Apuí

MOSAICO DE APUÍ

4 de outubro de 2016

Região do Amazonas onde o contraste e a exuberância das belezas naturais estão ameaçadas pelo desmatamento

 

 

APUÍ é aqui, rodeados de florestas, rios e às margens da rodovia Transamazônica
 
 
 
O sul do Amazonas é uma região distinta do restante do estado. Com uma forte presença de imigrantes e descendentes do centro-oeste e sudeste do país, esta parte do estado se caracteriza por ter na agropecuária sua principal atividade econômica. Isso obviamente altera a paisagem natural e é bastante comum observarmos a floresta dar lugar a extensos campos verdes de pastagem.
 
 
REGIÃO DE ECOTURISMO
 
Além disso, Apuí possui um imenso potencial ecoturístico e surpreende os visitantes com suas belíssimas cachoeiras. Algumas chegam a atingir mais de 50 metros de altura, o que por si só já coloca a cidade como uma importante “rival” de Presidente Figueiredo pelo título de Terra das Cachoeiras.
 
 
 
 
Cachoeira da Seringueira (foto: Diego Brandão)
 
 
 
Próximas do perímetro urbano da cidade, mas ainda assim completamente cercadas pela floresta, merecem destaque a Cachoeira da Seringueira e a Cachoeira do Paredão, esta última com mais de 30 metros de altura e impressionantes 90 metros de comprimento. Para quem quiser se aventurar um pouco mais, uma trilha de motocross de 48 km leva à Cachoeira do 48, localizada no Rio Canadá, um imenso paredão rochoso de onde despenca uma poderosa cortina de água com cerca de 50 metros de altura.
 

 

Cachoeira do Paredão (foto: Diego Brandão)
 
 
Há também mais algumas pequenas cachoeiras que podem ser alcançadas por via terrestre, todas de acesso relativamente fácil. Mas se você deseja um contato realmente imersivo com a floresta amazônica, Apuí possui um local ideal: o Parque Estadual do Sucunduri.
 
 
 
 
As cachoeiras de Apuí são belas e requer da população e dos turistas muita proteção.. (foto: Hudson Ricardo)
 
 
 
UM SANTUÁRIO ECOLÓGICO NO SUL DO AMAZONAS 
 
O Mosaico de Apuí é uma área com mais de 2 milhões de hectares formada por nove unidades de conservação distintas que se espalham por dois municípios amazonenses, Apuí e Manicoré. Com a criação deste grande corredor ecológico, o governo tenta estabelecer uma barreira contra o crescimento do arco do desmatamento e a expansão da fronteira agrícola no sul do Amazonas.
 
Dentre todas as unidades que formam o mosaico, a principal é o Parque Estadual do Sucunduri. O local é um verdadeiro santuário da fauna e flora amazônicas e esconde algumas das maiores belezas naturais do estado.
 
O rio Sucunduri que dá nome ao parque é a porta de entrada. Navegando por suas curvas em uma expedição que dura em média três dias é possível encontrar diversas paisagens de tirar o fôlego, mas duas merecem destaque. 
 
A primeira é a Cachoeira do Monte Cristo, uma extensa esplanada rochosa por onde as águas do rio correm e na qual, de forma impressionante, dezenas de antas se aglomeram todos os dias para se alimentar das plantas áquaticas que nascem entre as pedras. Os animais mal percebem a presença humana, o que permite que os visitantes cheguem bem próximo a eles. A uma curta distância, é possível observar uma das mais curiosas relações simbióticas da fauna amazônica: no dorso das antas, vários exemplares de uma ave popularmente chamada de Chico Preto disputam espaço entre si, tudo para conseguir se alimentar dos parasitas que se escondem entre os pêlos dos grandes mamíferos. As antas, por sua vez, permanecem praticamente imóveis enquanto são “massageadas” pelas aves.  Em meio às rochas, vários outros pássaros também parecem querer se banhar nas águas, proporcionando um divertido espetáculo.
 

 

A Cachoeira Véu de Noiva é de uma beleza cênica única, no coração da floresta.
 
 
Mas se a Cachoeira do Monte Cristo impressiona por reunir vários exemplares da fauna amazônica em um único lugar, a Cachoeira Véu de Noiva nos deixa deslumbrados com toda a sua beleza cênica. Após percorrer alguns metros por um igarapé afluente do rio Sucunduri, nos encontramos diante da majestosa queda d’água e seus mais de 50 metros de altura. Um verdadeiro jardim do Éden cercado apenas pela floresta e pelo imponente paredão rochoso da cachoeira, a qual foi visitada pela primeira vez apenas em 2013.
 
O Parque Estadual do Sucunduri ainda oferece uma rota alternativa para quem quiser explorar o lado leste da unidade de conservação, navegando pelo Rio Juruena, que é a divisa natural entre os estados do Amazonas e do Mato Grosso. De águas levemente esverdeadas, o rio oferece corredeiras e praias de areia branca, todas inteiramente desertas.
 
Infelizmente, apesar de todo este potencial para o ecoturismo, a precária infraestrutura logística do estado dificulta bastante o acesso para quem deseja conhecer Apuí. Por incrível que pareça, é mais fácil chegar no município a partir de Porto Velho, em Rondônia, do que a partir de Manaus. Caso a polêmica estrada BR-319 estivesse pavimentada, Manaus teria não apenas uma ligação terrestre com o restante do país, mas também uma rota direta para as belezas naturais ainda desconhecidas do sul do Amazonas. 
 
 
SALTO AUGUSTO, NO RIO JURUENA
 
 
 
O rio Juruena está lá na região e o Salto Augusto é muito especial geograficamente e historicamente. A região é um dos marcos de uma das maiores viagens de reconhecimento da flora e fauna Amazônica, a expedição Langsdorff. O legado da ousadia do barão Grigóry Ivanovitch Langsdorff já motivo de uma série de 18 reportagens aqui na Folha do Meio Ambiente. Toda expedição está registrada na forma de um acervo científico de mais de duas mil peças, entre manuscritos redigidos em alemão gótico, desenhos, coleções minerais e animais. Langsdorff teve o apoio do Czar Alecsander, da Rússia, e do Imperador D. Pedro I e seu pai Pedro II. Entre artistas, botânicos, médicos, astrônomos, geógrafos e naturalistas, os 39 viajantes partiram em 1825 de Porto Feliz, às margens do rio Tiête (SP), e chegaram em 1828 à Belém (PA).
 
 
 
O DESMATAMENTO
 
Nove países compõem a região amazônica: o Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. A Amazônia ocupa uma área de mais de 6,5 milhões de km² na parte norte da América do Sul. 85% dessa região fica no Brasil (5 milhões de km², 7 vezes maior que a França) em 61% do território nacional e com uma população que corresponde a menos de 10% do total de brasileiros. A chamada Amazônia Legal compreende os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte dos estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão perfazendo aproximadamente 5.217.423km².
 
A Amazônia possui mais de 30% da biodiversidade mundial. O aumento da fronteira agrícola e pecuária, as queimadas, o garimpo e o tráfico de madeira são fatores do desmatamento na Amazônia. Esse desmatamento afeta a vida das populações locais que sem a grande variedade de recursos da maior bacia de água doce do planeta se vêem sem possibilidade de garantir a própria sobrevivência, tornando-se dependentes da ajuda do governo e de ONGs.
 

 

Como a região de Apuí é o segundo maior produtor de gado do Amazonas, o Ibama implantou uma base no município para reduzir o desmatamento. O próprio Ibama só este ano aplicou mais de R$ 5 milhões em multas por desmatamento.

 

 
O alto índice de desmatamento na região sul do Amazonas levou o Ibama a montar uma base de operação no município de Apuí, distante 455 km de Manaus, onde as áreas de floresta são cada vez mais devastadas para dar espaço a pastos. Entre agosto de 2012 e fevereiro de 2013, mais de 1600 km² da Floresta Amazônica foram destruídos, área equivalente ao tamanho da cidade de São Paulo. Os números são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em uma análise de perda de mata em nove estados da Amazônia. 
As áreas desmatadas quase sempre são ocupadas pelo gado, mas é possível praticar uma pecuária de forma sustentável. Em uma das propriedades do município, o gado é dividido em pequenos pastos e faz uma espécie de rodízio, uma semana em cada pasto. A rotatividade ajuda a preservar as áreas verdes sem precisar desmatar grandes espaços.