Mineradoras, câncer ambiental

MINERAÇÃO: IMPACTO EM 22 ESTADOS

13 de janeiro de 2016

Livro avalia o impacto da mineração em Minas Gerais e outros estados. A grave situação em Paracatu faz parte do livro e é alvo de uma série de reportagens do Correio Braziliense.

A presença da  mineradora Kinross Gold Corporation em Paracatu está documentada em um livro publicado no fim de 2014. O livro reúne, além de Minas Gerais, outros 21 estados que convivem com os impactos das atividades de extração mineral. O trabalho foi editado pelo Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação — mesmo órgão que, recentemente, publicou relatório sobre Paracatu que conclui haver baixos índices de arsênio nos recursos naturais da região.
 

 

Mineradora X População

As questões são graves e polêmicas. No livro, fica clara a necessidade de se discutir com mais profundidade a questão da vizinhança da mineradora. Em três páginas de relato sobre a história recente da mineração em Paracatu, são levantadas questões graves e polêmicas. Os pesquisadores confrontam, por exemplo, a capacidade de geração de emprego e renda pelo empreendimento com o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), que não se destaca frente a outras cidades do país. A Kinross Gold Corporation, responsável por 25% da produção de ouro brasileira, emprega 86% dos moradores do município e garante pagar anualmente cerca de R$ 1,3 bilhão entre salários, fornecedores, impostos e royalties.

Em 2012, a produção da mina foi de 6 toneladas de ouro.

A expansão do empreendimento e a questão fundiária envolvendo conflitos entre a empresa e a população também preocupam os redatores do documento. “A nova barragem de rejeitos da Kinross ocupa um vale originário de quilombolas (…) e a mina fica entre dois quilombos (…). De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), as práticas da mineradora causam vários danos patrimoniais e morais às famílias quilombolas que moram na região”, diz o texto. Os pedidos de reparação a comunidades quilombolas foram negados em sentenças da Justiça Federal, mas o Ministério Público de Minas Gerias recorreu da decisão.

Rompimento de barragens
Para o coordenador do trabalho, o pesquisador sênior de Ciência e Tecnologia Francisco Fernandes, erros se repetem nos 22 estados brasileiros estudados. O medo do arsênio, a necessidade de novas pesquisas e monitoramentos na região, além da preocupação do Ministério Público Federal com a possibilidade de rompimento das barragens e de contaminação do lençol freático são outros pontos citados no documento.. Francisco Fernandes destaca, por exemplo, a emissão de outorgas de forma indiscriminada pelo governo e o uso de tecnologias sujas no processo de extração por parte das empresas.

Moradores assustados
Moradores de Paracatu estão assustados com resultados de exames realizados por alguns habitantes. Eles trazem índices de arsênio no organismo acima do considerado aceitável pelo Ministério da Saúde, que é de 10µg/g de creatinina.

Os representantes da Kinross afirmam que o processo realizado pela empresa para a retirada do ouro não libera arsênio em forma perigosa para a população. Segundo eles, isso aconteceria se fossem utilizadas altas temperaturas, quando o processo adotado é úmido e realizado em temperatura ambiente.