Reconhecimento Ambiental
DALGAS FRISCH RECEBE ORDEM da ESTRELA DO ACRE
9 de agosto de 2016Ornitólogo volta ao Acre 54 anos depois de ter gravado, no Seringal do Bagaço, o canto o uirapuru.
Em 1962, Dalgas Frisch utilizou uma parabólica construída por ele mesmo, acoplada a um sofisticado equipamento Nagra, para gravar os cantos de pássaros da Amazônia e do Pantanal.
Altino Machado – Rio Branco-AC – O governador Tião Viana condecorou em 5 de agosto, em Rio Branco, o engenheiro e ornitólogo Johan Dalgas Frish, 86 anos, com a Ordem da Estrela do Acre, no grau Comendador. Quando jovem, Dalgas teve saúde e coragem para se embrenhar pelas florestas e gravar a voz dos animais. Gravou cantos das aves mais lindas do Planeta que habitam o Cerrado, a Caatinga e a Amazônia. Às 7 horas da manhã do dia 9 de novembro de 1962, no Seringal Bagaço, em Rio Branco (AC), Dalgas Frisch foi o primeiro a gravar o melodioso e mítico canto do Uirapuru. Ainda em Rio Branco, Dalgas Frisch participou do AVISTAR, evento voltado para a observação de pássaros, realizado no Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre.
Fotos: Sérgio Vale
Johan Dalgas Frisch recebe a comenda ORDEM ESTRELA DO ACRE
DALGAS: UM DIVISOR DE ÁGUAS NA PRESERVAÇÃO
A preservação da vida selvagem, no Brasil, tem um divisor de águas. E este divisor tem nome e sobrenome: Johan Dalgas Frish. Dalgas Frisch, que vive em São Paulo, tem uma história de lutas e de vitórias desde a mais tenra idade.
Ainda garoto, ajudou seu pai Svend Frisch a desenhar as 1.800 espécies de aves brasileiras. Este trabalho está registrado num dos livros mais importantes da ornitologia mundial: “AVES BRASILEIRAS E PLANTAS QUE AS ATRAEM”.
Como pesquisador, estudou e documentou pela primeira vez a rota de aves migratórias – especialmente das andorinhas-azuis – entre o Hemisfério Norte e Azul.
Salvou falcões peregrinos, foi de Dalgas Frisch a iniciativa de criar o Dia da Ave e de fazer do Sabiá a Ave Símbolo Nacional.
Ainda como pesquisador, saiu na frente com um feito ainda inédito no mundo: Dalgas gravou a voz das formigas. O trabalho está publicado no seu novo livro a ser lançado ainda neste mês de agosto: “Uirapuru – A joia do Tucmucumaque”.
Há 50 anos, Johan Dalgas Frisch conseguiu juntar as maiores lideranças políticas dos países ocidentais para realizar um sonho impossível: criar o maior santuário ecológico do mundo, no coração da Amazônia, o Grande Parque Multinacional do Tumucumaque.
Para conseguir este feito, apoiado pelo jornalista Assis Chateaubriand, dos Diários Associados, pelo comandante Omar Fontana, da Transbrasil, por Amador Aguiar, do Bradesco, Dalgas Frisch simplesmente rodou o mundo para ter o apoio de vários chefes de Estado, como: Nelson Rockfeller, vice-presidente dos Estados Unidos, o herói Charles Lindbergh e o ex-presidente Dwight Eisenhower, presidente Honorário do WWF; Rei Leopoldo III, da Bélgica; Charles De Gaulle, da França; Rainha Elizabeth, da Inglaterra; do príncipe Bernhard, da Holanda, que era também o presidente mundial do WWF – World Wildlife Fund.
O PARQUE DO TUMUCUMAQUE
O Parque tem uma área de mais de 9 milhões de hectares. O Tumucumaque é um parque Trinacional, pois ocupa áreas contíguas de três países: Brasil, Guiana Francesa e antiga Guiana Holandesa, hoje Suriname. É muito maior do que a Suiça e a Holanda juntos.
Na década de 70, Johan Dalgas Frisch foi um visionário da sustentabilidade. Ele próprio levou ao presidente da República as pesquisas, relatórios e tecnologias para convencer o governo federal a obrigar empresas hidroelétricas a praticarem a fecundação artificial nas suas barragens. Essa iniciativa ajudou a salvar várias espécies de peixes, entre elas os dourados e piracanjubas.
Que Johan Dalgas Frisch é estudioso das aves, todos sabem. O que poucos sabem é que este ornitólogo de nome internacional é um engenheiro químico, que possui uma grande indústria de despoluição – a Oxicatalizador-Dalgas. O empresário Dalgas Frisch, Senhor das Aves, retira do negócio da limpeza de ar e da água o fôlego financeiro para patrocinar sua paixão passarinheira.
Autor de seis livros, presidente da Associação de Preservação da Vida Selvagem e palestrante de primeira grandeza em todo mundo, Johan Dalgas Frisch continua um sonhador inveterado. Nas suas publicações e palestras gosta de repetir: “Cultivar a natureza, defender o meio ambiente e proteger as aves é plantar harmonia e sustentabilidade. São as únicas fórmulas para colher saúde e paz”.
DALGAS: O ETERNO MENINO SONHADOR
Antes da solenidade de entrega da Ordem da Estrela do Acre, os participantes ouviram de uma acreana a declamação do poema MENINO SONHADOR, escrito há 10 anos por Silvestre Gorgulho em homenagem a DALGAS FRISCH.
MENINO SONHADOR
(por Silvestre Gorgulho)
Era uma vez um menino que vivia de sonhar.
Ele tinha o gen do sonho na alma.
Seu bisavô, Enrico Mylius Dalgas, foi um sonhador:
plantou todas as florestas da Dinamarca.
Seu pai, Svend, foi outro sonhador:
desenhou todas espécies de aves brasileiras.
E ele, aos 5 anos de idade, aprendeu a sonhar:
assobiava os cantos das aves
que viviam no jardim de sua casa.
Seus sonhos sempre tinham floresta no meio.
Ele sonhava com o zumbido do vento,
com o tilintar das folhas secas que caíam,
com o som das cachoeiras e com a beleza das aves.
Cresceu sonhando com a natureza.
De tanto sonhar, aprendeu que cada floresta
tinha um som diferente,
porque tinha ruídos diferentes,
porque tinha cantos diferentes
porque tinha vida diferente.
Aí resolveu cair na realidade e conhecer
todas as florestas brasileiras. Uma a uma.
Visitou a Mata Atlântica, os Campos do Sul,
a Caatinga, o Cerrado, o Pantanal e
a Floresta Amazônica.
Quanto mais se embrenhava na floresta, mais sonhos ele tinha.
Sonhos que viraram paixão.
Aí sua alma se mudou para os campos e
ele se apaixonou de vez pelos pássaros,
os habitantes mais alegres e
mais charmosos das florestas.
Era uma vez um menino que sonhou a vida inteira
e, aos 86 anos, ainda não acordou.
Ainda sonha que os homens façam pelas aves,
o que fazem por si próprios.
Sonha que as cidades respeitem mais estas joias da natureza
dando-lhes maior proteção, comer e beber.
Sonha, ainda, em viver eternamente apaixonado
e que esta paixão escorra das páginas deste novo livro
para dentro dos olhos, das mãos e
da alma de cada um dos habitantes desta bendita Terra
que possui a maior biodiversidade do mundo.
Johan Dalgas Frisch é um menino-passarinho de muitas mensagens.
A melhor delas: vida sem paixão é vida que se vai
como folha seca de uma árvore que cai.
Vida com paixão é vida que se vive intensamente,
prazerosamente e que deixa um rastro de luz
para iluminar eternamente nossas pegadas.
Era uma vez um menino que vivia de sonhar e
seus sonhos tinham sempre floresta,
paixão e o cantar fantástico, doce e
melodioso das Aves Brasileiras.
MENSAGEM DE DALGAS FRISCH AOS ACREANOS
Após receber a Ordem Estrela do Acre das mãos do governdor Tião Viana, Dalgas agradeceu a comenda e deixou uma mensagem aos acreanos.
Johan Dalgas Frisch: “Eu tenho a consciência que fiz minha parte. Talvez ainda pudesse ter feito mais. Com 86 anos, sei que tenho menos tempo para defender a vida selvagem e servir às aves do céu. Por isso, não posso perder nem um minuto e tenho de trabalhar sem errar”.
“Muito bom estar aqui no Acre. Aqui as pessoas sorriem, não estão de cara feia, tem uma energia boa. Me sinto muito feliz por estar de volta ao Acre, ainda mais recebendo esta homenagem maravilhosa das mãos do governador Tião Viana. Nas minhas andanças, conversas e encontros com professores, jornalistas e empresários sinto que a sociedade moderna se distanciou demais dos passarinhos.
Nossos avós e bisavós contavam histórias encantadoras de aves nos jardins e no quintal das casas, nos sítios e fazendas. Mas ao tempo que a população saiu do meio rural para o meio urbano o mundo das aves foi também se afastando terrivelmente de nossas vidas.
No meio rural, a monocultura quebrou o ciclo de alimentação e de procriação das aves. Nas cidades, apareceu um outro predador muito visível para nós, mas invisível para as aves: arborização inadequada, torres de celular, janelas e prédios envidraçados.
Como exortação e até como advertência, quero também lembrar alguns pesquisadores e poetas que souberam lutar pelas aves e tiveram nelas a maior inspiração.
A começar pelo maestro Antônio Carlos Brasileiro Jobim que estudou música e aves. Tom Jobim conhecia os passarinhos como conhecia as notas musicais: pelo nome e pelos detalhes. Tom fez as mais belas canções porque tinha sensibilidade para as aves. Tanta sensibilidade que Carlos Drummond de Andrade revelou: “Tom Jobim, deputado eleito pelos sabiás, canários e curiós para falar, não aos povos da Zona Sul do Rio, mas a toda criatura capaz de ouvir e de entender pássaros, trazendo-nos uma interpretação melódica da vida”.
O pesquisador Charles Darwin em sua autobiografia confessou que, quando criança, odiava a escola e preferia passar seu tempo observando as aves. Revolucionou teorias e explicou a vida na Terra.
Santos Dumont dizia que o melhor das ensolaradas tardes no Brasil era ouvir o cantar de um pássaro. “Passava meu tempo na varanda a contemplar o céu brasileiro e a admirar a facilidade com que as aves atingiam as alturas”.
O jornalista e escritor norte-americano Richard Louv aponta que uma série de distúrbios comuns entre as crianças – como déficit de atenção e obesidade – estão diretamente ligados à falta de contato com a natureza. “A observação de aves é a mais recomendada prática para reaproximar crianças ao meio ambiente”.
Minhas pesquisas comprovam o que diz o cientista Colin Waters. Os maiores inimigos das aves não são os seus predadores naturais, mas sim o ser humano. Existe hoje, em relação às aves, uma série de fatores decorrentes da expansão da civilização, como a destruição dos habitats, poluição das águas, ataques de cães e gatos domésticos, uso de agrotóxicos, provocação de queimadas, torres de celular, usinas eólicas, janelas de vidros transparentes e prédios espelhados.
Trazer as aves de volta é uma missão de mão dupla: além de dar condições para que as aves se alimentem, se sintam seguras e procriem, há que ter também muitos cuidados com a modernidade urbana e rural. Os predadores invisíveis estão aí comprometendo a vida das aves, destruindo seus ninhos, dizimando seus bandos e exterminando seus filhotes.
Cultivar a natureza e as aves é plantar harmonia para colher paz e saúde.”
Após a solenidade, uma foto para guardar de lembrança. Dalgas Frisch garantiu ao governador que o Acre mudou sua vida. Diz ele: “Foi um desafio achar o Uirapuru, ficar quatro meses atravessando a Amazônia. Cheguei aqui e realizei o meu sonho”