EXPEDIÇÃO LANGSDORFF - ENTREVISTA
PAULO TARSO FLECHA DE LIMA: Série Langsdorff lançou um olhar bem brasileiro leve e revelador
16 de dezembro de 2015AVENTUREIROS GENIAIS E CORAJOSOS Folha do Meio – Embaixador como foi o resgate deste tesouro chamado Expedição Langsdorff. Paulo de Tarso Flecha de Lima (foto) – Esse resgate foi uma obra de várias mãos. Antes queria dizer que estou acompanhando e estou gostando muito. Como a própria Folha do Meio disse, no… Ver artigo
AVENTUREIROS GENIAIS E CORAJOSOS
Folha do Meio – Embaixador como foi o resgate deste tesouro chamado Expedição Langsdorff.
Paulo de Tarso Flecha de Lima (foto) – Esse resgate foi uma obra de várias mãos. Antes queria dizer que estou acompanhando e estou gostando muito. Como a própria Folha do Meio disse, no início da série “Naturalistas Viajantes”, o Brasil foi descoberto várias vezes. Imagina que, apenas 57 anos depois do Descobrimento de Pedro Álvares Cabral, em 1557, um alemão aventureiro esteve aqui. E por duas vezes. Hans Staden viajou ao Brasil e conheceu Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Por saber lidar com canhões, foi contratado por portugueses para ser artilheiro do Forte de Bertioga. Preso pelos Tubinambás, Hans Staden se salva milagrosamente e volta para a Alemanha. Escreve um livro de sucesso no qual conta sua aventura: “Viagens e Aventuras no Brasil”. Assim foram todos estes viajantes aventureiros maravilhosos. Peter Lund, Saint-Hillaire, Von Martius e tantos outros deixaram documentados para a posteridade seus estudos, suas aventuras e suas pesquisas. Como o fez maravilhosamente bem o barão Langsdorff.
FMA – Qual o maior diferencial da Missão Langsdorff em relação a outras expedições?
Paulo de Tarso – Primeiro, cônsul Georg Heinrich von Langsdorff conseguiu juntar dois países, a Rússia e o Brasil. Segundo porque era médico, falava português e convocou três gênios da pintura para ajudá-lo: Rugendas, Taunay e Florence. Terceiro, porque fez com certeza a maior viagem de aventura, a maior expedição científica, cultural e botânica que se tem notícia. E quarto porque documentou sua missão de forma abrangente. Seus relatórios são completos e mostram como viviam índios, caboclos, negros, enfim, os brasileiros dos anos de 1800, ainda no Império. Seus estudos e seus relatórios são impressionantes. Trazem detalhes em imagens e descrições de um valor cultural e botânico imensurável.
FMA – O senhor acompanhou toda a série?
Paulo de Tarso – Sim, acompanhei com o maior interesse. O trabalho ficou admirável por vários motivos. Daria um em especial: vocês deram nas reportagens sobre a Expedição um olhar bem brasileiro. E depois eu penso, sinceramente, que é injusto permitir que os depoimentos dos naturalistas que andaram pelo Brasil permaneçam confinados nos limites opressivos da literatura científica.
É bom lembrar que a formação acadêmica e a disposição de todos os naturalistas viajantes em trocar o conforto e a segurança de seus lares na Europa pela tropelia tropical brasileira geraram descrições literárias e iconográficas preciosas. São correspondências valiosas. Percorreram séculos e exigiram sacrifícios de muitas pessoas abnegadas até chegarem a nossas mãos. Todos merecem gratidão e respeito!
FMA – Em 87, o senhor era Secretário-Geral do Itamaraty. Como conseguiu apoio para resgatar a Expedição?
Paulo de Tarso – Em primeiro lugar, e isto o embaixador Ronaldo Sardenberg na época servindo em Moscou, já explicou muito bem na sua entrevista, o projeto dos editores Leonel Kaz e Salvador Monteiro era do maior interesse cultural e histórico para o Brasil. Depois o então presidente José Sarney queria abrir uma ponte diplomática e comercial muito consistente com o premier Soviético, Mikhail Gorbachev. E em terceiro lugar, o Itamaraty vivia um momento profissional e político que nos dava condições para encarar este empreendimento. Não foi só a publicação do livro “A Expedição Langsdorff ao Brasil (1821-1829)” mas trazer o acervo para ser visto no Brasil também foi uma operação onerosa e complexa.
FMA – Parabéns, embaixador…
Paulo de Tarso – Quem está de parabéns é toda equipe do governo José Sarney por ter conseguido viabilizar este projeto. Como também está de parabéns esta Folha, pelo trabalho realizado. Um trabalho que bem pode ser reunido em livro para facilitar não só a guarda do material escrito como o manuseio e a disponibilidade para estudantes e professores. Volto a destacar que esta série muito bem feita trouxe um olhar brasileiro leve e revelador, distante da severidade dos historiadores que se arvoram seus destinatários. Que os cientistas se beneficiem das informações coletadas! A nós, nos bastam as emoções da aventura e o vislumbre do jeito de viver dos nossos antepassados.
Pesquisa e consultas bibliográficas
Para escrever estes 17 capítulos sobre a Expedição Langsdorff, foram lidos muitos trabalhos, livros e feitas várias entrevistas. A FMA registra as fontes de consulta e agradece as cartas e o apoio recebido.
► Voyages and travels in various parts of the world during the years 1803, 1804, 1805, 1806, and 1807. Editorial: Amsterdam, N. Israel; New York, Da Capo Press, 1968
► Os Diários de Langsdorff, volumes 1, 2 e 3. Editora Fiocruz, 1997 – Rio de Janeiro -RJ
► Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas 1825 a 1829 – Hércules Florence – Senado Federal – 2007
► A Expedição do acadêmico G. I. Langsdorff ao Brasil, G. G. Manizer, Companhia Editora Nacional – São Paulo, 1997
► Expedição Langsdorff: Um tesouro inestimável. Artigo de Sérgio Ferraz, publicado na revista ‘Problemas Brasileiros’.
► Expedição do acadêmico G I Langsdorf ao Brasil (1821-1829). Projeto coordenado por Alexander G. Tolstikov, da Academia de Ciências da Rússia. 2012
► Artigo da historiadora Maria de Fátima Costa, da Universidade Federal do Mato Grosso – revista Fênix – edição de out/nov/dez de 2007
► Science and Passion in America – Rafael Sagredo Baeza, Universidad Católica Chile, 2012
► Revista ‘Scientific American’ – junho, 1887
► Expédition au Brésil de la mission russe du Ct Langsdorff: 1824-1829 / album de croquis dessinés par Hercule de Florence. Biblioteca Nacional Francesa
► Expedição Langsdorff – Catálogo da Exposição realizada pelo CCBB – 2010
► Entre Olhares – O romântico, o naturalista. Artistas-viajantes na Expedição Langsdorff: 1822-1829 – Miguel Luiz Ambrizzi
► Viajando com Langsdorff – Barbara Freitag-Rouanet – Edições do Senado Federal – 2013
► Nos confins da civilização: ‘Algumas histórias brasileiras’ de Hercule Florence – Artigo dos professores Lorelai Kury e Francisco Foot Hardman <herculeflorence.blogspot.com.br>
► Blog História e Licenciatura, de Edson Day – Expedição Langsdorff (15/12/2010)
► A Expedição de Langsdorff ao Brasil (1821-1829) – Leonel Kaz e Salvador Monteiro. Edições Alumbramento – 1988
► Da Ema ao Beija-flor – Eurico Santos – Editora Itatiaia – 1990
► Entre o Gambá e o Macaco – Eurico Santos – Editora Itatiaia – 1984
► Artigo ‘Langsdorff no Brasil’, por Marcos Pinto Braga, publicado pela Universidade de Brasília em 1993
► Influência das Línguas Africanas no Português Brasileiro. Artigo da Profª Yeda Pessoa de Castro.
► Etnografia e Iconografia nos Registros Produzidos por Hércules Florence Durante a Expedição Langsdorff na Província do Mato Grosso (1826-1829) – Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados – Sônia Maria Couto Pereira – 2008