Dia da árvore
Dia da árvore festa da primavera
31 de agosto de 2017Bom lembrar: o importante é que a árvore, a água, a terra e a vida devem ser comemoradas todos os dias.
A consciência ambiental está mudando a cabeça das pessoas, sobretudo pela força que chega das crianças. Escolas e movimentos socioambientais mostram que é melhor comemorar o Dia da Árvore, o Dia do Cerrado, o Dia da Terra e o Dia da Água todos os dias. É o único jeito de salvar a vida! Em meio a tantas comemorações e homenagens pelo Dia da Árvore, os brasileiros assistem, impotentes, a tantas queimadas e incêndios florestais. Mas vamos ao Dia da Árvore e o início da Primavera.
ÁRVORE DIVINA ÁRVORE
É justamente esse significado milagroso e até mágico, que dava à árvore – na Antiguidade – um caráter divino. Os romanos, para atrair felicidade, colocam no Ano Novo um ramo de louro à porta da casa e na cabeça de seus heróis.
Os hebreus derramavam óleo vegetal sobre a cabeça dos ungidos do Senhor. Os gregos e romanos consagravam bosques e árvores a seus deuses. Se para os chineses e hindus certas árvores eram identificadas como a origem da vida, até a Bíblia fez do paraíso uma floresta com a árvore do bem e do mal.
Os seguidores de Jesus Cristo celebraram sua entrada triunfal em Jerusalém com ramos de palmeira. E o Natal, sem uma árvore enfeitada de luz e presentes, não é Natal.
ORIGEM DAS COMEMORAÇÕES
Mas, afinal de contas, quando começou na Era contemporânea essa ideia de festejar o Dia da Árvore? A primeira notícia tem data de 1872, no estado norte-americano de Nebraska, quando o governador Helin Morton dedicou o dia primeiro de junho para uma festa pública de plantio de árvores. A iniciativa foi um sucesso e em pouco tempo a ideia foi se espalhando por outros cantos dos Estados Unidos. Não demorou muito para ser imitada por outros países.
O DIA DA ÁRVORE NO BRASIL
Até 1965, o Brasil sempre fez a festa anual da árvore no dia 21 de setembro, que marca o início da Primavera. Era uma comemoração nacional. A partir de fevereiro de 1965, o então presidente Castelo Branco, primeiro do ciclo revolucionário de 1964, sancionou o decreto-lei 55.795, que separou as comemorações. No Centro-Sul continuava o 21 de setembro e no Norte e Nordeste, a festa da árvore passou a ser na última semana de março.
E o que acontece hoje, 52 anos depois? Prefeitos, professores e alunos do Norte e Nordeste ainda insistem em comemorar o Dia da Árvore em 21 de setembro, contrariando o dispositivo legal. Por quê? Porque a mídia e os livros didáticos, ao referendar pura e simplesmente o 21 de setembro como o Dia da Árvore, contribuem muito para aumentar essa desinformação.
Beleza das árvores da Serra da Gandarela em Minas Gerais
MEIA POLÊMICA
O motivo dessa meia polêmica é simples. Em 21 de setembro, chegada da Primavera, coincide com o início das chuvas no Centro-Sul, enquanto é seca no Norte-Nordeste, onde só em março tem início o período chuvoso. Período de chuva é época de plantio. Como toda comemoração leva em conta o plantio de árvores, a data foi repensada e nasceram as duas datas.
Pensando bem, a lei para o Centro-Sul, pegou. Já a lei para comemorar o Dia da Árvore no Norte e Nordeste, em março, não pegou. O que fazer? Para alguns técnicos do Ibama, a situação não é fácil. Vários deles entraram em contato com as secretarias de Educação e de Meio Ambiente dos estados do Norte e Nordeste para desfazer o erro. Alguns governos locais fizeram até campanhas isoladas para conscientizar a população para a nova data. Mas pouco funcionou. A maioria das escolas e dos municípios do Norte e Nordeste continua comemorando o Dia da Árvore em 21 de Setembro.
O importante é que a árvore, a água e a vida devem ser comemoradas todos os dias.
FORÇA DAS MENSAGENS
Mesmo assim, a situação de deflorestamento e da proteção das matas ciliares é tão grave, que não tem problema nenhum de se fazer duas ou muitas comemorações pelo Dia da Árvore.
A força das comemorações no dia 21 de setembro tem explicação: os primeiros dois culpados são os livros didáticos e a mídia. Ambos teimam em divulgar o 21 de setembro como o Dia da Árvore para todo território nacional. Outra força é política e, talvez, uma questão de mercado. Afinal de contas, o maior mercado brasileiro para livros, jornais, revistas, rádios, tevês e internet está justamente no Centro-Sul-Sudeste, região mais populosa do Brasil. Assim, a discriminação com o Norte e Nordeste continua. Sem informação eficiente e convincente, as escolas, os governos e as prefeituras do Norte e Nordeste continuam promovendo festas, plantios, trabalhos, conferências sobre a Árvore na data errada.
DIA MUNDIAL DA ÁGUA
E poder-se-ía falar de um terceiro motivo. Atualmente, uma outra comemoração – desta vez promovida e incentivada pela própria ONU – passou a ocupar o calendário de março: a Água. Em 22 de março comemora-se o Dia Mundial da Água. E por que a ONU incentiva países, governos, escolas e organismos não governamentais a lembrarem a data com palestras, seminários, teatros e movimentos de cidadania? Simples. Porque é preciso sensibilizar todos os habitantes deste planeta, sobretudo as crianças, para três vertentes que devem ser debatidas: como acabar com o abuso, como evitar o desperdício e como estancar de vez as contaminações das nascentes e dos rios.
O Dia Mundial da Água pegou. Mais ainda: cresceu. Hoje as comemorações se estendem pela semana e até pelo mês inteiro. E foi, sem dúvida, mais um motivo forte que tem contribuído para distanciar as regiões Norte e Nordeste das comemorações do Dia da Árvore, em março, como manda a lei.
DIA DA ÁRVORE, DO CERRADO, DA TERRA E DA ÁGUA
A destruição das florestas para fazer carvão. Um pecado de lesa-pátria nas matas do Piauí, na região da Serra Vermelha.
O decreto do presidente Castelo Branco acabou indo por água abaixo, perdendo força para a mídia do Centro-Sul, para os livros didáticos e para a festa da água. Daí, vale a pena a pergunta: não seria bom unificar de uma vez o Dia da Árvore no Brasil, para o início da Primavera, e deixar março apenas para lembrar a água, esse recurso natural, finito e vital, que Natureza dá ao homem, mas que o homem teima em negligenciar e poluir? Afinal a água é um dos recursos naturais mais ameaçados pelas atividades humanas. O desmatamento, a derrubada das matas ciliares, a falta de saneamento, o desperdício, a ocupação irregular do solo e a péssima disposição final do lixo estão secando as nascentes, provocando a escassez, matando os peixes e adoecendo as águas. Quando as águas adoecem, as árvores e os homens ficam ameaçados.
Pensando bem, estou chegando a outra conclusão: é melhor comemorar o Dia da Árvore, o Dia do Cerrado, o Dia da Terra e o Dia da Água todos os dias. É o único jeito de salvar a vida!
BOX 1
UM POUCO SOBRE DENDROLATRIA
Nicolas Behr
O culto às árvores está na origem dos mais antigos ritos religiosos, sendo que as árvores são consideradas os primeiros templos. Por isso, muitas catedrais góticas foram construídas sobre carvalhos gigantescos. Uma curiosidade: a adoração de árvores persiste até os dias de hoje na árvore-de-natal.
Em muitas sociedades tribais ainda se veneram árvores como seres sagrados e os espíritos que vivem nelas são intermediários entre os homens e o divino, influindo no destino das pessoas. Isso torna a árvore instrumento de comunicação entre o Céu e a Terra.
Com a proximidade das ameaças reais do efeito estufa, com o aumento da temperatura do Planeta, o derretimento das calotas polares e o consequente aumento do nível dos oceanos, as árvores voltarão a ser veneradas, pois, só elas (e as plantas em geral) são capazes de resgatar o gás carbônico que lançamos irresponsavelmente na atmosfera.
Num futuro bem próximo, plantar e cuidar de árvores será uma atividade importantíssima. Como é hoje, por exemplo, ganhar dinheiro! Por tudo isso, não vamos esperar a ilha de Marajó desaparecer. Vamos começar a plantar árvores hoje mesmo.
www.nicolasbehr.com.br
BOX 2
SAMBA DO AVIÃO PARA DEFENDER A FLORESTA O RECADO DO MAESTRO TOM JOBIM
Vindo em um vôo de Nova York para o Rio de Janeiro, o maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim amanheceu nas asas do Jumbo da Varig sobre a divisa entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro, próximo à aterrissagem no Galeão. Sempre sensível às matas, às águas e às aves, Tom Jobim viu lá de cima o clarão da terra em voçorocas, buracões e paisagem deserta de uma região que tinha tanta floresta e mata que recebeu o nome de Zona da Mata mineira.
Tom Jobim não se segurou. Pegou o papel do menu do café-da-manhã e escreveu este desabafo de uma nota só: estão acabando com nossas árvores.
Sem Samba, sem Bossa Nova e sem compaixão, Tom Jobim deixou uma mensagem de aflição. Dos céus do Brasil fez seu alerta para as terras do Brasil, cujo nome nasceu de uma árvore linda, maravilhosa que também foi para o beleléu: o Pau-Brasil, cujo nome científico é Caesalpinia echinata.
As flores da árvore que deu nome ao País: Pau-Brasil
O desabafo do maestro Tom Jobim pela derrubada das matas.
Por Tom Jobim
“Brasil: um país lindo com nome de árvore. O Pau-Brasil é hoje uma raridade. O Brasil era um paraíso, um país mateiro, grande Nação Florestal. Floresta com onça, anta, macuco, madeiras preciosas que nem foram utilizadas, mas queimadas, as queimadas que começavam em Minas e iam até as praias do Espírito Santo.
Queimar; fogo, sempre fogo na fabricação demente, insana, do deserto. Depois vinha a chuva e carregava os restos e vinha o sol e cozinhava o chão.
Ao lado a voçoroca, o buracão profundo. Insensatos. A superfície da terra virou uma moringa, uma telha.
Amanhece no interior do Boeing Jumbro 747 da Varig. Lá embaixo Minas, Zona da Mata. Não tem mais mata. Estamos chegando… cadê a Floresta Atlântica? E a terra despencando morro abaixo. Um compatriota sentado ao meu lado me diz:
– Os americanos já destruíram suas matas, seus índios e nós temos os mesmo direitos… Meu Deus, o que que os índios pensarão disto, o que as árvores pensarão disto?
Chico Mendes falou na TV americana em bom português: – Vão me matar, não mandem flores, deixem as flores vivas na floresta.
Com legendas em inglês.
TOM JOBIM
O Maestro Tom Jobim e seu parceiro Vinicius de Moraes no Catetinho, durante a construção de Brasília, quando compuseram duas sinfonias da natureza: Água de Beber, Camará e Sinfonia da Alvorada.