Cerrado, A Torre da Vida

23 de setembro de 2014

Você sabe por que o 11 de setembro é Dia do Cerrado?

Silvestre Gorgulho
 
 “A sociedade precisa entender que a biodiversidade deve ser tratada como patrimônio ambiental. Quem se arrisca a perder ativos ambientais na quantidade e qualidade dos que dispomos no Brasil está abrindo mão de insumos para o desenvolvimento, está perdendo bens inestimáveis capazes de gerar trabalho, renda e melhor qualidade de vida”.
Celso Schenkel
 
 
 
O 11 de setembro ficou marcado na história contemporânea pelos atos terroristas que atingiram os Estados Unidos e derrubaram o símbolo maior do capitalismo: as duas torres do World Trade Center. Mas o 11 de setembro é também uma data para celebrar a vida, pelo menos aqui no Brasil: é o Dia do Cerrado. Desde 2003, o 11 de setembro é dedicado a uma reflexão sobre a preservação do maior e mais agredido ecossistema brasileiro. Toda essa deferência tem uma explicação. No dia 11 de setembro nasceu uma das figuras mais populares do Planalto Central: o artista plástico, diretor de teatro, jornalista e ambientalista Ary José de Oliveira, mais conhecido por Ary Pára-Raios – histórico e contuntente defensor do Cerrado.
E tudo começou com uma palhaçada…

Era 31 de agosto de 1995. Reunião solene do Conama, o famoso Conselho Nacional de Meio Ambiente. O auditório do Ibama estava lotado. O tema de discussão era sobre as alterações substanciais que o governo federal pretendia promover no decreto 750 que estabelece a proteção da Mata Atlântica. 
Conselheiros, ambientalistas e funcionários do próprio Ibama aguardavam ansiosos o desfecho da discussão.  Simultaneamente, na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 3825/92, que também tratava da Mata Atlântica, era aprovado na Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias. 
Pois bem, quando a notícia chegou ao plenário do Conama, em comunicado do então secretário de Meio Ambiente de São Paulo, Fábio Feldmann, o Esquadrão da Vida, liderado por Ary Pára-Raios, entrou no auditório entoando a canção “Bichos Escrotos”, da banda Titãs. Foi apoteótico! Quem estava lá não esquece. Assim era Ary Pára-Raios: um irreverente palhaço, um artista, um jornalista, um tumultuador do bem. Um gênio!
Ary Pára-Raios fazia da arte uma brincadeira de gente grande. Era coisa séria para dar o recado exato. Sempre à frente de seu Esquadrão, esse palhaço das causas humanitárias, colocou sua arte a serviço do movimento ambientalista. Nos últimos anos, no auge da polêmica em torno do Código Florestal, várias vezes ele surgia vendendo alegria e cobrando posições das autoridades. 
Ary Pára-Raios: primeiro e único – O Cerrado merece ser lembrado no mesmo dia de seu nascimento. E vice-versa. 
Profissional – Muita gente conheceu apenas o palhaço de rosto pintado e plantando bananeira pelas ruas de Brasília ou à frente de seu Esquadrão mandando algum recado para o poder. Mas Ary Pára-Raios era mais: jornalista profissional, trabalhou no Correio Braziliense e, em 1989, criou seu próprio jornal: o Vida Alternativa. Pioneiro do teatro de rua de Brasília, o grupo criado por Pará-Raios baseou seus trabalhos na mistura de experimentalismo artístico e compromisso social. Entre os espetáculos produzidos pelo grupo estão O Bicho Homem e Outros Bichos, Na Rua com Romeu e Julieta e Folia Real. Ao longo de duas décadas, centenas de pessoas passaram pela companhia, que registrou dezenas de peças, muitas campanhas ambientalistas e culturais e também oficinas educacionais.