Naturalistas Viajantes

Caminhos que se cruzam – Parte 2

1 de fevereiro de 2017

Freyreiss, Eschwege e Marlière

Freyreiss, Eschwege e Marlière

O Barão de Eschwege segue em 1810 para o Brasil, a convite do príncipe regente D. João VI, para “reanimar a decadente mineração de ouro e para trabalhar na nascente indústria siderúrgica”. É encarregado do ensino das ciências da engenharia aos futuros oficiais do exército e continua seus trabalhos de exploração de minerais e da metalurgia.

Em 1810 é criado pelo príncipe regente D. João o Real Gabinete de Mineralogia do Rio de Janeiro. Eschwege é indicado para a direção e para ensinar técnicas avançadas de extração mineral. Com a patente de tenente-coronel engenheiro, é nomeado "Intendente das Minas de Ouro" e curador do Gabinete de Mineralogia.
 
 
A PRIMEIRA FÁBRICA DE FERRO
 
 
 
 
Em 1811, o engenheiro Barão de Eschwege implantou a usina Patriótica, em Congonhas do Campo (MG), em local bem próximo aos centros mineradores de ouro. Em 1812 saiu de lá a primeira partida de ferro de qualidade industrial no país. Em 1822, após a declaração da Independência do Brasil, Eschwege voltou para a Europa junto com a família real. Aos poucos, a Patriótica foi se transformando apenas em ruínas, que até hoje estão em Congonhas do Campo.
 
 
O Barão de Eschwege inicia nas proximidades de Ouro Preto, Minas Gerais, os trabalhos de construção de uma fábrica de ferro, denominada de "Patriótica". Em 1811 sua siderurgia já produzia em escala industrial.  A fábrica encerrou suas atividades provavelmente em 1822, após a partida de Eschwege para a Europa, em razão de divergências entre os principais acionistas da empresa. O plano do Barão era de antecipar a fabricação da grande usina do Morro do Pilar e a de São João de Ipanema e de ser a primeira fábrica a produzir ferro industrialmente no Brasil. Abandonada, a fábrica logo transformou-se em ruínas, que são conservadas pelo IPHAN como testemunho histórico da indústria siderúrgica. Vêem-se ainda hoje os vestígios das construções e de algumas paredes de pedra. 
 
Em 1817 foram aprovados pelo governo os estatutos das sociedades de mineração, que estabeleciam as bases para a fundação da primeira companhia mineradora do Brasil, sugeridas por Eschwege.
 
Empreende viagens de exploração a São Paulo e Minas Gerais. Dentre as publicações de suas pesquisas geológicas e mineralógicas, sobressaem Pluto Brasiliensis (Berlim, 1833), a primeira obra científica sobre a geologia brasileira, e Contribuições para a Orografia Brasileira.
 
 
 
PRIMEIRA ESCOLA DE ENGENHARIA
 
 
 
 
 
 
Com Francisco de Borja Garção Stockler, estrutura o ensino nas áreas da matemática e da física na Academia Militar do Rio de Janeiro, escola militar criada por carta régia de 4 de dezembro de 1810, uma das instituições antecessoras da atual Academia Militar das Agulhas Negras. É a primeira escola de engenharia do Brasil.
 
 
 
 
Em 27 de junho de 1814, Langsdorff escreve à Academia de Ciências da Rússia sobre o encontro "com meu camarada de universidade barão Eschwege, que há muitos anos já vive na província de Minas Gerais, a serviço de Portugal". Envia a ‘Memória e o Diagrama dos conhecimentos’ que Eschwege possuía da terra e propõe à Academia aceitá-lo entre os seus membros correspondentes. 
 
Eschwege regressa à Alemanha em 1821 rico e respeitado e reencontra Sophie, agora uma dama da corte de Weimar. Os obstáculos sócio-econômicos do Sr. Baumbach se desvanecem e o casamento é efetuado. Goethe, amigo dos Baumbach e leitor das publicações de Eschwege, encontra-se então pessoalmente pela primeira vez com seu correspondente. 
 
 
 
GOETHE E O DIAMANTES BRASILEIROS
 
Nos diários de Goethe, há registros de mais de vinte encontros dos dois, até a morte do poeta e escritor em 1832. O poeta é o encarregado das minas do principado e entusiasmado geólogo diletante. Adquire de Eschwege diamantes brutos e amostras mineralógicas para a coleção de pedras preciosas do Grão-Duque. Goethe comenta: “Uns cinqüenta cristais de diamantes brutos, peculiares isoladamente e mais ainda quando observados em série, ora descritos e classificados conforme suas formas pelo Sr. Soret, me proporcionaram uma nova visão desse extraordinário e supremo fenômeno da natureza”. 
 
 
 
 
 
Johann Wolfgang Von Goethe foi um importante romancista, dramaturgo e filósofo alemão. Nasceu na cidade de Frankfurt em 28 de agosto de 1749 e morreu em Weimar,  no dia 22 de março de 1832. Goethe formou-se em Direito, mas sua paixão era a literatura. Fez parte de dois movimentos literários importantes: romantismo e expressionismo.
 
 
Goethe também se encontrou com o botânico von Martius e, ao ler seus livros, dizia “sentir-se em casa nesse distante continente (o Brasil)”. Ficou tão familiarizado com nossas plantas que descobriu um erro na descrição da cainca, poaia ou ipecacuanha e usou suas relações com “brasilianistas e cientistas” para corrigi-lo. Possuía em sua biblioteca muitos livros de viajantes e dizia que “a visita dos viajantes me dá a oportunidade de viajar sem me deslocar” ou “como não sou mais jovem, a alternativa é de viajar por meio das bibliotecas”. 
 
HOMENAGEM A GOETHE
 
Em sua coleção de objetos exóticos, muitos eram brasileiros, inclusive uma rede feita pelos índios com as folhas do buritizeiro, presente provável de von Martius. O príncipe-viajante Maximiliano de Wied coletou em Ilhéus, na Bahia, uma planta brasileira da família das malváceas, descrita e nomeada por von Martius como ‘Goethea’ e assim expressou a homenagem: “A Goethe, ornamento da pátria, flor deliciosa e perpetuamente alegre, este florido monumento”.  
 
O jornal ‘Ciência para Todos’ de agosto de 1949 esclarece: ‘A espécie tipo ‘Goethea cauliflora, Nees e Mart’, é peculiar a Ilhéus no estado da Bahia; é um endemismo exclusivo, de floresta soberba,  que além de importantíssimos caracteres específicos, apresenta ainda a particularidade de sensíveis semelhanças, de porte e composição vicariante, com a flora amazônica, segundo informações fidedignas, o que torna muito grande o seu valor para a fitogeografia genética’. 
 
Eschwege sobrevive mais de duas décadas ao mais importante escritor alemão e, entre os anos 1836 e 1840, colabora nos planos arquitetônicos para a construção do Palácio Nacional da Pena, em Portugal. A sua vasta obra, a maior parte escrita em alemão, ainda é inédita em português. Morre na Alemanha em 1855.