TUMUCUMAQUE, MAIOR DO MUNDO

Parque do Tumucumaque

2 de março de 2017

Johan Dalgas Frisch, um brasileiro de sangue dinamarquês, tinha o sonho de preservar a Amazônia criando um parque tetranacional na fronteira de quatro países.

 

Brasil tetracampeão! Quatro vezes campeão. E o Tumucumaque também é tetra por dois motivos: o campeão dos parques em tamanho e por envolver, na sua criação, quatro países. 
 
E é o próprio Dalgas Frisch que conta: 
 
– “Desde que gravei o canto do uirapuru, uma estrela guia ilumina sempre meus caminhos. Os acordes de seu cantar me abriram portas, trouxeram harmonia para meus empreendimentos e fizeram a mim e minha família mais felizes. A notícia da gravação do canto da ave se espalhou rápido. Quando o jornalista Assis Chateaubriand, dono da rede dos Diários Associados, ouviu o maravilhoso canto, logo entrou em contato comigo. O dono de um império de jornais, revistas, rádios e tevês, ficou realmente deslumbrado. O mesmo interesse de Chateaubriand se concentrou no livro AVES BRASILEIRAS que eu acabara de lançar.
 
 
EXEMPLO DO KRUGER NATIONAL PARK
 
Lembra Dalgas Frisch que passou a frequentar a Casa Amarela do grande Chatô. Num desses encontros, ele teve a oportunidade de lhe contar o sonho da criação do Parque da Serra do Tumucumaque.
 
O mesmo sonho que Dalgas havia compartilhado com Sua Majestade, rei Leopoldo III, em Manaus. Assis Chateaubriand ficou muito entusiasmado com o projeto, pois viu nele a possibilidade de corrigir um grave erro que percebia em outros parques do gênero que visitara em várias partes do mundo. Por exemplo, conversaram muito sobre um parque que considerado emblemático.
 
Chatô e Dalgas conversaram sobre a mais famosa reserva natural da África do Sul, o Kruger National Park, fundado pelo presidente Paul Kruger, em 1898. Este parque foi alvo de um duro golpe. Poucas décadas após sua criação, vários povoados começaram a ser erguidos entre as nascentes e a entrada do santuário ecológico. Resultado: os leões e demais animais viram-se obrigados a beber água poluída pelos esgotos dos moradores daqueles povoados e cidades que nasciam às margens de rios e riachos.
 
Assis Chateaubriand ficou convencido que o mesmo podia acontecer com o Parque Nacional do Tumucumaque. Precisava, então, desde o início, ter todas as nascentes de seus rios incluídas dentro de seus limites, se não todo o esforço de conservação de suas belezas naturais seria perdido.
 
Dessa forma – recorda Dalgas – “Chateaubriand teve uma visão que engrandeceu meu sonho do Tumucumaque, justamente para que a reserva não padecesse dos erros cometidos em outras reservas ecológicas, como a do Kruger Park”.
 
 
 

 
Já em São Paulo, Dalgas Frisch foi convidado pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand a ir até seu “QG”, a Casa Amarela. – “Ele queria saber detalhes da façanha de eu ter gravado os sete cantos do uirapuru. Presenteei o dono dos Diários Associados com minha coleção de discos e livros e iniciei a conversa sobre o sonho do Parque Multinacional do Tumucumaque”.
 
 
APOIO INTERNACIONAL
 
Determinado a dar repercussão internacional ao sonho do Parque do Tumucumaque, Assis Chateaubriand decidiu buscar o apoio de um grande e especial amigo, o governador de Nova York, Nelson Rockefeller. Marcada a audiência com Rockefeller, Dalgas e Chatô foram para os Estados Unidos. Tão logo escutou todo o relato, o governador Rockefeller resolveu emprestar seu prestígio pessoal à missão e anunciou seu apoio para a criação do Parque do Tumucumaque.
 
Conta Dalgas que na ocasião, presenteou o governador com meu livro “Aves Brasileiras” e o disco “Cantos das Aves do Brasil”, então recém-lançado pela gravadora Metro Goldwin Mayer em solo norte-americano.
 

 

Nelson Rockefeller e Dalgas Frisch. Rockfeller foi governador de Nova York de 1 de janeiro de 1959 a 18 de dezembro de 1973. E foi vice-presidente dos Estados Unidos de 1974 a 1977.

 

 

Tradução da carta de Nelson Rockefeller:
 
“Prezado Sr. Frisch: Foi muita atenção de sua parte ter me enviado uma pena do Uirapuru, que eu guardarei comigo na certeza de que me trará aquela sorte que os índios da Amazônia lhe contaram que ela me traria.
A Sra. Rockefeller e eu lhe agradecemos muito por nos ter enviado um exemplar de seu livro sobre os pássaros brasileiros, assim como as gravações de seus cantos, que nos farão lembrar das belezas e riquezas de seu país.
Desejo-lhe contínuo sucesso em seus esforços científicos e patrióticos”.
 
 
TUMUCUMAQUE JÁ EXISTE
 
 

 

Assis Chateaubriand era um homem de grandes desafios. Um desbravador. E o objetivo do poderoso jornalista de dar visibilidade ao sonho de Dalgas Frisch de criar o Parque do Tumucumaque teve lances realmente interessantes. Fora e dentro do Brasil. Para se ter ideia, Chatô publicou em sua rede de 35 jornais vários artigos enfatizando a importância do meu projeto. Chegou a pedir, num desses artigos, que o então Ministro da Agricultura, Ney Braga, requisitasse um avião da FAB para que Dalgas pudesse sobrevoar toda a área, com o objetivo de avaliar a extensão da futura unidade de conservação transnacional. E assim foi feito. Quando do retorno de Dalgas Frisch da viagem à  Amazônia, Chateaubriand publicou a provocativa manchete, em primeira página do Diário de S. Paulo:
 
 
TUMUCUMAQUE JÁ EXISTE
 
 

 

Facsímile do jornal DIÁRIO DE S.PAULO, dos Diários Associados, anunciando a criação do Parque multinacional do Tumucumaque.
 
 
E em várias reportagens por todo Brasil, os jornais dos Diários Associados anunciaram:
 
“O homem com alma de pássaro desceu na aldeia dos índios Tiriós, no coração da Serra do Tumucumaque”. 
 
 
 

 

Mapa publicado pelo jornal ‘Diário de São Paulo’, em janeiro de 1966, com a manchete “O grande Tumucumaque, sonho de Chateaubriand”. O mapa ilustra o maior parque tetranacional do mundo: Brasil, Guiana Francesa, Guiana Holandesa e Guiana Inglesa.

 
 
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Edição 277 – abril de 2017