Sustentabilidade Amazônica 1

Tabuleiros de Quelônios

24 de fevereiro de 2015

Programa devolveu à natureza mais de 70 milhões de filhotes de quelônios (tartarugas-da-amazônia, tracajás e pitiús).

Na primeira edição do programa nos tabuleiros da região de Itamarati, havia apenas 54 tartarugas. Esta última edição contou com mais de 4.300 matrizes. No estado do Amazonas, foram soltos, no total, cerca de 2,1 milhões de quelônios neste ano contra 1,2 milhão em 2013. 

 
 
 
 
O Programa Quelônios da Amazônia foi implantado, em 1979, e está hoje sob administração do Ibama, espalhado pelas bacias do Amazonas e do Tocantins-Araguaia. 
 
O programa, que já devolveu à natureza mais de 70 milhões de filhotes de quelônios (tartarugas-da-amazônia, tracajás, pitiús etc), tornando-se o projeto de maior sucesso em termos de conservação e manutenção da fauna silvestre no mundo, realizou em novembro de 2014 a soltura de mais 100 mil tartarugas nos tabuleiros de Walterbury, Nova Olinda e Vista Alegre, administrados pela prefeitura de Itamarati.  
Ao final da temporada de soltura, a região terá ampliado os números do programa em mais 500 mil indivíduos que ganharam a chance de permanecer vivos, oportunidade que, antes do PQA, provavelmente, não teriam.
 
O município de Itamarati-AM, à beira do rio Juruá, é berço do Programa Quelônios da Amazônia que hoje abrange as bacias do rio Amazonas e Tocantins-Araguia.
 
 
Tabuleiro do Walterbury
Chegar ao tabuleiro do Walterbury para acompanhar a soltura é uma aventura de dimensões tão grandes quanto a própria Amazônia. Partimos de Brasília, Luis Lopes e Jucier Costa Lima, da Assessoria de Comunicação Social, e Maria Izabel Gomes, coordenadora de Geração de Conhecimento dos Recursos Faunísticos e Pesqueiros, da Diretoria de Uso Sustentável de Biodiversidade e Florestas (DBFlo), todos do Ibama. 
A DBFlo coordena o projeto em todo o Brasil. Seguimos até Manaus, capital do estado do Amazonas, onde nos encontramos com o superintendente do Ibama/AM, Mário Lúcio Reis, e seu assessor, Fábio Cardoso. De lá, foram três horas de voo para Eirunepé com escala em Tefé. Em Eirunepé, encontramos Carlos Augusto Bié, técnico administrativo do Ibama que acompanha o programa na região desde sua implantação. Até Itamarati, foi mais uma hora e meia em um monomotor. 
O barco que nos levaria ao tabuleiro somente estaria pronto para sair à meia-noite, pois o prefeito, que também acompanharia a soltura, precisou estar presente ao baile de confraternização mensal dos idosos da cidade no recém-construído Centro de Convivência dos Idosos. Tempo agradável, fomos subindo, mais oito horas, o rio Juruá acompanhados por uma lua prateada até encontrar o local de trabalho nos aguardando numa praia a nossa esquerda.  As margens do rio são densas em mata, à exceção de algumas pequenas casas de madeira palafitadas com seus pequenos barcos ancorados em frente. A cerração da madrugada atrasou um pouco o passo lento do barco, que precisou parar em alguns momentos, pois não havia visibilidade e há sempre o risco do tombamento com algum tronco de árvore que venha descendo a correnteza.
Quando chegamos, havia dez piscinas com filhotes de tartaruga. 
 
 
Origem do Programa Quelônios
O PQA nasceu da necessidade de proteger os quelônios da Amazônia. Muito utilizadas na culinária, os números relativos a estas espécies vinham diminuindo ano após ano.  O governo federal criou o projeto e coube ao Ibama gerenciá-lo por meio de parcerias com prefeituras, ONGs e comunidades locais. Na época da desova dos quelônios, que ocorre entre agosto e setembro, os guarda-praias passam a madrugada de tocaia para saber onde as matrizes colocarão seus ovos. Eles também cuidam dos ninhos durante a incubação, contra invasores e predadores.  Cada postura pode chegar a ter mais de 180 ovos, mas a média computada é de cem ovos por ninhada. No local das desovas, são fincados paus contendo informações de data. Após 60 dias, a areia é escavada e os filhotes já nascidos são colocados em piscinas, onde passam mais 20 dias à espera da soltura. Nessas piscinas, eles perdem o cheiro característico, que atrai predadores, e ganham mais força e agilidade, o que lhes confere maior potencial de sobrevivência.
Os resultados até agora atingidos permitem que o Brasil seja reconhecido como o único país da América do Sul que ainda possui estoques significativos de quelônios passíveis de recuperação e viáveis para programas de uso sustentável. 
 
 
PQA dá ainda emprego e renda
O programa consegue, além de promover a reintegração das espécies a seu habitat, fixar o homem no campo, com a geração de emprego e renda, e proporcionar o bem-estar socioeconômico e ambiental das comunidades ribeirinhas. 
Na primeira edição do programa nos tabuleiros da região de Itamarati, havia apenas 54 tartarugas. Esta última edição contou com mais de 4.300 matrizes. No estado do Amazonas, foram soltos, no total, cerca de 2,1 milhões de quelônios neste ano contra 1,2 milhão em 2013.  As tartarugas da Amazônia sempre fizeram parte dos costumes das tribos indígenas habitantes da região amazônica e, desde os primórdios da colonização promovida pelos portugueses, a partir do século XVII, o homem branco exerceu uma excessiva exploração dos estoques naturais das espécies de quelônios, principalmente, da tartaruga-da-amazônia. 
É este cenário desolador que o PQA busca modificar. A cada ano, mais prefeituras ficam interessadas em conhecer e instalar o programa. Dessa forma, cada vez mais, matrizes retornam às praias de nascimento para a postura de mais ovos, recriando o ciclo da natureza.
 
(Sustentabilidade Amazônica continua na próxima edição)