Meio Ambiente

Brasil: o risco de defender o meio ambiente

5 de julho de 2016

O ano de 2015 foi o pior ano da história em relação às agressões e assassinatos de ativistas ambientais no Brasil do que em qualquer outro país no mundo.

Por Márcio Astrini – Coordenador de políticas públicas do Greenpeace Brasil

 

Lunae Parracho – Greenpeace

Ativistas de todo o mundo estão enfrentando uma forte violência. E essa violência aumenta à medida que ativistas se levantam para defender o planeta. Muitos defensores do meio ambiente foram assassinados durante o ano de 2015, de acordo com um novo relatório da Global Witness. Dos mortos, um número desproporcional, 40%  eram povos indígenas. E dos 185 assassinatos em todo o mundo, 50 ocorreram no Brasil.

 

 
A Global Witness descobriu que luta contra projetos de mineração, a expansão do agronegócio e a construção de novas usinas hidrelétricas foram as principais causas das mortes. Não por coincidência, esses são os três domínios prioritários para a agenda de desenvolvimento do governo brasileiro.
 
O Brasil enfrenta uma escalada de violência em áreas remotas. Os assassinos muitas vezes não medem as consequências de suas ações. Quase todos os assassinatos de defensores do meio ambiente no Brasil ocorreram na Amazônia, onde a atividade criminosa é comum. A falta de fiscalização e a impunidade na região comprometem a floresta e seu povo.
 
Há alguns dias, uma equipe do Greenpeace Brasil realizou um vôo sobre o Maybu Terra Indígena Sawre no coração da Amazônia – a casa dos povos indígenas Munduruku  – e encontrou evidências de atividades madeireiras e mineradoras ilegais.
 
 
 
A foto mostra evidências de atividades madeireiras e mineradoras ilegais na Terra Indígena Sawre no coração da Amazônia.
 
 
 
OS CONFLITOS
 
Na semana passada, houve confrontos e mortes em três estados brasileiros. 
No Pará, o sargento João Luiz de Maria Pereira foi morto durante uma operação contra o desmatamento ilegal na Floresta Nacional de Jamanxim de Novo Progresso.
 
Em Mato Grosso do Sul, um indígena Guarani-Kaiowá foi morto a tiros  em um ataque 70 agricultores em uma fazenda vizinha da Kue Terra Indígena Tey'i. Seis outros povos indígenas foram hospitalizadas com ferimentos à bala, incluindo uma criança de 12 anos.
 
No Maranhão, o povo Ka'apor da Terra Indígena Alto Turiaçu vive sob constante ameaça de ataque. Para evitar a invasão de suas terras e a destruição da floresta, os indígenas começaram a monitorar e patrulhar seu território, pois têm agricultores e madeireiros que querem explorá-los. De acordo com organizações que apóiam os Ka'apor, existem agricultores e madeireiros que planejam atacar as aldeias. No entanto, as agências governamentais responsáveis pela segurança dos povos indígenas e seus territórios não tomam as devidas medidas.
 

 

POVOS TRADICIONAIS X INTERESSES ECONÔMICOS
 
Se o governo brasileiro não aplicar imediatamente medidas para resolver essa crescente violência, haverá com certeza mais vítimas. O governo deixa para segundo plano a defesas dos direitos dos povos indígenas e tradicionais, em nome dos interesses econômicos.
 
A verdade é que os defensores do meio ambiente estão colocando suas vidas em risco para proteger suas terras, florestas e rios contra a indústria do desmatamento e os produtores de carvão. 
Os brasileiros e o mundo precisam ser solidários com os povos da floresta, pois eles são os guardiões da biodiversidade tropical.