Tubarões
Matança de tubarões na pesca esportiva da bahia:
14 de novembro de 2016Hora de rever práticas predatórias em campeonatos e clubes náuticos
Na manhã desta última sexta-feira (11), às vésperas do torneio de pesca oceânica do Yacht Clube da Bahia, foi desembarcado um tubarão Mako medindo aproximadamente três metros e pesando mais de 200kg. A excitação de alguns sócios, ao ver o animal abatido, se misturou à decepção de outros. A campanha Divers for Sharks – Mergulhadores pelos Tubarões, em nome de seus quase 150.000 apoiadores em 85 países, incluindo empresários e profissionais do Mergulho Recreativo, e os especialistas em conservação que subscrevem esta Nota, desejam expressar também sua decepção e preocupação com o que parece ser uma falta de consciência do meio náutico baiano e brasileiro para com a situação dos tubarões e raias.
O Yacht Clube tem sabido orgulho de ser a única instituição da Bahia autorizada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura a organizar campeonatos de Pesca Esportiva, e, no seu site, afirma o seu foco “na preservação das espécies e responsabilidade social” através do incentivo à prática do Pesque e Solte. O Clube tem ainda outras iniciativas ambientais relevantes, pelo que nos entristece ainda mais que esteja promovendo um evento no qual espécies vulneráveis e ameaçadas estejam sendo mortas, dando uma sinalização equivocada à sociedade como um todo em relação a esses animais.
No caso em tela, o tubarão Mako (Isurus oxyrhincus) está na lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção, listado pela IUCN (União Mundial para a Conservação da Natureza) como vulnerável. A população global continua em declínio, e a espécie sofre inúmeras pressões antrópicas, entre elas a pesca oceânica.
O ciclo reprodutivo do tubarão Mako, como de diversas outras espécies de tubarões e raias, é extremamente longo, o que dificulta a conservação da espécie. A maturidade sexual é atingida apenas aos 18 anos nas fêmeas, e o tubarão dá a luz a filhotes vivos após um longo tempo de gestação, que dura de 15 a 18 meses.
Quase 40% de todas as espécies pelágicas de tubarão encontram-se ameaçadas de extinção. Um artigo científico publicado recentemente na revista Marine Policy estima que cerca de 100 milhões de tubarões são perdidos para a pesca todos os anos. E nesta última sexta-feira, o Yatch Clube da Bahia se juntou a esta estatística alarmante.
O tubarão Mako se diferencia de outros peixes de profundidade pela resistência a mudanças súbitas de profundidade e pressão. A espécie, portanto, tem altas taxas de sobrevivência pós-soltura (mais de 90%). E aos que se preocupam com “ataques de tubarão”, é importante salientar que, apesar de ser uma espécie de grande porte, o tubarão Mako é uma espécie de hábito oceânico, e o encontro com banhistas é raríssimo, assim como são extremamente raros os incidentes com tubarões em geral.
Os tubarões são, na realidade, importantes aliados para a conservação dos oceanos e manutenção da própria pesca enquanto atividade comercial e esportiva. Estes predadores de topo de cadeia são responsáveis pela manutenção do equilíbrio no ecossistema marinho, se alimentando de peixes e invertebrados que estejam menos aptos à sobrevivência, garantindo a saúde dos estoques pesqueiros de todo o mundo. Matar tubarões é diminuir a saúde dos oceanos.
Esperamos que o Yacht Clube da Bahia, enquanto uma instituição importante para o esporte náutico nacional, demonstre na prática o seu compromisso com a preservação das espécies, proibindo a captura de tubarões e raias em seus eventos esportivos, e considere proibir todo o desembarque de tubarões e raias em suas dependências. Que no futuro, o Clube incentive os seus sócios a devolverem ao mar quaisquer tubarões ou raias capturados durante, antes ou depois dos campeonatos, e ajude a educar seus sócios e frequentadores para a necessidade de proteger esses animais ameaçados.
José Truda Palazzo, Jr. – Mergulhador Advanced Open Water PADI
Paulo Guilherme Alves Cavalcanti – Instrutor de Mergulho SSI Platinum 5000
Co-fundadores, Divers for Sharks – Mergulhadores pelos Tubarões
MSc. Luciana Leite
Mestre em Conservação Ambiental pela Cambridge University, UK
Doutoranda na Oregon State University, USA
MSc. José De Anchieta Nunes
Mestre em Ecologia e Biomonitoramento pela Universidade Federal da Bahia
Doutorando no Programa de Pós Graduação em Ecologia e Biomonitoramento, Universidade Federal da Bahia
Dr. Cláudio Sampaio, PhD
Professor da Universidade Federal de Alagoas – Unidade de Ensino Penedo, Engenharia de Pesca
Links externos:
http://www.iucnredlist.org/details/161749/0
http://news.fiu.edu/2013/03/100millionsharks/52935
http://conphys.oxfordjournals.org/content/3/1/cov044.full