Cartas

1 de fevereiro de 2017

O voz do leitor

CRISE HÍDRICA BRASÍLIA 1 
 
A Agência Nacional de Água – ANA, num ato totalmente irresponsável, autorizou uma fazenda de bananas, em Padre Bernardo, a simplesmente desviar o rio Descoberto para irrigação da propriedade.
 
Essa e outras outorgas do tipo para beneficiar fazendeiros da bacia daquele rio, têm deixado a barragem sem água e secando cada vez mais. A culpa não é falta de chuvas, e sim da incompetência dos órgãos que deviam zelar pela preservação dos mananciais hídricos e estão fazendo justamente o contrário. São essas trapalhadas da dupla ANA e ADASA que estão fazendo a água sumir das torneiras dos moradores.
 
O técnico ou analista do órgão que concedeu a outorga para o fazendeiro deveria ser investigado a fundo por um ato que é atentado a toda população atendida pelo reservatório do Descoberto.
 
Enquanto isso, a população tem que pagar a conta, seja por meio de faturas cada vez mais caras, seja pela falta d’água que já é uma realidade em grande parte da cidade.
 
Washington Luiz S Costa – Samambaia – DF
 
 
 
 
 
 
 
CRISE HÍDRICA BRASÍLIA 2
 
A crise hídrica que se abateu sobre Brasília é pura falta de gestão. A cidade perdeu sua referência quanto a segurança hídrica e alguns órgãos como a ANA, a ADASA e a Caesb ficam disputando quem é mais incompetente.
 
Não existe planejamento, não existe seriedade e não existe profissionalismo. A ADASA virou uma agência de empregos do partido do governador PSB. A ANA virou as costas para Brasília, outorgando licenças para pequenos fazendeiros no entorno que sugam o pouco da água que ainda existe. A Caesb só sabe aumentar o  valor das faturas e cobras multas. Mais nada. 
 
Gestão dos recursos hídricos na Capital da República virou uma ação entre amigos. Por isso este governo vai naufragar de vez.
 
Lima Gomes B Filho – Ceilândia – DF
 
 
 
CRISE HÍDRICA BRASÍLIA 3 
(Paulo Timm)
 
Na década de 70, quando se iniciou o estímulo à produção agrícola dentro do DF eu dizia, para espanto de muitos, que se deveria evitar isso, por várias razões, sobretudo em razão do uso da água. A atividade agrícola é grande consumidora de água e acabaria comprometendo o uso urbano e doméstico. De resto, o Distrito Federal é uma unidade atípica no contexto federativo. Sua função, para a qual foram e são canalizados recursos vultosos da Nação, é oferecer-se como o locus da administração federal, isto é, uma cidade eminentemente terciária. Claro que há um concurso entre a escala local, comunitária, da escala nacional, simbólica, mas esta última sempre será mais importante, mesmo atendendo as exigências dos residentes. Lamentavelmente, este tipo de debate desapareceu depois da Constituição de 88, tomando-se o DF como mais uma unidade da federação. ERRADO! O DF não tem substância federativa, daí não ter direito à uma Constituição mas apenas a uma Lei Orgânica. Tudo isso se reflete, hoje, na crise do abastecimento de água…Simplex…
 
Paulo Timm – [email protected] 
 
 
 
O DONO DO LIXO
(Madalena Rodrigues)
 
Hoje à tarde estacionei perto de um contêiner na 409 norte. Antes de descer para comprar o bolo de banana sem lactose na Fábrica de Bolos, dei um tempo ouvindo o final de uma entrevista na CBN. (Viciada em CBN!) Do carro fiquei observando um garoto de uns 17 anos. Moderninho, brinco na orelha, cabelo raspado dos lados e um topete em cima, (o nome do corte a tia ainda não captou), tênis verde-florescente, simples, mas fashion. Veio com uma garrafa de coca numa mão e um cigarro aceso na outra. Sentou na grade de proteção em frente ao bloco, abriu a coca, jogou a tampinha no chão e ficou tomando goles entre longas tragadas. Talvez pensando nos grandes problemas da humanidade. Eu o via e ele não me via. Terminou o cigarro e jogou a guimba no chão. Terminou a coca, saltou da grade, passou pelo contêiner e atirou a garrafa. Mas não acertou. De dentro do carro, ouvi o barulhinho do vidro rolando no chão. 
 
Tentando tirar proveito dos meus cabelos brancos, abri a porta do carro e chamei.
 
– Oi! 
Ele me olhou surpreso.
– A garrafa não acertou o contêiner, você viu? – eu disse com meu jeitinho de às vezes torrar a paciência de um. Delicadamente. (Tenho uma irmã que diz que ainda vou morrer de tesourada. Acho o vaticínio horrível e um pouco exagerado.)
– É… não acertou mesmo – ele disse encabulado – rolou pra debaixo do carro…
– Ué… Vamos ver se dá pra pegar. – Fechei o carro, rodeei e ficamos os dois, um ao lado do outro, olhando para a garrafa vazia debaixo do carro. Facílimo de ser acessada. 
– É… eu posso pegar a garrafa e jogar no contêiner… Ou você mesmo faz isso? – propus.
– Sim, eu pego. – Ele prontamente pegou o vidro e jogou no contêiner.
Mas a tia é insaciável. 
– Ótimo! E a tampa da garrafa?
– Ahn?
– Olha lá. Tá vendo? A tampa que você jogou chão, junto do bloco.
– Ah, mas é a tampa…
– É, mas se você pegar e jogar no contêiner é legal porque ajuda a manter esse lugar mais limpo. 
Demos uns passos, ele se abaixou, pegou a tampinha e eu emendei: 
– Er… tem essa guimba aí também, que você jogou… – “a tia tá indo bem até agora”, pensei.
– Ah, mas isso é só o cigarro… – ele pareceu chegar no limite. Delicadamente.
– Pois é… mas é melhor jogar no lixo em vez de deixar no chão… – abusei delicadamente. 
Ele se abaixou outra vez, pegou a guimba, agora menos satisfeito, foi até o contêiner, jogou a tampinha e a guimba. E acertou. 
 
No epílogo trocamos sinais de polegar e uma palavrinhas rápidas, “Legal!”, “Legal!” “Valeu cara!.” “É isso aí, tia. Vamo preservar né?”. E lá se foi, como diria meu pai, “todo simiconflautes” comércio abaixo. A tia ganhou o dia. (Desculpem a rima. É o de menos.) Perdi o final da entrevista na CBN. Era sobre o Jung, ó!
 
Madalena Rodrigues – Brasília – DF