PARQUE ESTADUAL DO RIO PRETO

RIO PRETO…e assim se passaram 20 anos

25 de julho de 2014

Num padrão FIFA de gestão, Tonhão [Antônio Augusto de Almeida] faz de uma área degradada o Parque Estadual do Rio Preto, referência em unidade de conservação em Minas.


 

Carvoeiros, garimpeiros, caçadores, moradores e visitantes
se descobriram botânicos e naturalistas informais e intuitivos. 

 
O jovem zootecnista pela Universidade de Viçosa Antônio Augusto de Almeida, recém-saído de um mandato como prefeito de São Gonçalo do Rio Preto (1989-1993), já havia assumido o apelido de Tonhão que o acompanhava desde menino e a missão de preservar dos maus tratos o rio Preto, nas cabeceiras da bacia do rio Jequitinhonha. Contagiou com seu entusiasmo o professor Célio Murilo Valle, diretor do Instituto Estadual de Florestas, e José Carlos Carvalho, Secretário do Meio Ambiente de Minas Gerais na época. 
Num padrão FIFA, voltado para interesses mais nobres, a lei de criação do Parque Estadual do Rio Preto foi sancionada em 1994 pelo então governador Hélio Garcia, com apoio dos proprietários e moradores da região. Numa ação catártica, os 18 fornos que queimavam o cerrado foram imediatamente demolidos. Vestígios da carvoaria são ainda visíveis na área de estacionamento, nas proximidades do restaurante e dos alojamentos.
 
 
 
Tonhão ao lado de dona Jaci Ribeiro
 
 
Tonhão, um líder natural, alterou a história de vida dos moradores ao implantar a filosofia pioneira de aproveitar o conhecimento dos habitantes da região na formação de sua equipe de apoio. Carvoeiros, garimpeiros e caçadores se descobriram botânicos e naturalistas informais e intuitivos. E alterou também a história de todos nós, visitantes, que além dos atrativos naturais podemos conviver com a solidariedade e a alegria dessas pessoas, características já quase extintas nos centros urbanos.
 
Bolo de aniversário e a Caminhada Ecológica
No dia 21 de junho último, a “Caminhada Ecológica e Mutirão de Limpeza” realizada anualmente teve sabor especial: um bolo de aniversário para comemorar os 20 anos da criação do Parque. Cerca de 200 caminhantes e ciclistas percorreram os 20 e poucos quilômetros até a área de acampamento do Parque. 
Dona Jaci Ribeiro é cunhada do antropólogo, escritor e ex-senador Darcy Ribeiro (1922-1997). Mantém residência no entorno do Parque com nome inspirado em Guimarães Rosa: “Nonada de Jaci”. Como sempre, Dona Jaci abençoou os caminhantes com um lanche farto e revigorante e atenuou o desgaste da caminhada com um apoio providencial. 
Palestras educativas, sorteios e atividades lúdicas, sob orientação dos alunos  da UFVJM – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – Bruno, Adão, Leandro e Pedro, que esbanjaram simpatia e competência, antecederam os sanduíches, pães-de-queijo,  refrigerantes e o bolo de aniversário que encerraram as comemorações. No rastro dos acontecimentos foram apresentados o guia “Encantando-se com Sapos – Um Guia de Anfíbios para Iniciantes”, escrito pela bióloga e pesquisadora Isabela Menezes Barata, e um vídeo fantástico das atividades dos verdadeiros moradores das ocas e das lapas do Parque, capturadas pelas câmeras instaladas e monitoradas no Parque pela Biotrópicos, sob a responsabilidade de Fernando Ferreira de Pinho. Tonhão, gerente do Parque desde sua criação, sintetiza a fugacidade desses 20 anos numa frase assustadora: ‘Moço, parece que todo dia é sexta-feira”.
 
 
 

Fornos para produção de carvão,
hoje área de estacionamento do Parque.
 
 
 
 
 
 
 
 
O Parque gera recursos para o município
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caminhantes, palestra educativa e sorteios
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cachoeira da Sempre-Viva,

no Côrrego das Éguas

 

 

 

 

 

 

 

 

Cachoeira do Crioulo

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Já na aproximação do parque do rio preto, os avisos à beira da estrada cativam o espírito do visitante. A miríade de flores simples, belas, incomuns, flutuantes nas encostas quentes (nesta época do ano) encurtam os 6,5 km até a Cachoeira do Crioulo. O banho refrescante repõe as energias para serpentear pelo leito rochoso em busca da Cachoeira Sempre-Viva
 
Carta dos visitantes Joaquim Barros 
e Núbia Lares, de Fortaleza – CE

 

CARTA AO TONHÃO

Depoimento de um visitante:  “Visitar o Parque Estadual do Rio Preto
reavivou meu universo perdido”.
 
 
"Tive o privilégio cruzar com as pegadas dos lobos guarás aí no Parque Estadual do Rio Preto entre os dias 26 e 29 de dezembro de 2012, em companhia da minha esposa Núbia, uma mineira de Janaúba. O convite nos foi feito pelo amigo Fernando Serpa que há uns dois anos nos estimulava a conhecer este paraíso e que também nos acompanhou.
Já na aproximação do parque, os avisos à beira da estrada cativam o espírito do visitante. A miríade de flores simples, belas, incomuns, flutuantes nas encostas quentes (nesta época do ano) encurtam os 6,5 km até a Cachoeira do Crioulo. O banho refrescante repõe as energias para serpentear pelo leito rochoso em busca da Cachoeira Sempre-Viva. Massagear as costas nos jatos da queda d’água e o repouso no poço logo abaixo trapaceia a fadiga muscular da longa jornada. 
Mas o encantamento ainda estaria por vir: piabanhas   a circundar-nos quando nos aquietamos imersos nas águas da Prainha, apenas cabeça fora d’água. Alguns visitantes se queixaram das mutucas, porque ainda não compreendem a rica natureza, se reparassem nos voos da piabanhas capturando mutucas, talvez pudessem entender que problemas aparentes são na verdade são pedras-de-toque do equilíbrio, um chapéu de palha na cabeça, mutucas barradas, concentração em mirar o balé das piabanhas. Não tem preço!  Para mim, o maior benefício de ter ido ao Parque do Rio Preto foi constatar o zelo de Minas, por meio do IEF, em preservar o Rio Preto. 
Macacos, veados, tatus, cotias, tamanduás, jacus, jaós, sussuaranas, pacas, lontras, caninanas, surucucus, pega-pinto,   frutas silvestres, flores campesinas nem eram novidades por toda a minha adolescência , vivida, no interior do Maranhão. Vivi em uma propriedade rural às margens de um córrego límpido, nos confins das terras que separam a bacia do Rio Tocantins da bacia do Rio Mearim. Depois da BR 226, aberta nos anos 70, tudo por lá foi dizimado. Visitar o Parque Estadual do Rio Preto reavivou aquele universo perdido. 
Isto posto, agradecemos a todos os que nos receberam nesse parque e cuidaram para que a nossa estada fosse a melhor possível (Cleusa, Ção, Elizardo, Marcelino, as crianças, e os que aqui omitimos por lapso de memória mesmo). Aproveitamos o ensejo para lhes encorajar a vetar o uso de protetores solares no interior do parque, assim como já são vetados os sabonetes e shampoos. Roupas claras, leves, longas, chapéus com panos, protegem da exposição solar e não agridem as águas do Rio. Miremos nos habitantes dos desertos, a natureza agradece. É do nosso interesse retornar a esse rincão de natureza.
Joaquim Barros  e Núbia Lares – Fortaleza – CE

 

Atrativos e história sobre a criação do parque

Aspectos gerais do Parque do Rio Preto

Está localizado na Serra do Espinhaço, no município de São Gonçalo do Rio Preto, a 350 km de Belo Horizonte.  O município tem cerca de 4 mil habitantes e sua origem remonta a uma sesmaria pertencente ao Contratador dos Diamantes João Fernandes de Oliveira, famoso por seu romance com Chica da Silva. Desde o século XVIII, São Gonçalo, conhecida como Rio Preto, era um dos principais produtores de alimentos para os garimpeiros do Arraial do Tijuco (hoje Diamantina) e região. O município emancipou-se de Diamantina em 1962. O nome Felisberto Caldeira, uma homenagem ao Contratador de Diamantes Felisberto Caldeira Brant, vigorou até meados da década de 1980, quando um plebiscito permitiu que seus conscientes habitantes retomassem a antiga denominação.
Diante da ameaça do garimpo, uma lei municipal de 1991 transformou o rio Preto em rio de preservação permanente. O Parque Estadual do Rio Preto foi criado em 1994 e é administrado pelo Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais.
 
Atrativos turísticos
 
O Parque conta com inúmeros atrativos turísticos, todos com surpreendente beleza, destacando-se as cachoeiras do Crioulo e da Sempre-Viva, as pinturas rupestres e os mirantes naturais que irão permitir aos visitantes a contemplação de toda a área. 
O   rio Preto possui como cobertura vegetal nativa, os campos de altitude, os campos rupestres, os cerrados, os cerradões e as matas de altitude, tipologias vegetacionais, que cobrem mais de 99,5% da área. 
Na área do Parque predominam espécies vegetais importantes do estrato arbóreo como o pau-d’óleo, a sucupira, o ipê, o cedro, o jatobá, o ingá, a candeia, esta última bastante freqüente em áreas de transição entre a mata e os campos de altitude.
A extraordinária beleza cênica do parque, com seus imensos afloramentos rochosos, formações vegetais exuberantes, inúmeras cachoeiras e piscinas naturais, conferem à área enorme potencial para visitação e turismo ecológico.
As nascentes do rio Preto e de seu principal afluente, o Córrego das Éguas, assim como o Pico Dois Irmãos de 1.825m de altitude estão abrigados na área de 12 mil hectares do parque. 
Depois de atravessar o município de São Gonçalo, retribuindo o respeito com que é tratado na forma de muitos poços e praias imaculadamente brancas protegidos por mata ciliar ainda preservada, o rio Preto deságua no Rio Araçuaí, um dos principais afluentes do rio Jequitinhonha
 
 

 

Como chegar ao Parque

▶De Diamantina, pegar a BR-367 em direção a Couto de Magalhães de Minas (antiga Rio Manso). 
Aproximadamente 9 km após Couto de Magalhães, tomar a MG-214, para São Gonçalo do Rio Preto. 
De Rio Preto seguir a sinalização até o parque. 
 
Mais Informações 
O parque tem excelente estrutura para receber pesquisadores e visitantes. Telefone da Coordenadoria de Unidades de Conservação e de Pesquisas Científicas e do Instituto Estadual de Florestas, em Diamantina: (38) 3531.3919
 
 
 
 
 
 
 
Mamíferos do Parque do Rio Preto
 
Fernando Ferreira de Pinho (*)
 
A perda e a fragmentação de habitats naturais são as principais ameaças à diversidade de mamíferos no Brasil e no mundo. Cada vez mais, a ocorrência de várias espécies, principalmente as mais sensíveis às alterações ambientais, está se restringindo às Unidades de Conservação. Os grandes mamíferos, especialmente, são fortemente afetados pela perda de habitats naturais, já que necessitam de grandes áreas para manter populações viáveis mínimas, ou seja, um tamanho mínimo de uma população que tenha uma alta probabilidade de reprodução por um longo período.
 
O Parque Estadual do Rio Preto (PERP) é um importante refúgio para a fauna de mamíferos do Espinhaço. Inserido no Mosaico de Áreas Protegidas do Espinhaço, a Unidade de Conservação, que já tem 20 anos desde sua criação, compreende uma heterogeneidade ambiental e um grau de conservação que permite a ocorrência de uma ampla diversidade vegetal e animal.
Entre maio e novembro de 2013, realizamos uma amostragem dos mamíferos de médio e grande porte do Parque, utilizando câmeras automáticas. Estas câmeras possuem sensores que ativam a filmagem quando detectam a presença dos animais. Durante o estudo utilizamos 51 câmeras, distribuídas por toda extensão do Parque e da Reserva Particular de Patrimônio Natural Raiz. Obtivemos um total de 220 vídeos de 18 espécies silvestres de mamíferos de médio ou grande porte.    
O alto índice de registros de espécies ameaçadas de extinção, como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará, a onça-parda entre outras espécies, ressalta a importância do Parque  do Rio Preto para a conservação da biodiversidade. Se o grau de conservação da vegetação do parque contribui para a persistência destes mamíferos na Unidade de Conservação, a recíproca também é verdadeira. Devido à direta relação com dispersão de sementes, controle de herbívoros e ciclagem de nutrientes, grandes mamíferos têm papel fundamental na funcionalidade do ecossistema. 
Outra espécie também ameaçada, o tatu-canastra, representa um papel importante nessa funcionalidade. Estudos recentes mostram que diversas outras espécies utilizam tocas escavadas por esta espécie, o que lhe rendeu o apelido de “engenheiro do ecossistema”.
Pretendemos com este estudo avaliar padrões na distribuição de mamíferos de médio e grande porte no Cerrado e entender quais são os fatores que determinam esses padrões. O padrão de distribuição e a influência de variáveis ambientais sobre as espécies são elementos chave para a ecologia e pré-requisitos básicos para manejos efetivos da vida silvestre. A pesquisa é parte da Rede ComCerrado, uma rede de pesquisas com diversos núcleos distribuídos pelo bioma Cerrado, que tem a finalidade de preencher lacunas do conhecimento do bioma. O núcleo Biotrópicos/UFVJM é responsável pelas pesquisas no Parque.
 
(*) Fernando Ferreira de Pinho  é estudante de mestrado em  Ecologia de Biomas Tropicais da 
Universidade Federal de Ouro Preto e pesquisador do Instituto Biotrópicos
 
N.R: o vídeo está em fase final de edição e estará disponível no canal do Instituto Biotrópicos no Youtube (youtube.com/biotropicos) no próximo mês.
 
 
 


ARMADILHAS SELVAGENS

Os biólogos e pesquisadores usam de todas artimanhas para conhecer e acompanhar a vida dos animais silvestres. Uma das principais ferramentas são as armadilhas fotográficas, por ser um método de estudo extremamente eficiente, rápido e nem tão dispendioso assim. 
 
As armadilhas fotográficas são câmeras armadas com sensores infravermelhos que detectam movimento dos animais com a finalidade de registrar em foto ou vídeo sua vida noturna ou diurna, seus costumes e seus hábitos. A importância do método está na documentação real da vida dos bichos, pois o trabalho dos cientistas não interfere na movimentação dos animais. Segundo o pesquisador Fernando Ferreira de Pinho (ver texto anexo) as armadilhas fotográficas são importantes na conservação da vida selvagem. Justamente porque é uma forma de monitorar e documentar o comportamento de animais selvagens em seu habitat natural. 
A tecnologia faz com que as armadilhas fotográficas cumpram um papel importantíssimo hoje nos estudos dos animais selvagens. 
As câmeras são de muita precisão podem suportar calor, exposição ao sol e a chuva, são à prova d’água, e ainda por cima são digitais, proporcionando foco e boa resolução.  
(Silvestre Gorgulho)