poluição das águas
A MORTE DOS RIOS URBANOS
24 de fevereiro de 2015Os rios que cortam as cidades são bênçãos da natureza que estão sendo deteriorados pela urbanização desordenada
"A principal fonte de poluição dos nossos rios é o lançamento de dejetos domésticos e industriais que deveriam ser coletados e tratados pelo sistema de esgotamento sanitário."
“O Caminho das Águas em Salvador – Bacias Hidrográficas, Bairros e Fontes” traça um perfil dos mananciais e rios de Salvador, fornecendo indicadores sobre a qualidade das águas.
O caso específico da capital da Bahia está muito bem pesquisado no livro “O Caminho das Águas em Salvador – Bacias Hidrográficas, Bairros e Fontes” que descreve muito bem este processo de degradação das águas doces. O livro revela o quão perversa tem sido a relação entre a ocupação urbana e natureza.
O livro é um trabalho de mutirão. Inicialmente contou com a iniciativa de professores e pesquisadores da Escola de Administração e da Escola de Engenharia Sanitária da UFBA – Universidade Federal da Bahia.
O projeto teve início em 2007, conclusão em 2010, tendo o apoio de vários órgãos federais e estaduais.
À frente do projeto como coordenadores estão os professores José Antônio Gomes de Pinho, Luiz Roberto Santos Moraes, Elisabete Santos e Tânia Fischer.
Radiografia de Salvador
“O Caminho das Águas em Salvador – Bacias Hidrográficas, Bairros e Fontes” traça um perfil dos mananciais e rios de Salvador, fornecendo indicadores sobre a qualidade das águas e sobre o acesso aos serviços públicos de saneamento ambiental.
Elisabete santos fala do projeto
CONHECER PARA INTERVIR.
Alerta da pesquisadora
“Tudo começou depois que constatamos que a qualidade ambiental em Salvador estava se deteriorando de forma muito acelerada e que a poluição das águas era um dos seus principais problemas”.
Além disso, os dados sobre a qualidade dos rios eram escassos, pontuais e estavam desatualizados, o que refletia o desinteresse do poder público em equacionar esse problema. “Se você considera o problema relevante, você procura conhecê-lo para intervir” explica a professora Elisabete Santos.
A exemplo do que acontece na maiorida das cidades brasileiras, Salvador transformou nossos rios em canais de esgoto.
A universidade entrou para ajudar nesse debate produzindo dados e indicadores sobre o comprometimento da qualidade das águas e suas fontes de poluição.
A principal fonte de poluição dos nossos rios é o lançamento de dejetos domésticos e industriais que deveriam ser coletados e tratados pelo sistema de esgotamento sanitário”, salienta a professora Elisabete Santos.
ELEMENTOS POLUIDORES
Coliformes termotolerantes (UFC/100 ml), condutividade (umho/cm), DBO5 (mg/L), fósforo total (mg P/L), nitrato (mg NO3-N/L), óleos e graxas (mg/L), OD (mg OD/L), pH, sólidos totais (mg/L), temperatura da amostra (ºC), temperatura do ar (ºC) e turbidez (NTU).
Os rios das Ilhas dos Frades e de Maré são os únicos que apresentam uma boa qualidade das suas águas. O rio Camarajipe foi um dos principais mananciais de abastecimento de Salvador, no final do século 19 até meados do século 20. Ao longo do tempo, com o lançamento de esgotos sanitários e resíduos tóxicos in natura, a qualidade de suas águas ficou comprometida.
OUTRAS CIDADES – “Temos em comum com as outras capitais o lançamento de descargas de esgotos domésticos. Cidades que concentram atividades econômicas com maior impacto poluidor, a exemplo de atividades industriais, que deveriam tratar seus dejetos e não permitir que os mesmo comprometessem o ambiente. A legislação existente no país já contempla isso. Entretanto, nem sempre o que está colocado na lei efetivamente é implementado”.
PROCESSO PREDATÓRIO – “Assistimos a cada dia a morte silenciosa dos nossos rios. O processo de urbanização nas grandes cidades é predatório e a especulação imobiliária, juntamente com a omissão dos poderes públicos, tem uma grande parcela de responsabilidade nisso. O que vimos na Avenida Centenário é um exemplo disso. Podemos urbanizar uma área sem que isso implique na destruição do ambiente”.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL – “O Estado tem tido uma atitude de subordinação em relação aos interesses especulativos que resultam na destruição e comprometimento ambiental. Depois de décadas de luta, da incorporação do discurso ambiental por parte do poder público e das empresas, o que assistimos hoje é o predomínio da compreensão de que a legislação ambiental “prejudica” o desenvolvimento”.
OMISSÃO GOVERNAMENTAL – “Não basta a constatação de que temos leis, é preciso que as mesmas sejam cumpridas. Os estudos não bastam. É preciso que eles fundamentem a intervenção do poder público, da empresa e do cidadão. Podemos urbanizar uma área, transformá-la em local de lazer sem precisar cobrir o rio. Isso na pratica é matar o rio. Se ele está poluído, a ação responsável do poder público deveria ser de despoluí-lo e não de entubá-lo ou esconder a sujeira para debaixo do tapete”.