus tratos de toda ordem e ainda são abandonados e passando fome por aí”, explica Geuza Leitão
Outro anjo da guarda dos jumentos é  Eduardo Aparício, voluntário da Uipa, que tem se empenhado pela causa e constantemente conversa com autoridades locais para fazer campanhas de reconhecimento e proteção desses animais. Recentemente, exibimos para a população o documentário “JUS – Um Filme sobre Jumentos”, de Marcelo Dídimo, com o objetivo de conscientizar e informar as pessoas para a proteção da espécie.
 
“Quando se fala em proteção e adoção de animais, cães e gatos são a 1ª opção. Dificilmente as pessoas se preocupam com outras espécies, como por exemplo o jumento que sofre maus tratos de toda ordem.
Geusa Leitão

 

Perigo grave nas estradas

 

Geusa Leitão explica como nasceu o projeto do Parque dos Jumentos. O DER do Ceará era responsável por recolher os animais nas estradas. Os jumentos eram levados para um cercado em uma unidade do DER, mas logo eram soltos. Com isso, os animais voltavam para as estradas. Em 2009, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) assumiu a responsabilidade. Para isso, o governo do estado cedeu a fazenda Doutor Paula Rodrigues, em Santa Quitéria, para abrigar esses animais recolhidos nas estradas.

Hoje temos um mutirão para recolher e proteger os jumentos. Eduardo Aparício explica que para realizar esse trabalho, existem  várias equipes que trabalham em conjunto: os laçadores, que retiraram os animais das ruas; os veterinários, responsáveis pela vacinação e vermifugação dos animais; os cuidadores, que distribuem a alimentação; e voluntários, que doam seu tempo em prol da causa. 
A fazenda Doutor Paula Rodrigues, em Santa Quitéria, tem 500 hectares e três açudes. Já chegou a abrigar 10 mil jumentos. Atualmente mantém cerca de 5 mil. O milho, base da alimentação dos jumentos, é comprado em cidades do interior do Ceará, com base no menor preço de mercado, e transportado pelos caminhões cedidos pelo Detran. 
 
▶Mobilização internacional
Em 2012, o Brasil assinou um acordo com a China para vender 300 mil jumentos por ano. Na China, o animal é uma iguaria para a indústria alimentícia. O setor de cosméticos também aproveita o jumento como matéria-prima de produtos de beleza e para testes de laboratório. O fato gerou várias manifestações contrárias no Brasil, Portugal, Inglaterra e França. Até Brigitte Bardot entrou na guerra.
A atriz francesa, defensora dos animais, quando soube do fato, redigiu uma carta e enviou à presidente Dilma Rousseff pedindo clemência e solicitando que o acordo fosse desfeito. A atriz não obteve resposta, mas por conta das manifestações e muitos pedidos, o acordo acabou sendo desfeito.
 
 
No Ceará, Parque dos jumentos.
No Rio Grande do Norte, abate
Promotor do Rio Grande do Norte quer  incentivar o consumo de carne jumento
 
 
A polêmica chegou ao Rio Grande do Norte. A proposta do abate dos animais seria uma alternativa para o problema causado pelos jumentos abandonados nas estradas. A proposta de um promotor em incentivar o abate de jumentos para o consumo da carne, na tentativa de resolver o problema desses animais nas estradas do Rio Grande do Norte, está dando o que falar.  A ideia é polêmica, mas qual seria a alternativa para solucionar a questão dos animais sem dono? O número de animais soltos pelas estradas do estado levanta a dúvida: o jumento perdeu a serventia? Uma população inteira sem dono virou andarilha por caminhos perigosos. O jumento sai em busca de água e comida. Muitas vezes cruza a rodovia na intenção de encontrar mais fartura do lado de lá.
Reportagem do GLOBO RURAL mostrou que são tantos animais vagando pelas margens  das rodovias, que no fim do ano passado, uma reunião entre representantes do Ministério Público, da Polícia Rodoviária, dos criadores e de Associação de Protetores de Animais, determinou a captura sistemática deles na região da divisa entre Rio Grande do Norte e o Ceará.
As polícias rodoviárias, federal e estadual fazem uma operação a cada quinze dias, recolhendo os animais abandonados. Não é só jumento que vai parar na estrada, mas ele é maioria absoluta e é quem dá mais trabalho aos laçadores.
Só nos primeiros 30 quilômetros de estrada, a operação recolheu 18 animais. Em um dia inteiro, pode chegar a quarenta. Para o capitão da Polícia Rodoviária Estadual, Maximiliano Fernandes, a retirada está dando resultado e já aparece nos índices de acidentes envolvendo animais nesses locais.
“Para se ter uma ideia, nós tivemos nos três primeiros meses de 2013 em torno de dez acidentes nas rodovias estaduais. No ano de 2014, nós tivemos apenas quatro”, informa Maximiliano Fernandes.

 

Consumo de carne de Jumento?

Mais polêmica!

A decisão de incentivar o abate desses animais para consumo da carne criou polêmica. Quem está incentivando a ideia do abate é o promotor do Ministério público da comarca de Apodi,  Sílvio Brito. Ele quer que os animais abandonados sejam abatidos e consumidos pela população. Só que essa decisão esbarra em alguns problemas.

A lei determina que o abate de jumentos seja feito em frigoríficos que tenham SIFE – Serviço de Inspeção Federal. Atualmente, no Rio Grande do Norte não existe nenhum estabelecimento autorizado. Nem mesmo no abatedouro de Parnamirim, que é um dos maiores do Nordeste, tem permissão para abater jumentos.
De acordo com o responsável pelo frigorífico, várias adaptações teriam que ser feitas, para adequar o trabalho. “Certeza que nós deveríamos destinar uma área exclusiva para isso, e fazer uma capacitação de pessoal, porque já que não é uma atividade comum, não é da nossa cultura abater essa espécie, nós precisamos treinar nossa equipe”, avalia Nicolai Saraiva, gerente do frigorífico. O promotor Sílvio Brito justifica a ideia do abate. “A medida que fomos recolhendo esses animais fomos vendo que o problema tinha uma dimensão muito maior do que a gente imaginava.  Estávamos tratando de dezenas de milhares de animais. Logo vimos que o simples acolhimento, não era economicamente viável. Imagina o que é manter animais que vivem 30, 40 anos em cativeiro custeado o tempo todo ou  por particulares ou pelo estado?”
 
▶Respeito ao jumento
As associações de proteção aos animais discordam da decisão da promotoria e querem que os jumentos tenham outro destino. “Hoje nossa região já consome entre 70 e 80% da carne clandestina. Ou porque foi abatida em local irregular, ou porque não teve acompanhamento adequado. Incluir mais um animal nessa lista de carne clandestina não vai resolver problema algum. Muito pelo contrario”, comenta Kléber Jacinto, ambientalista.
 
“O jumento é o representante nordestino, é um animal forte, então culturalmente eu acho que a gente deveria resgatar o respeito ao animal”, lembras Kátia Lopes, veterinária.