Naturalistas Viajantes

Freyreiss, Eschwege e Marlière – Parte 1

3 de janeiro de 2017

Quando os caminhos se cruzam no interior do Brasil

 

Os naturalistas viajantes foram muitos. Em reportagens anteriores, a Folha do Meio Ambiente mostrou o trabalho de vários deles. Começou em abril de 2013. Foram nada menos de 36 edições. São eles: Marianne North, Charles Darwin, Peter Lund, Eugenius Warming, Peter Brandt, Rugendas, Georg Heinrich von Langsdorff, Aimé-Adrien Taunay e Hercule Florence. Estes botânicos aventureiros se embrenharam pelas matas, rios, montanhas, tribos indígenas pesquisando flora, fauna, grutas, povo, cultura e a alma tropical brasileira. Cortaram o Brasil de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Todos eles vieram para o Brasil por uma paixão desenfreada pela mega diversidade do solo brasileiro. Todos deixaram a tranquilidade e o conforto da Europa para enfrentarem condições difíceis e terras inóspitas em busca do conhecimento. Relatórios, desenhos, pesquisas e estudos aprofundados da natureza exuberante e misteriosa de um país continental chamado Brasil estão hoje em várias universidades, bibliotecas e academias de ciências espalhados pelo mundo. Vamos começar uma nova série de reportagens falando de Georg Wilhelm Freyreiss (1789-1825), Wilhelm Ludwig von Eschwege  (17771855) e de Guido Thomaz Marlière (França 1767 – Minas Gerais 1836).

 

 
A série NATURALISTAS VIAJANTES, escrita por Miguel Flori Gorgulho, 
teve início em abril de 2013, com os desenhos da flora brasileira 
feitos pela inglesa Marianne North.
 
 
 
 
Na edição de junho de 2013 a Folha do Meio trouxe a história do dinamarquês Peter Lund, o Pai das 3 Ciências: espeleologia, paleontologia e arqueologia. Lund se fixou em Lagoa Santa, Minas Gerais, onde estabeleceu os fundamentos da paleontologia brasileira.
 
 
 
 
 
GEORG WILHELM FREYREISS
As coleções feitas por Freyreiss enriqueceram a Academia de Ciências da Suécia.
 
 
O zoólogo e botânico alemão Georg Wilhelm Freyreiss (1789-1825) era de origem humilde. Filho de um sapateiro à beira da indigência, sua paixão pela ciência natural, especialmente zoologia e ornitologia, e sua habilidade na preparação de animais levam-no a São Petersburgo, recomendado como assistente científico para Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852).  
 
No outono de 1812, Georg Freyreiss embarca para o Brasil, Após vários meses de estada involuntária e providencial em Estocolmo e Uppsala, ele desembarca, no final de agosto de 1813, no Rio de Janeiro. A convivência com Langsdorff, que retornara ao Brasil no mesmo ano como cônsul geral da Rússia, não resiste aos destemperos tropicais e Freyreiss não se acanha em bandear-se para o serviço do cônsul da Suécia, Lorentz Westin, que conhecera em Estocolmo. O pagamento adiantado de um ano de salário por Westin permite uma cisma da origem das desavenças. As coleções feitas por Freyreiss passam a enriquecer a Academia de Ciências da Suécia.  
 
 
VIAGEM A ABAETÉ-MG 
 
Entre os anos de 1814 e 1815, Georg Freyreiss viaja pela Província de Minas Gerais em companhia do Barão Eschwege, que vai a Abaeté para inspecionar a prospecção de chumbo na região. A importância de Eschwege na modernização das práticas extrativas de minerais e como pioneiro da indústria siderúrgica brasileira exige apresentação formal do personagem.
 
 
WILHELM LUDWIG VON ESCHWEGE
 
 
 
 
 
 
Barão de Eschwege 
 
Wilhelm Ludwig von Eschwege  (1777-1855), também conhecido por barão de Eschwege foi um geólogo, geógrafo e metalurgista alemão. Malungo de Langsdorff na Universidade de Goettingen, sua curiosidade intelectual diversifica sua formação. Estuda direito, ciências naturais, arquitetura, ciência e economia política, economia florestal, mineralogia e paisagismo. De personalidade ‘enigmática’, poucas informações sobre sua vida chegaram até nós. 
 
 
 
 
 
 
O Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, então professor de Metalurgia na Universidade de Coimbra é co-responsável pela vinda do Barão de Eschwege para Portugal. E depois para o Brasil.
 
 
José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), professor de Metalurgia na Universidade de Coimbra é co-responsável pela vinda do Barão de Eschwege para Portugal. Bonifácio solicitara a vinda de operários alemães especializados para a exploração de minas. Com os operários, vieram enviados também alguns cientistas. Dono de um mau humor crônico, Bonifácio aborreceu-se com a escolha da equipe e após a grosseria inicial, se recompôs, felicitou os recém-chegados e considerou-os seus hóspedes. Eschwege comenta que José Bonifácio vivia na Quinta do Almegue, nos arredores de Coimbra, com pouco conforto. O encontro é importante pela dimensão que ambos vieram a ter nos destinos de Portugal e do Brasil. 
 
Na juventude, Eschwege apaixonara-se por Sophie von Baumbach, mas o pai da moça tinha planos mais elevados para a donzela e desencoraja o romance. De asa partida, o rapaz une-se ao grupo de alemães arregimentado por Bonifácio e, em 1802, parte para Portugal, onde permanece até 1810, no cargo de Diretor de Minas. Da sua experiência em Portugal e das viagens de prospecção que empreende por todo o país, recolhe informações geológicas, paleontológicas, técnicas de mineração e de administração das minas em Portugal e nas colônias. Publica diversas obras científicas e participa da intelectualidade da época, que incluía, entre outros, sumidades como Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e Alexander von Humboldt (1769-1859). 
 
 
Proxima edição: 275 fevereiro de 2017 – INTENDENTE DAS MINAS DE OURO – O Barão de Eschwege segue em 1810 para o Brasil, a convite do príncipe regente D. João VI, para “reanimar a decadente mineração de ouro e para trabalhar na nascente indústria siderúrgica”. É encarregado do ensino das ciências da engenharia aos futuros oficiais do exército e continua seus trabalhos de exploração de minerais e da metalurgia.