HOMENAGEM ÀS ÁRVORES

DIA DA ÁRVORES E INÍCIO DA PRIMAVERA

1 de setembro de 2016

E setembro chega trazendo a Primavera, que marca também o Dia da Árvore. De um lado, as comemorações e homenagens às árvores. De outro, as agressões com desmatamentos, queimadas e incêndios florestais

 “Aprendi com as primaveras a deixar-me 
cortar e a voltar sempre inteira”.
Cecília Meireles
 
 
 
 
 
A árvore oferece ao ser humano um caleidoscópio de serventias: é alimento, é matéria-prima para moradia, é sombra e até ataúde para sua despedida final.
 
 
 
O Dia da Árvore virou no mundo inteiro uma comemoração tradicional. A fauna e a flora são símbolos vivos de natureza exuberante, de alegria, beleza e harmonia ecológica. Sem árvores, a natureza empobrece. Sem floresta, não há água, não há fauna e a vida entra em colapso. Em diversos países e nas mais variadas culturas há um respeito e até adoração por algumas espécies de árvores.
 
No que diz respeito às comemorações, as datas podem variar, mas o sentido da preservação e da valorização da flora é uma realidade. Sempre na busca de conscientizar as gerações para proteger um elemento essencial na manutenção da vida.
 
A árvore oferece ao ser humano um caleidoscópio de serventias: ela é alimento, é matéria-prima para construção de sua morada, dela se retira substâncias químicas, óleos e medicamentos para um viver saudável, ela melhora o clima, protege os mananciais, evita erosões e oferece sua sombra.
 
Sem árvore, não há água, não há animais e não há equilíbrio ecológico. Não há vida. Como num ritual, são as folhas das árvores que alimentam a terra e suas raízes que sustentam e preservam o solo.
 
HISTÓRICO NO BRASIL
Até 1965, o Brasil sempre fez a festa anual da árvore no dia 21 de setembro, que marca o início da Primavera. Era comemoração nacional. A partir de fevereiro de 1965, o então presidente Castelo Branco, primeiro governo militar, sancionou o decreto-lei 55.795, que separou as comemorações.
 
No Centro-Sul, o Dia da Árvore continua em 21 de setembro. Mas no Norte e Nordeste, a festa da árvore passou a ser na última semana de março. Motivo: é justamente o período de início das chuvas e, portanto, propício ao plantio de sementes.
 
E o que acontece hoje, cinco décadas depois? Prefeitos, professores e alunos do Norte e Nordeste ainda insistem em comemorar o Dia da Árvore em 21 de setembro, contrariando o dispositivo legal. Por quê? Porque a mídia e os livros didáticos, ao referendar pura e simplesmente o 21 de setembro como o Dia da Árvore, contribuem muito para aumentar essa desinformação.
 
DESMATAMENTO
 
O grande crime contra as florestas
 

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As regiões da Amazônia, do Cerrado e da Floresta Atlântica continuam sendo derrubadas numa velocidade incrível. Outras áreas de floresta tropical sofrem do mesmo impacto. O Cerrado e Caatinga da região da Serra Vermelha, no Piauí, considerada uma das regiões com maior biodiversidade do Nordeste, segundo pesquisas do Museu de Zoologia da USP, coordenadas pelo cientista Hussam Zaher, é outra floresta que está virando carvão. Em 2006 o próprio Ministério do Meio Ambiente tinha aprovado um projeto que iria desmatar cerca de 78 mil hectares da floresta nativa para produção de carvão vegetal visando abastecer as industrias siderúrgicas do Brasil e do exterior.

 

Resultado de imagem para desmatamento A floresta onde se localiza a Serra Vermelha

A floresta onde se localiza a Serra Vermelha, no sul do Piauí, continua sendo alvo de destruição por empresários que estão transformando a vegetação em carvão vegetal. Os crimes ambientais acontecem onde ambientalistas e o próprio MMA querem implementar o Parque Nacional Serra Vermelha.

 
 
 
ÁRVORES EM POESIA
 
Em Setembro se comemora o Dia da Árvore e o início da Primavera. Então, nada melhor que do lembrar um belo soneto de Augusto dos Anjos.
 
 
 
A ÁRVORE DA SERRA
Augusto dos Anjos
 
 – As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho…
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!
 
– Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros…  no junquilho…
Esta árvore, meu pai, possui minh’alma!…
 
– Disse – e ajoelhou-se, numa rogativa:
“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
 
Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
 
 
 
 
 
PRIMAVERA
O dia em que a natureza venceu
(Silvestre Gorgulho)
                                                          
O fotógrafo LEANDRO BARCELLOS dá uma lição profissional e emocionante. Fotografa um pé de ipê que foi arrancado da floresta para servir de poste. Este exemplo de Porto Velho, em Rondônia, é muito forte. E pontual. O tronco do ipê amarelo cortado e transformado em poste recebe todo tipo de fiação. Fios de energia, de telefonia, de tevê a cabo e até a iluminação pública. A foto  mostra bem como o emaranhado de fios, pregos, ganchos e arames sufoca o ipê.
 
Ao abraço de urso, o ipê dá uma resposta pacífica aos agressores. Às marteladas, facões e serrotes, responde com amor. Ao desrespeito e abandono, oferece uma vez mais sua sombra e se veste de flores. Ao assassinato de seus galhos e folhas, responde com a vida.
 
Apesar do constante confronto entre o ser humano e a natureza pela utilização dos recursos naturais, a natureza responde sempre com magnanimidade e abundância. As provas de que a natureza é magnânima e exuberante estão aí aos montes: para despoluir um rio, basta deixar de poluí-lo. Para recuperar uma área degradada, basta deixá-la livre das agressões físicas e químicas. E para reconstituir uma floresta, basta recuar com as motosseras e proteger a área por alguns anos.
O poste-ipê ressuscita para anunciar a Primavera.
 
 
 
 
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O PÉ DE IPÊ QUE FLORIU    Foto: Leandro Barcellos

 

 

O MILAGRE DO IPÊ

 Silvestre Gorgulho 
 
 O Primeiro Ato é mais que conhecido:
– Esta árvore é minha! Vocifera o bronco.
Vai me trazer o conforto merecido.
Este pé de ipê é de excelente porte.
Tira-lhe os galhos… Raspa-lhe o tronco,
Pois que está condenado à morte!
 
 Vem, a seguir, o Segundo Ato:
– Tudo tem que estar pronto ao fim do dia.
Não há espera. Árvore é no mato!
Prendem-lhe fios, arames e pregos
Para que a modernidade em energia
Chegue a todo bairro em imediato!
 
 O Terceiro Ato é mais que previsível.
– Morreu como um crucificado!
É forte? Madeira de lei? É invencível?
Que nada! Estarei no meu sofá sentado
E este pé de ipê me dará alívio
Ao trazer luz, tevê e ar condicionado.
 
Como fez o Cristo no Calvário.
 O Ipê – no Quarto Ato – foi divino:
Abriu em belíssimo cenário
Pra ressurgir florido à espera
De ofertar flores ao assassino.
Exuberante! Lindo! Uma quimera!
Respondeu com paz, o solitário,
E saudou com vida a Primavera!