Ararinha-Azul

Curaçá, o Projeto Ararinha-Azul está de volta

3 de janeiro de 2017

Estudos preveem criação de UC na Caatinga baiana e levantamento de dados sobre como a maracanã-verdadeira pode ajudar na reintrodução da ararinha na natureza

 

 

 

 

O projeto Ararinha na Natureza está de volta à região de Curaçá, na Bahia, habitat histórico da ave considerada extinta em ambiente natural desde 2000. O projeto foi lançado em 2012 com o objetivo de implementar o Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação da Ararinha-azul, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do ICMBio, juntamente com parceiros externos e patrocínio da Vale.

Curaçá é um município da região do Vale São-Franciscano da Bahia, microrregião de Juazeiro. Fundada em 06/07/1832, está a 330m de altitude, tem clima quente e seco e em 2007 o IBGE estima a sua população em 31.889 habitantes. Municípios limítrofes; Abaré, Chorrochó, Jaguarari, Juazeiro e Uauá.
 
“Como a maracanã-verdadeira ajudará a recuperar uma das espécies mais ameaçadas de ave do Brasil?”. Esta é a questão. E projeto nesse sentido foi assinado entre a VALE e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) para que o ICMBio implemente, dentre outras ações, a criação da unidade de conservação ararinha-azul. 
 
 
 
 
A pesquisadora Grace Ferreira da Silva identifica os ocos com seis ninhos e 22 ovos.
 
 
 
 
O objetivo desse projeto é produzir informações sobre a ecologia, a biologia, as ameaças e o estado de saúde da maracanã (Primolius maracana) para subsidiar as futuras ações de reintrodução da ararinha-azul a partir de 2018, uma vez que a maracanã é a espécie mais similar ecológica e biologicamente à ararinha-azul. Ambas são simpátricas (aves que ocorrem numa mesma região) e dividiram o mesmo habitat. O último macho de ararinha-azul ficou pareado com uma maracanã até seu desaparecimento em 2000.
 
 
EXPEDIÇÕES A CURAÇÁ
 
A última a Curaçá se encerrou no dia 21 de dezembro de 2016. No ano foram realizadas quatro expedições. Nesta expedição, os participantes focaram no estudo da biologia reprodutiva da maracanã. Em novembro a equipe identificou os ocos marcados anteriormente com atividade de maracanãs (sentinelas, maracanãs dentro do oco, dentre outros…).
 
A bióloga Grace Ferreira da Silva, pesquisadora associada do Instituto Arara-azul, que trabalha na área há mais de dez anos, treinou a equipe do projeto, comunitários e voluntários. Foram confirmados seis ninhos, com 22 ovos, com posturas de três, quatro e seis ovos. Foram feitas ainda as mensurações necessárias e ovoscopia (iluminação do ovo para ver se está com formação de vascularização e embrião). Os ovos foram, depois, devolvidos para o ninho para os pais voltarem.
 
 
 
 
 
Aproveitou-se a oportunidade para a aplicação do questionário socioambiental, econômico e fundiário nas propriedades não incluídas anteriormente, tendo como objetivo embasar a ampliação da proposta original de UC ararinha-azul de uso sustentável apresentada anteriormente, com base em características socioambientais (famílias elegíveis para receberem programas sociais), vegetação (priorizando áreas com riachos importantes) e presença de maracanãs, além de auxiliar a finalizar um polígono para a proteção integral.
 
 
NOVA UNIDADE EM 2017
 
A unidade de conservação de uso sustentável que será criada terá aproximadamente 100 mil hectares e o objetivo de proteger a natureza e o uso das terras pelas comunidades tradicionais de maneira sustentável, por meio de garantia de acesso a programas sociais como o Bolsa Verde, o Pronatec e outros programas sociais.
 
Com isso, espera-se melhorar as técnicas produtivas, a renda das pessoas e, assim, diminuir a pressão de uso de recursos naturais que contribuem para a degradação ambiental local. A unidade de proteção integral ainda está em discussão quanto ao polígono e categoria.
 
Está, também, sendo avaliado nas comunidades a sanidade de psitacídeos (papagaios, maracanãs e periquitos) em cativeiro, visando ao conhecimento das doenças que os indivíduos de maracanã e ararinha-azul poderão enfrentar ao serem reintroduzidos, respectivamente, em 2017 e 2019, na região. Essa análise subsidiará o acompanhamento genético e de patógenos (agentes causadores de doenças) após a reintrodução.
 
 
ÁRVORES COM OCOS
 
Já foram marcados e georreferenciados 153 árvores com ocos das espécies carabeiras, muquém, mulungu, bem como espécies arbóreas usadas para a alimentação como a braúna, o angico, o marizeiro, o pinhão, a favela, dentre outras, nos riachos Barra Grande e Melancia, com potencialidade para a reprodução de maracanãs.
 
 
 
As pesquisadoras confirmaram os seis ninhos e se preparam para nova verificação
durante o ano de 2017.
 
 
Em 2017, os ocos nas árvores serão monitorados no período reprodutivo, que se estende de novembro a março, e será feito o manejo aplicado, com a colocação de transmissores em filhotes e a incubação artificial de ovos de maracanã para que os filhotes sejam reintroduzidos na natureza.