Naturalistas Viajantes

DUENDES DO ESPINHAÇO – parte 5

18 de maio de 2017

A Serra do Espinhaço tem proteções através de seus exotéricos representantes: Juquinha da Serra, Dominguinhos da Pedra e Mozart da Chapada.

Resta a nós pedirmos a proteção do Espinhaço através de seus exotéricos representantes como José Patrício, o JUQUINHA DA SERRA, morador de alguma lapa no Alto do Palácio, que vagava pelos campos colhendo flores, mudas e raízes para oferecê-las aos turistas e falecido de vez em 1983, depois de várias mortes circunstanciais que lhe renderam fama de ser um duende ou um ET devido à catalepsia que o acometia;   Domingos Albino Ferreira, o DOMINGUINHOS DA PEDRA, que viveu 42 anos em uma pedra em Itambé do Mato Dentro e faleceu em janeiro de 2011 e foi tema do documentário “A Alma de Osso”, de Cao Guimarães;  Mozart Xavier de Senna, o MOZART DA CHAPADA, uma espécie de guardião do altiplano que divide as cabeceiras dos rios Preto, Araçuaí e Soberbo, no Alto Jequitinhonha, que organizava as atividades dos garimpeiros e dos coletores de sempre-vivas em área hoje preservada dentro dos limites do Parque Estadual do Rio Preto, missão respeitada pela administração do Parque até sua morte aos 80 anos, em 1999. A solidão e o jeito enviesado de perceber a realidade eram comuns a esses personagens que certamente têm outros companheiros ainda desconhecidos.

 

Estátua de Juquinha no Alto do Palácio, em Santana do Riacho.  Fonte: serradocipo.info

 

FREYREISS OBSERVA 

Freyreiss explora a flora e a fauna e o quê vê, extrapola seus propósitos iniciais e suas observações etnográficas se tornam abrangentes e muito interessantes. 
 
Freyreiss é um dos primeiros a chamar ‘brasileiro’ ao branco nascido no Brasil, anteriormente chamado de ‘português nascido no Brasil”, por nossa condição de colônia portuguesa. Considera que mestiçagem provoca uma "diversidade extraordinária", que além do branco, negro e índio, apresentava o mulato resultante da miscigenação entre brancos e negros, o caboclo, entre brancos e índios e o cabra, entre mulatos e negros. 
 
Em Barbacena, “chegamos a Grama, o mesmo lugar onde o inglês Mawe pretendia ter encontrado o ideal da beleza feminina nas filhas do dono da casa. O pai das belas tinha morrido e elas, com a viúva, estavam agora no gozo da liberdade que, como já tenho mencionado, não é vulgar no Brasil. Vimo-las e lhes falamos, mas achamos que as ideias inglesas, relativamente à beleza, não correspondem às alemãs”.
 
Ao passar por Vila Rica que diz não merecer mais esse nome, estica sua viagem até Congonhas e não se impressiona com as esculturas dos profetas feitas por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730 ou 1738-1814), recém executadas: “Antes de Congonhas do Campo chegamos à igreja de Nosso Senhor de Matozinhos, que dizem fazer milagres admiráveis e a quem todos os portugueses de Minas trazem as suas promessas em produtos tristíssimos. Diante da entrada para esta igreja, que se acha num morro, estão os doze apóstolos em tamanho natural”.
 
Percebe assim a alteração de comportamento à medida que adentra a província: “A hospitalidade dos brasileiros salientava-se cada vez mais ao passo que penetrávamos no interior e as despesas diminuíam dia por dia. Verifiquei então a verdade da frase russa que ‘os povos civilizados são menos hospitaleiros do que os povos atrasados’”.
 
Nas proximidades de Pompéu, estranha um costume brasileiro, felizmente ainda em voga: “O modo de despedir-se tem entre os brasileiros alguma coisa de particular; tanto ao despedir-se, como ao cumprimentar, os amigos e conhecidos abraçam-se”.
 
Perto do Rio São Francisco, rende merecidas loas ao utilíssimo e pouco valorizado urubu: “(…) atravessamos um deserto interminável, que de vida mostrava apenas aqui e acolá um passarinho ou, alto no ar por cima das nossas cabeças, de vez em quando, um urubu solitário. A Natureza não poderia ter criado um animal mais útil para os países quentes do novo continente, do que este urubu (Cathartes foeieus). Dotado de olfato finíssimo e peculiar ao gênero, fareja a carniça a léguas de distância, devorando-a com a maior gulodice, sem que a atmosfera chegue a ficar infectada”.
 
Passa por Indaiá e visita a exploração de chumbo na região de Abaeté. O Sr. von Eschwege, companheiro de viagem, era o encarregado dos trabalhos e diretor do estabelecimento.
 
De Abaeté, empreende a viagem de volta via Vila Rica, Mariana, Ourives, Meinard (Mainart) e Santana dos Ferros para se encontrar com o coronel francês Guido Marlière.
 
 
PRÓXIMA EDIÇÃO – 279 – Junho de 2017 – Parte 6. FREYREISS E OS INDÍGENAS – O depoimento de Freyreiss é o testemunho dos estertores da civilização original da região onde hoje estão as cidades de Viçosa, a antiga Santa Rita, e Guiricema, a Santana dos Ferros de então.