BRASÍLIA DO ANTES

27 de agosto de 2014

Luiz Cruls, Machado de Assis, JK e Jaime Sautchuk

“Tenho a mais absoluta convicção de que a mudança da capital, a par dos interesses políticos que a ela se prendem, resultará para o Brasil, sua prosperidade e desenvolvimento futuro, as mais benéficas consequencias, que atualmente ninguém pode avaliar”.
Luiz Cruls

 

 
 
 
Brasília, a bem da verdade, foi a primeira cidade do mundo a ter um Relatório de Impacto Ambiental. 
Sim, a Missão Cruls ou Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, chefiada pelo astrônomo belga  Luiz Cruls e composta por 22 cientistas, fez mais que demarcar, em 1892, o o quadrilátero do futuro Distrito Federal. Com rigor científico, a Missão produziu mapas, croquis do relevo e de rios, além de estudos da fauna e da flora. 
A viagem da Missão foi incrível. Cruls e seus cientistas saíram do Rio de Janeiro de trem e foram até a última estação mais próxima às terras da futura capital: Uberaba. 
De Uberaba percorreram 5.132 quilômetros em lombo de mulas, carregando instrumentos, equipamentos, alimentos, vestimentas e livros. 
Na pagina seguinte veja alguns pontos interessantes baseados no livro “CRULS – Histórias e andanças do cientista que inspirou JK a fazer Brasília”, do jornalista Jaime Sautchuk:
 
 
Trechos baseados no livro “CRULS – Histórias e andanças do cientista que inspirou JK a fazer Brasília", de Jaime Sautchuk
 
▶ A primeira localidade de maior porte encontrada pela missão foi Catalão, uma das mais antigas cidades de Goiás, com origem na expedição de Bartolomeu da Silva Filho, o Anhanguera 2, lá por 1728, apenas dois anos após a fundação de Vila Boa, que se tornou a capital da Província de Goiás.
 
▶ Em Pirinópolis, Cruls se ocupou principalmente da escalada do pico do Pirineus. Reabasteceu a tropa e organizou o novo trecho da viagem, rumo a Formosa. 
 
▶ Para subir e descer o Pirineus foram gastos três dias e duas noites.
 
▶ Em Formosa, a comissão chefiada por Cruls se dividiu nos quatro grupos demarcadores. Após completada a tarefa, todos se encontrariam na capital da província, a cidade de Vila Boa, o que era uma espécie de ação diplomática, de apresentação da Comissão às autoridades de Goiás.
 
▶ Água Boa foi fundada por Anhanguera 2, ainda com o nome de Arraial de Santana (1726), tornando Vila Boa de Goiás em 1736.
 
▶ Cora Coralista, poeta e filha ilustre de Água Boa, já havia nascido quando da passagem da Missão. Cora é de 1889. 
 
▶ Cruls seguiu de Água Boa para Uberaba com outros dois dos grupos que haviam ido afixar os marcos dos vértices. O quarto grupo, marco nordeste, atrasou os trabalhos e seguiu direto de Formosa para Uberaba, onde só chegou em 1893, dois meses depois dos demais.
 
▶ O escritor Machado de Assis, alto funcionário do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, estava sempre atento aos temas nacionais para escrever suas crônicas. Em 22 de janeiro de 1893, quando Cruls voltava para o Rio de Janeiro, Machado defendia a construção de uma nova cidade para ser a Capital: “Trata-se de mudar a capital do Rio de Janeiro para outra cidade que não fique sendo um prolongamento da Rua do Ouvidor”.
 
▶ Outro texto de Machado de Assis: “Quanto à capital da República, é matéria constitucional, e a comissão encarregada de escolher e delimitar a área já concluiu os seus trabalhos, segundo li esta semana “telegrama de Uberaba diz que ali chegou o chefe Luiz Cruls. Não há dúvidas de que uma capital é obra dos tempos, filha da história. A história e os tempos se encarregarão de consagrar a novas. (…). Não sei se viverei até a inauguração. A vida é tão curta, a morte tão incerta, que a inauguração pode fazer-se sem mim, e tão certo é o esquecimento que nem darão pela minha falta”.
 
▶ O Relatório Cruls é entremeado por 27 fotos de cenários naturais, logradouros e dos próprios membros da missão. Todas as fotos foram batidas por Henrique Morize, astrônomo chefe da turma Sudeste. 
 
▶ O relatório lista 43 rios e ribeirões que Cruls considerou como os mais importantes da região percorrida. Ele teve o cuidado de indicar a que bacia fluvial cada um deles pertence. Observamos que são 31 rios da bacia do Paranaíba (Paraná/Prata), cinco da do São Francisco e sete da do Tocantins, que faz parte da bacia Amazônica.
 
▶ A altitude de pouco mais acima de cota de mil metros do nível do mar possibilitou a Cruls demarcar a barragem que formaria um grande lago. Assim nasceu a idéia do Lago Paranoá, formado pelo rio do mesmo nome e dezenas de córregos cujos espelhos d’água ficassem na esta cota mil, o que de fato veio a ocorrer.
 
▶ O Relatório Cruls traz ainda o Anexo VI, com um texto de Ernesto Ule, o botânico da comissão. Ule descreve os lugares por onde andou e lembra os estudos feitos por viajantes que já haviam percorrido toda a região: Saint-Hilaire, Von Martius, Burchell, Gardner, Weddell e Pohl.
 
▶ A Missão Cruls demarcou os limites de um novo Distrito Federal para abrigar uma nova capital. Quando, seis décadas depois, o presidente Juscelino Kubitschek oficializou os limites, o novo DF ficou menor por razões diversas, mas os parâmetros definidos por Cruls foram os utilizados.
 
 
 
Cronologia da Missão Cruls:
 
▶ 17/maio/1892 – Nomeação da Missão Cruls para demarcar os 14.400 km2 estabelecidos pela constituição de 1891.
 
▶ 9/junho/1892 – O grupo chefiado por Luiz Cruls parte do Rio de Janeiro.
 
▶ 29/junho/1892 – A missão parte de Uberaba com destino a Pirinópolis.
 
▶ 14/julho/1892 – Chegada a Catalão.
 
▶ 01/agosto/1892 – Chegada a Pirinópolis.
 
▶ 07/agosto/1892 – Escalada e medição da altitude do Pico dos Pirineus, com1385 metros.
 
▶ 30/agosto/1982 – Chegada de uma turma à Vila Mestre D’Armas, hoje Planaltina.
 
▶ 14/novembro/1892 – Fixação do vértice Noroeste.
 
▶ 15 /agosto/1892 – Fixação do vértice Sudoeste.
 
▶ 18/novembro/1892 – Fixação do vértice Sudeste.
 
▶ 15/janeiro/1893 – Fixação do vértice Nordeste.
 
▶ 20/janeiro/1893 – Chegada a Uberaba da turma que partiu por primeiro de Pirinópolis.
 
▶ 23/fevereiro/1893 – Chegada a Uberaba da turma que partiu por último de Pirinópolis.
 
 
 

▶ Quando comemoramos 120 anos da publicação do Relatório Cruls, temos em mãos muito mais do que a história de um documento, ou de um homem. Temos um bom quinhão da História do Brasil.
E contada por um jornalista [Jaime Sautchuk] que já revirou este País, especialmente em defesa da Amazônia, para evitar que aconteça lá o que se deu no Centro-Oeste. (…)
O trem com que se sonhaqva há 120 anos descarrilhou. A água, que era abundante, mingou. Ou seja, Cruls é um livro muito atual.