GRUTA DO MAQUINÉ

GRUTA DO MAQUINÉ Um palácio debaixo da terra

28 de janeiro de 2016

Os espeleotemas (estalagmites e estalactites) espalhados ao longo dos sete salões internos são de uma beleza singular

 
Para quem quer fugir de tudo e ficar bem longe de qualquer barulho, é o lugar ideal, principalmente se for debaixo da terra. A gruta do Maquiné parece algo fora deste mundo, com suas estalagmites monumentais em diversas cores e formas, nos dá a sensação de estar realmente no embrião da Terra! A quase 20 metros de profundidade, num ambiente mais quente e úmido do que lá fora, a gruta foi uma das pioneiras em receber turistas no Brasil. Ali já foram encontrados fósseis de animais pré históricos e até mesmo algumas ossadas. 
 
Veja as fotos de alguns dos sete salões da Gruta.
Um verdadeiro palácio debaixo da terra.
 
 
 
 
Estalagmites e estalactites
 
Os espeleotemas (estalagmites e estalactites) espalhados ao longo dos 7 salões internos são de uma beleza difícil de explicar. Suas formas inusitadas lembram ora um elefante, ora um urso, cortinas enormes, chapéus… Eles se formam pelo gotejamento de água que cai lentamente ao longo de milhares de anos. Essas gotas perdem o gás carbônico quando em contato com o ar, e assim se precipitam formando cristais de calcita. Parecem mesmo obras dignas de uma fabulosa engenharia. Não é fácil viver dentro de uma caverna. 
Os únicos mamíferos que voam – os morcegos – são extremamente importantes nesses ecossistemas. Havia apenas alguns na entrada da gruta. Estes se alimentam de frutas, insetos e sementes e são ótimos polinizadores e dispersores de sementes. A baixa frequência de morcegos na gruta se explica pela sua forçada mudança de localização. Há algum tempo foi colocada uma tela para que eles não entrassem na gruta e isso fez com que procurassem outro local para se instalar. 
 
Formação: A gruta se formou pela ação da água em suas rochas calcárias durante milhões de anos, formando as galerias subterrâneas, essas sim chamadas de cavernas. Hoje há alguns pequenos lagos dentro da gruta. Os lagos cársticos são alojados dentro de uma depressão produzida pela dissolução do calcário. Na maioria desses lagos a alimentação é feita por meio de rios subterrâneos. Importante lembrar que, segundo cientistas, há milhões de anos o mar passou por aquelas galerias em grande quantidade (o “mar de Minas Gerais”) e por isso a gruta passou muito tempo sem ser habitada. Como a água foi diminuindo com o passar dos anos, restaram os lagos cársticos. 
 
Iluminação: Os caminhos por onde andamos, sempre descendo, são iluminados com lâmpadas Led, quase não emitem calor, mas propagam luz. A escolha deste tipo de lâmpada é que, por emitir menos calor, não atrapalha a vida dentro da caverna, além de ter uma durabilidade maior. Por outro lado, o mínimo calor emitido ainda provoca o crescimento de plantas, como samambaias, algas e musgos, o que não é característico dentro de grutas. Alguns especialistas dizem que a presença de plantas no interior da gruta acaba ajudando a equilibrar o índice de dióxido de carbono que é frequentemente eliminado pela visitação turística, que vem aumentando ultimamente, o que também prejudica o equilíbrio químico dos espeleotemas. Acredito que qualquer alteração no ambiente natural, por menor que seja, causa um certo impacto nos pequenos seres que ali vivem e na própria formação calcária. Até por isso mesmo o período de visitação é limitado até as 17:00 horas, quando toda iluminação no seu interior é desligada. 
 
Impactos: Ambientes subterrâneos são extremamente frágeis, e por isso exigem um complexo manejo de área natural quando se visa o turismo. Arrancar um pedacinho que seja de uma estalagmite causa um dano irreparável em uma caverna. Se pensarmos que este pedacinho levará centenas de anos para se reconstruir (mesmo assim, se isso de fato acontecer) é realmente uma perda imensa. Infelizmente vandalismos existem por toda parte e no interior da caverna surgem escritos marcados nas paredes de calcário. Pessoas que fazem isso não  sabem que estão destruindo milhares de anos da história geológica.
 
A gruta do Maquiné, assim como outras no país, não utiliza um modelo conservacionista de visitação turística. Ambientalistas defendem que o uso da iluminação artificial dentro da gruta não só prejudica seu ecossistema interno como também ajuda a perpetuar os vandalismos. De acordo com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas – CECAVE – o ambiente cavernícola apresenta características muito peculiares quando comparado ao ambiente da superfície externa. A ausência permanente de luz no interior das cavernas ajuda a estabilizar as condições ambientais, como a temperatura e a umidade, impossibilitando a ocorrência de organismos fotossintetizantes. Embora o guia local tenha falado que era permitido usar o flash dentro da gruta, procurei tirar as fotos internas sem usá-lo. Pode-se perceber que o ambiente lá dentro é realmente muito frágil, e qualquer feixe de luz (fora as lâmpadas no chão pelo caminho) pode causar um dano sem volta. Melhor que continue assim!
 
 
Grutas: seis fundamentos para gestão
 
Alguns fundamentos para a conservação do Patrimônio Espeleológico brasileiro
 
1- Todo ambiente subterrâneo é potencialmente importante e não há possibilidade de restauração em caso de supressão
2- A legislação espeleológica deve ser focada na preservação e conservação do patrimônio espeleológico como um todo, incluindo ambientes indispensáveis ao seu equilíbrio ecológico, além de incentivar o conhecimento técnico-científico e seu uso sustentável
3- Os impactos em cavernas não podem implicar perda de características significativas e singulares do patrimônio espeleológico, além disso, deve-se ter clareza sobre a real necessidade do impacto, avaliando o ganho socioambiental do empreendimento, além da impossibilidade técnica e local de se chegar a um bom resultado por outros meios menos lesivos
4- Qualquer metodologia que se proponha para a gestão do patrimônio espeleológico deve ser testada de forma significativa e eficaz antes de ser adotada como norma
5- Nos casos onde não exista embasamento científico consolidado, deve-se aplicar o princípio da precaução, adotando a posição mais restritiva até que se tenha certeza dos resultados
6- Por se tratar de um bem difuso, a sociedade como um todo e principalmente a comunidade espeleológica deve participar da tomada de decisão sobre o patrimônio espeleológico brasileiro.