Agenda para 2015

AGUA: AGENDA INADIÁVEL

19 de dezembro de 2014

Difícil listar as demandas e urgências a serem atendidas pelos novos governos.

"A crise hídrica precisa ser enfrentada em suas causas e consequências. 
Em escala nacional, regional e local. É difícil, mas não é impossível. 
Um país um pouco mais diligente já teria instalado um gabinete de crise para o tema."
 
 
 

Como sempre acontece no Brasil, o tema meio ambiente esteve bastante ausente nos debates eleitorais. A ideia de que o assunto não rende votos, de que seria um luxo de países ricos, ou talvez uma espécie de passatempo da classe média, ainda parece hegemônica entre os nossos precários políticos.
 Só que países mais pobres e com natureza mais modesta do que a nossa ganham fortunas com o aproveitamento da sua biodiversidade e com a atividade turística. E os desequilíbrios ambientais e seus desastres nos custam caro: é muito mais barato preveni-los. Além do mais, quando eles ocorrem, são os mais desvalidos os primeiros a serem prejudicados. No entanto, nada disso parece ser considerado.
 Mas se não vai por bem, vai por mal, é um velho ditado. Naturalmente a crise hídrica na maior cidade do país ganha destaque e assusta. Porém, em Minas Gerais, a bacia do rio São Francisco tem a menor vazão dos últimos 80 anos. E na região do Rio Doce – outra grande bacia – a situação é similar. Escuto relatos de nascentes e córregos secando em toda parte – até dentro de unidades de conservação! Os grandes lagos das hidrelétricas mínguam a cada dia.
A crise hídrica precisa ser enfrentada em suas causas e em suas consequências. Em escala nacional, regional e local. É difícil, mas não é impossível. Um país um pouco mais diligente já teria instalado um gabinete de crise para o tema.
 
 Nas causas, precisamos nos debruçar sobre as mudanças climáticas e sobre a atual instabilidade no regime de chuvas no Centro-Sul brasileiro. A teoria de que a umidade dessa região depende da floresta amazônica, se deslocando para o sul com os chamados “rios voadores”, ganha força.
 O último estudo oficial indica que o desmatamento na Amazônia disparou em agosto e setembro deste ano. Perdemos mais de 1.600 km² da floresta, uma área 120% maior do que nos mesmos meses de 2013. Calcula-se que já perdemos 20% da sua área, e que outros 20% estariam degradados. Para alguns cientistas a Amazônia já estaria falhando em seu papel de regulação do clima da América do Sul.
Nas consequências, precisamos antes de tudo pensar na proteção das nascentes que ainda temos. Os parques nacionais e estaduais têm um papel estratégico a desempenhar, mas precisam ser consolidados. Os Comitês de Bacia precisam encontrar o seu espaço e enfrentar temas polêmicos, como a cobrança pelo uso da água. O mecanismo engatinha no país, e os valores irrisórios não inibem o desperdício.
 
Proteção de nascentes
O Parque Estadual do Rio Preto, no centro-norte de Minas Gerais, poderia ganhar algumas centenas de hectares, protegendo assim as nascentes do rio Araçuaí, fonte de água do semiárido mineiro. O Parque Nacional da Serra da Gandarela acaba de ser criado, mas deixaram de fora as áreas de recarga do grandioso aquífero Cauê. Os conflitos envolvendo o Parque Nacional das Sempre Vivas precisam ser solucionados: ele não pode continuar sendo quase uma ficção.
 Essa agenda continua com o envolvimento dos produtores rurais, que precisam ser aliados na proteção das nascentes e dos cursos d’água em suas terras.
 E o licenciamento de novos projetos de mineração atrelados a minerodutos, os quais usam muita água para o transporte do minério? Essa ideia se tornou inoportuna. Os Comitês de Bacia precisam encontrar o seu espaço e enfrentar temas polêmicos, como a cobrança pelo uso da água. O mecanismo engatinha no país, e os valores irrisórios não inibem o desperdício.
 As companhias e os serviços de saneamento permitem grandes vazamentos nas suas próprias tubulações, e receiam punir o desperdício por parte dos seus clientes.  Há uns 100 anos medimos chuvas fartas e regulares no Centro-Sul brasileiro. Mas, ao contrário do que pensa o senso comum, elas poderão faltar. Vamos nos preparar ou pagaremos para ver?