FEBRE AMARELA

Da morte do Rio Doce ao surto da Febre Amarela

2 de março de 2017

A culpa não é do macaco. A culpa é do homem.

 

 

 

Esta é uma delicada questão bioética, alerta o biólogo André Ruschi. A Febre Amarela que amedronta Minas Gerais e o Espírito Santo não é culpa do macaco. É culpa do ser humano. Vamos aos fatos. No final de 2015, após a tragédia de Mariana, o biólogo André Ruschi visitou uma fazenda, no município de Baixo Guandu, no Espírito Santo, que fica às margens do Rio Doce, para fazer uma análise do rio.

André Ruschi fez a seguinte pergunta ao gerente da fazenda:
 
– Você tem ouvido o coaxar dos sapos?
 
– Não, disse o gerente.
 
– Então temos que nos preparar para um surto de Febre Amarela.
 
E continuou André Ruschi: 
 
– Sem peixes e sem sapos é inevitável isso acontecer. Peixes e sapos são os maiores predadores das larvas dos mosquitos que transmitem todas essas doenças.
 
Entendem, agora com o equilíbrio biológico é importante na natureza?
 
Desde novembro de 2015, a lama no Rio Doce matou os peixes que comiam as larvas, e sapos que comiam os mosquitos, que transmitem a Febre Amarela.
 
A culpa não é do macaco. A culpa é do homem.
 
 
QUEM FOI ANDRÉ RUSCHI
 
 
 
André Ruschi tinha o DNA das ciências e da defesa da natureza do pai: o cientista Augusto Ruschi.
 
 
André Ruschi foi um dos biólogos e ambientalistas mais influentes e combativos do Espírito Santo. Morreu cedo, aos 60 anos, após alertar sobre os resíduos tóxicos no Rio Doce depois do rompimento de uma barragem da mineradora Samarco.
 
Desde o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, no dia 5 de novembro de 2015, André Ruschi denunciou incansavelmente as diversas consequências que esse crime ambiental traria para a biodiversidade. Assim que ocorreu o fato, ele exigiu publicamente que a Vale, Samarco e BHP Billiton buscassem reverter os danos causados.
 
André Ruschi era filho de Augusto Ruschi, responsável pela criação de duas instituições científicas, o Museu de Biologia Professor Mello Leitão e a Estação de Biologia Marinha Ruschi, ambos localizados no Espírito Santo. 
 
O Museu Mello Leitão está localizado bem no centro da cidade, na área da antiga Chácara Anita da família Ruschi. Ele foi criado em 1949 pelo próprio Augusto Ruschi para dar suporte ao seu trabalho de pesquisa. Dois anos antes de sua morte, em 1984, ele doou a área para o Governo Federal, que hoje o administra através do Instituto Brasileiro de Museus.
 
Endereço do Museu Mello Leitão
Av. José Ruschi – Nº 4, 
29650-000 – Santa Teresa – ES
Telefones: (27) 3259-1182 / 3259-1696 / 3259-2100
 
 
 
O valor científico de Augusto Ruschi está registrado nos seus trabalhos, seus livros e suas lutas pela biodiversidade. E também numa homenagem do Banco Central.
 
 
 
Augusto Ruschi foi um agrônomo, ecologista e naturalista brasileiro. É o Patrono da Ecologia no Brasil e um dos ícones mundiais da proteção ao meio ambiente. O interesse pelo estudo de insetos e outros animais, desde a infância, permitiu que conhecesse a fundo diversos ramos da biologia.
 
Quando adulto, tornou-se professor titular da UFRJ e pesquisador do Museu Nacional, com vasta produção técnico-científica. Ajudou no combate a pragas na agricultura, na implantação de diversas reservas ecológicas brasileiras, como o Parque Nacional do Caparaó, e na divulgação científica acerca da natureza, produzindo cerca de 450 trabalhos científicos, 22 livros e um grande acervo sobre a Mata Atlântica. Criou duas instituições científicas: o Museu de Biologia Professor Mello Leitão e a Estação Biologia Marinha Ruschi.
 
 
 
 
 
AGITADOR ECOLÓGICO
 
Não há como falar de beija-flores sem lembrar Augusto Ruschi. Ele era a maior autoridade no assunto.  Ruschi fez história e foi um dos primeiros homens a denunciar os efeitos danosos do DDT (utilizado na agricultura) sobre a natureza.  Seus estudos e palestras, além de defender as florestas, os mananciais tinham um toque contemporâneo: previu a escassez de água no mundo e chamou a atenção das autoridades para o  aquecimento global,
 
Augusto Ruschi foi o primeiro e mais importante agitador ecológico com atuação marcante no Brasil. Suas ações tiveram repercussão internacional. Sua vida e sua obra foram enfocadas no livro ‘RUSCHI, O AGITADOR ECOLÓGICO’, do jornalista Rogério Medeiros, com prefácio do jornalista, ambientalista e ex-deputado federal Fernando Gabeira.
 
O livro mostra a saga de um homem que não tinha medo de nada e desafiava os poderosos para defender suas ideias, sua floresta e seus animais. E por eles lutou até sua morte, em 1986.