Valor paisagístico e arqueológico

Parque da GANDARELA

25 de junho de 2014

Para atender os interesses da VALE o parque pode nascer mutilado

"A Vale do Rio Doce já afia as suas garras tentando se transvestir de ecologista objetivando a criação do Parque Nacional do Gandarela com reservas de áreas para a mineração que anularão os esforços já desenvolvidos. "

Fotos de: ALINE TAVARES (inclusive da capa)

“A terra é azul”, um poema quase hai kai disse o astronauta Yuri Gagarin o primeiro homem a ir ao espaço sideral. Porém a casa comum de todos nós parece estar se tornando cinzenta com o nível de agressões praticadas contra a natureza.
A continuar o processo o próprio homem se encarregará de destruí-la desempregando os quatro cavaleiros do apocalipse anunciados do evangelho de João. Daí o reconhecimento nacional a atitude do prefeito municipal de Rio Acima, Antônio César Pires de Miranda Júnior em tombar provisoriamente a Serra do Gandarela, situada neste município da Região Metropolitana de Belo Horizonte a exatos 27 quilômetros da Capital. Ele agora segue em busca do tombamento definitivo e da transformação do sítio em parque nacional.
Mas tem uma pedra no meio do caminho. A Vale do Rio Doce já afia as suas garras tentando se travestir de ecologista objetivando a criação do Parque Nacional do Gandarela com reservas de áreas para a mineração que anularão os esforços já desenvolvidos. Eike Batista não dorme e nos obriga a todos a ficar de olhos abertos. O projeto neste sentido já se encontra em Brasília.
 
 
Se for mutilizado em seus limites, o Parque Nacional da Serra da Gandarela perderá também seus principais atributos ambientais. 
 
 
Interesse da VALE é crucial para Gandarela
 
O governo federal quer criar o Parque Nacional da Serra do Gandarela. Mas a pedra teima em continuar no meio do caminho. Para atender os interesses da mineradora VALE, o parque pode nascer mutilado. E mais: pode também desrespeitar toda a negociação acerca da criação da RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável), adjacente ao Parque e pedida pelas comunidades.
Se isso acontecer, será muito difícil depois reverter para o Parque Nacional às áreas tomadas a ficar em poder da Vale e haverá muito trabalho para impedir o licenciamento da Mina Apolo e outros empreendimentos na região da Serra do Gandarela deixada de fora da proteção. Com essa mutilação em seus limites, o Parque Nacional da Serra do Gandarela perderá também seus principais atributos ambientais, como o importante aquífero que fornece água em grande quantidade e ótima qualidade e suas outras inigualáveis singularidades. 
 Nesta empreitada de preservação (no local encontram-se áreas originais da Mata Atlântica) o prefeito de Rio Acima abriu outro processo de tombamento no sítio paisagístico e arqueológico da Fazenda Velha. É outra luta contra a VALE. 
 
SERRA DO CURRAL
Na cronologia geológica este monumento natural de valor inestimável. A região já foi fundo de mar, legado à humanidade (Serra do Gandarela), data do período pré-cambriano (500 milhões de anos), fazendo parte  das divisões que assinalam a idade da terra. Debaixo da sua camada de húmus que possibilita a exuberância de três biomas, mata atlântica, cerrado e canga, no corte do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais vamos encontrar o gandarelo mineiro, o itabirito cauê e outras formações até chegar à cobiçada hematita que dá origem ao ferro e ao aço.
O fato é que a VALE quer transformar este paraíso num verdadeiro inferno de Dante. Igualzinho foi feito com a Serra do Curral em Belo Horizonte, onde, terminada a exploração mineral, a serra símbolo de Beagá, transformou-se em autêntico “Out-door”, no seu reverso apresentando verdadeiras crateras lunares com a formação de um lago de rejeitos a apresentar desmoronamentos com riscos para o próprio monumento natural.
O topo da Serra do Gandarela com a sua conformação geológica do gandarelo mineiro apresenta uma alta concentração de calcário de mais fácil solubilidade que a transforma em verdadeiro aquífero de onde jorram 82 cachoeiras a criar um manancial que abastece diversos municípios circunvizinhos e dessedenta pelo menos 65% da população belorizontina.

 

Riqueza diversificada
 
Nos dois monumentos naturais, em fase de tombamento provisório, a paisagem é indescritível. Onça pintada, onça parda e tamanduá? Existem.Borboletas multicores, pássaros canoros e uma variedade incrível de répteis também. Jaguariticas, raposas, macacos bugios com as suas caras tristonhas, micos-estrela com fisionomias peraltas, pacas, capivaras, temos também.
No que diz respeito à flora, biólogos garantem que ainda existem várias espécies ainda não classificadas. Especialistas detectaram na Serra do Gandarela paliotocas (do grego antigo pálios + tocas), que abrigaram tatus gigantes que habitaram estas paragens há 10 milhões de anos. O grupo de estudiosos informa da existência igualmente de mamutes e outros animais. Mas a fé que remove montanhas, levada ao pé da letra pelo senhor Eike Batista, entende que todo este patrimônio pode ser transportado para outras paragens. 
Jornais da grande mídia de Minas já começam a divulgar “benefícios” originários da mineração para outras cidades do mesmo porte de Rio Acima e publicidade alegando que o governo das Gerais é o que “mais preserva resíduos da Mata Atlântica”. Porém omite que os pequizeiros, protegidos por Lei Federal são fartamente abatidos, a começar de outra cidade da Região Metropolitana, Lagoa Santa, onde a especulação imobiliária reina soberana.