Genética

Análise genética revela segredos da criatura mais resistente do mundo

31 de julho de 2017

Conhecidos como ursos d’água, os tardígrados são capazes de sobreviver à radiação, ao congelamento, à desidratação extrema e até mesmo ao vácuo do espaço

 

Para pesquisadores, tardígrados estão mais próximos das minhocas do que dos insetos (Foto: Kazuharu Arakawa and Hiroki Higashiyama)

Para pesquisadores, tardígrados estão mais próximos das minhocas do que dos insetos (Foto: Kazuharu Arakawa and Hiroki Higashiyama)
 
 
 
 
 
Uma análise genética dos tardígrados revelou alguns segredos sobre suas notáveis habilidades de sobrevivência.
 
As criaturas microscópicas – também conhecidas como ursos d'água – são capazes de sobreviver à radiação, ao congelamento, à desidratação extrema e até mesmo ao vácuo do espaço.
 
Em estudo publicado na revista científica PLOS Biology, pesquisadores decodificaram o DNA de duas espécies de tardígrados e descobriram os genes que permitem a esses seres se regenerarem após a dessecação.
 
Com apenas um milímetro ou menos de tamanho, os tardígrados são considerados as criaturas mais resistentes na Terra. Uma pesquisa recente descobriu que eles sobreviveriam a quase todos os desastres cósmicos que poderiam atingir o planeta.
 
Esses animais são encontrados geralmente em locais que secam, como pântanos e lagos. Ao longo do tempo, eles adquiriram a habilidade de sobreviver à desidratação extrema e voltar à vida anos mais tarde, ao ter contato com a água.
 
Nesse novo estudo, cientistas descobriram que a chave para a sobrevivência dessas criaturas está na genética.
 
Em condições de seca, alguns genes dos tardígrados são acionados para produzir proteínas que substituem a falta de água nas células. Uma vez que a água está disponível novamente, as células são recarregadas, dissolvendo as proteínas.
 
De acordo com os pesquisadores, entender essa capacidade inata de sobrevivência dos tardígrados pode trazer benefícios para os seres humanos, como permitir que vacinas vivas sejam distribuídas em todo o mundo e armazenadas sem refrigeração.
 
"Os tardígrados, com suas habilidades incríveis, podem nos oferecer novas maneiras de lidar com problemas do mundo real, como o transporte de vacinas", afirma Mark Blaxter, coautor do estudo e professor da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
 
 
Mais próximo de quem?
 
Decifrar o modelo de DNA dessas criaturas resistentes também permitiu que a equipe avançasse em uma antiga polêmica. Os tardígrados são mais próximos dos insetos, das aranhas e seus parentes ou das minhocas?
 
Sua aparência curiosa, com oito pernas e garras, indica uma semelhança maior com os insetos do que com as minhocas, mas a análise genética diz o contrário.
 
Os genes HOX controlam o desenvolvimento da cabeça e da cauda, além do posicionamento dos membros.
A maioria dos animais tem dez desses genes, mas os tardígrados apresentam apenas cinco, assim como a maioria das minhocas.
 
É improvável que isso seja uma coincidência – o que sugere que eles têm mais afinidade com as minhocas.
"Foi uma surpresa que não esperávamos", disse Blaxter.
 
"Sou fascinado por esses animais minúsculos e encantadores há duas décadas. É maravilhoso finalmente ter seus verdadeiros genomas e começar a compreendê-los", acrescenta.
 
Os cientistas também descobriram um conjunto diferente de proteínas que podem proteger o DNA dos tardígrados, o que talvez explique como essas criaturas podem sobreviver à radiação.