A COP21 acabou. Mas a ação climática só começou
16 de dezembro de 2015A aprovação do primeiro acordo de extensão global para frear as emissões de gases do efeito estufa teve repercussão no mundo inteiro.
A ministra Izabella Teixeira participou ativamente da Conferência de Paris. Nos bastidores conversou com a ministra do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Tine Sundtoft. Os governos do Brasil e da Noruega decidiram prorrogar a parceria nas áreas de clima e florestas até 2020. Nessa nova etapa serão investidos cerca de US$ 600 milhões em doações do governo norueguês.
Paris ainda não salvou o mundo. Mas deu o primeiro e grande passo: o Acordo celebrado na COP21 foi inteiramente construído em solo francês sobre compromissos voluntários em corte de emissões e financiamentos. Agora os países são apenas convidados a fazerem o dever de casa conforme as circunstâncias permitirem. A meta de descarbonização até o meio do século e a data do pico de emissões foram perdidas. Não há indicação de compromissos de finanças no longo prazo. Tudo dependerá da manutenção do espírito de engajamento que tornou a COP21 possível.
Desde a Conferência de Durban, na África do Sul, o Brasil vem tendo um papel de destaque nos encontros sobre Mudanças Climáticas. A conferência de Durban, em 2011, foi o verdadeiro o embrião do Acordo de Paris. Assinar o Acordo foi a primeira etapa do desafio, pois agora vem a parte mais desafiante: sua implementação. Na verdade, o governo brasileiro precisa saber que se quiser mesmo valer o compromisso com 1,5 graus Celsius, o Brasil terá de reajustar sua INDC. Terá de entender que a exploração do pré-sal e o desmatamento, seja ele legal ou ilegal, são incompatíveis com um mundo de 1,5oC.
ERA DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS CHEGA AO FIM
A vigésima primeira Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, ou simplesmente, a COP 21, tem um longo caminho a percorrer. Mesmo que, às 19:30, do dia 12 de dezembro, sábado (16:30 em Brasília) tenha colocado um ponto final no encontro realizado no parque de exposições de Le Bourget. Sob uma prolongada salva de palmas, ficou definido o Acordo de Paris, um texto de 12 páginas, documento que virou uma espécie de manual de orientação dos próximos passos da economia e da sustentabilidade mundial. A era dos combustíveis fósseis está chegando ao fim. A menção à meta de 1,5 graus centígrados emerge como a grande vitória política da COP21. A vitória também foi obtida graças à ação conjunta dos países insulares, que serão condenados à extinção no longo prazo pelo aumento do nível do mar resultante de um aquecimento de 2 graus Celsius.
O que disseram alguns líderes mundiais
Tão logo foi assinado o Acordo de Paris, resultado da COP21, a repercussão no mundo foi imediata. Veja o que disse algumas lideranças políticas.
“A cúpula sobre o clima terminou em Paris com um acordo que bem podemos qualificar como histórico. A sua aplicação exige um compromisso unânime e um generoso empenho de cada um. É preciso garantir, com uma particular atenção, o futuro das populações mais vulneráveis. Exorto a comunidade internacional a prosseguir com empenho o caminho encetado, num sentimento de uma solidariedade que deve ser sempre cada vez mais ativa”.
Papa Francisco
“O acordo de Paris define a etapa para o progresso para acabar com a pobreza, fortalecer a paz e garantir uma vida de dignidade e oportunidade para todos. Hoje nós podemos olhar nos olhos de nossos filhos e netos e dizer que demos as mãos para fazer um planeta mais habitável”.
Ban Ki-Moon, Secretário-Geral da ONU
“O Acordo de Paris é ao mesmo tempo ambicioso e realista porque concilia a responsabilidade, e em particular a dos mais ricos, e ao mesmo tempo a diferenciação, além de fixar mecanismos de revisão periódica das ambições e dos compromissos de financiamento da adaptação e a mitigação da mudança climática essenciais para a credibilidade da COP”.
François Hollande, presidente da França.
“Este acordo é o mais equitativo possível. O texto é fruto do trabalho de uma terceira noite consecutiva de vigília da presidência francesa, que transformou a última minuta em um pacto universal com as inquietações colocadas por cerca de 200 países em 24 horas de intensas reuniões bilaterais. Chegou o momento de buscar as linhas verdes, em contraposição às linhas vermelhas”.
Laurent Fabius, ministro francês dos Negócios Estrangeiros e presidente da COP21.
“Um grande avanço. Isso é enorme! O Acordo de Paris não é perfeito, mas é a chance de salvar o único Planeta que temos. Nenhum acordo que envolve tantos países pode ser perfeito. Negociações que envolvem quase 200 países é sempre um desafio. Agradeço a atuação da diplomacia norte-americana. É importante que quase todos os países do mundo subscreveram o Acordo de Paris sobre alterações climáticas”.
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos.
“O Acordo de Paris sobre o clima é uma vitória para o planeta e gerações futuras. Todos os países mandaram uma mensagem aos mercados sobre a direção correta que devem seguir para diminuir a emissão de gases nocivos ao meio ambiente”.
John Kerry , Secretário de Estado norte-americano.
“Considero o acordo como enorme passo para assegurar o futuro do Planeta. Bom saber que todos os países assumiram sua parte na luta contra as alterações climáticas. Há um mês, Paris foi vítima do pior ataque terrorista na Europa. Hoje, foi palco de um dos passos globais mais positivos da história. Ao fechar esse Acordo, as nações do mundo mostraram o que união, vontade política e perseverança podem fazer”.
David Cameron, primeiro-ministro britânico.
“O Acordo de Paris é justo, ambicioso e equitativo. A China felicita todos os países por este acordo que tem partes por serem melhoradas, mas nos permite avançar para responder aos desafios das mudanças climáticas. Acabamos de escolher o caminho certo para o bem das próximas gerações”.
Xie Zhenhua, representante da China na COP21
“O Acordo de Paris é justo e ambicioso, fortalecendo o regime multilateral e atendendo aos legítimos anseios da comunidade internacional. O Acordo foi alcançado com a decisiva participação do Brasil e guia-se pelos princípios da Convenção de Mudança do Clima, respeitando a diferenciação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Duradouro e juridicamente vinculante, o Acordo também é ambicioso por procurar caminhos que limitem o aumento de temperatura nesse século em até 2 graus Celsius, buscando atingir 1,5 grau Celsius”.
Presidente Dilma Rousseff
“Nós devemos. Nós podemos. Nós fizemos!”
Christiana Figueres, secretária-executiva da convenção sobre Mudanças Climáticas da ONU.
“É muito importante acompanhar a implementação do Acordo de Paris e pressionar governos e também cobrar do setor privado para que o tratado seja cumprido. As metas de emissões sobre a mesa não são grandes o suficiente e o Acordo não faz o suficiente para mudar isso. Mesmo assim, o Acordo de Paris é o começo do fim da era dos combustíveis fósseis”.
Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace internacional.