Vagalume

A Arte de Vagalumear

29 de setembro de 2017

A linguagem do pisca-pisca dos pirilampos, vagalumes e uauás

 

 

As linguagens são muitas. A linguagem do fogo, das bandeiras, dos sinais, dos gestos, dos sons e das luzes. Quando uma pessoa está dirigindo um carro e quer indicar que vai entrar à direita, ela liga o pisca-pisca para a direita. Pronto! Quem está na rua, pedestre ou automóvel, já sabe o que significa aquele sinal. Os animais também têm suas linguagens. Das mais variadas, como o homem. Por exemplo, a lanterninha do vagalume também tem suas funções. A vagalume fêmea pisca para avisar ao macho que ele pode se aproximar dela para o acasalamento. O pisca-pisca também serve para espantar os inimigos, pois toda vez que a luz pisca, produz-se uma substância tóxica no corpo do vagalume. 

 
Os cientistas buscam explicar melhor a função da lanterna dos vagalumes, que, certamente, funcionam como a forma de comunicação do pisca-pisca dos carros. O que se sabe é que um vagalume macho sobrevoa a vegetação à procura da fêmea para o acasalamento. Enquanto voa, vai piscando num ritmo próprio de sua espécie. Lá embaixo, a fêmea da mesma espécie vagalumea no mesmo ritmo, como que para avisar que o macho pode se aproximar.
 
Um inseto chega perto do vaga-lume e ele está apagado. O vagalume dá o bote e faz sua refeição. Mas o pisca-pisca funciona também ao contrário. Como os vaga-lumes têm toxina em seu corpo, os predadores quando vêem o pisca-pisca já sabem que eles são presas indigestas.
 
 
BESOUROS ESPECIAIS
 
 
 
Na verdade, segundo os cientistas, os vaga-lumes não passam de besouros. Besouros especiais por emitirem luz. E eles formam três famílias diferentes: os elaterídeos, os fengodídeos e os lampirídeos. O que os diferencia são o lugar onde ficam os órgãos luminescentes e a frequência e também a cor da luz emitida.
 
 
 
BOX 1
 
A ARTE DE VAGALUMEAR METÁFORAS E POESIAS
 
Sou fascinado com uma bela metáfora. Até mesmo porque não há poesia sem metáfora. 
Clarice Lispector é a rainha das metáforas. Maravilhosa! Esta figura de linguagem é uma poderosa forma de comunicação. É como a luz do sol: bate n’alma e fica.
 
Incrível, mas uma das mais belas metáforas que já li é de um naturalista e geógrafo alemão chamado Alexander Von Humbolt, fundador da moderna geografia física e autor do conceito de meio ambiente geográfico. [As características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, relevo e clima]
 
Olha a metáfora que Humbolt usou para expressar seu encantamento pelo espetáculo dos vagalumes numa várzea em terras brasileiras.
 
 
"OS VAGALUMES FAZEM CRER QUE, DURANTE UMA NOITE NOS TRÓPICOS, A ABÓBODA CELESTE ABATEU-SE SOBRE OS PRADOS”.
 
 
Para continuar no mote dos vagalumes (ou pirilampos) tem a música do Jessé “Solidão de Amigos” com a seguinte estrofe:
 
“Quando a cachoeira desce nos barrancos 
Faz a várzea inteira se encolher de espanto 
Lenha na fogueira, luz de pirilampos 
Cinzas de saudades voam pelos campos.
 
 
Lindo demais!  É a arte de vagalumear.
 
 
 
 
CUPINZEIROS LUMINOSOS
 
A cientista Keila Eliza Grimberg, Licenciatura em Ciências Exatas da USP – São Carlos, explica que, no Brasil, o espetáculo da bioluminescência é oferecido pelos chamados "cupinzeiros luminosos". Estes cupinzeiros luminosos são encontrados na região amazônica e no cerrado, especialmente em Goiás. Muito comum no Parque Nacional das Emas. A concentração maior de vaga-lumes está no Cerrado e o melhor período de observação é de outubro a abril. No caso dos cupinzeiros luminosos, o fato é que a fêmea depois de fecundada, deposita os ovos no pé dos cupinzeiros. À noite, elas "acendem" suas luzes, atraindo insetos para sua alimentação.
 
 
 
Os cupinzeiros luminosos oferecem o espetáculo da bioluminescência
 
 
 
 
PIRILAMPOS, VAGALUMES E UAUÁS
 
 
 
Há diferenças entre pirilampo, vagalume e uauá
 
 
 
 
 
A rigor, pirilampo não é sinônimo de vaga-lume. São duas espécies de famílias diferentes. Para quem quiser saber mais detalhes sobre as diferenças entre pirilampos, vaga-lumes ou uauás, o pesquisador Eurico Santos, em sua Zoologia Brasílica, esclarece: 
 
PIRILAMPO (Pyrophorus nyctophanus) – Coleópteros da família dos elaterídeos e subfamília dos pirophorineos. É conhecido por tuco na Argentina, nas Guianas e mesmo em algumas partes do Brasil. Há centenas de espécies, mas a P. Nyctophanus é a mais vulgar entre nós. Os órgãos luminescentes, dois discos branco-amarelados com aspecto de olhos, localizam-se nas laterais da base do pronoto. Suas larvas são também luminescentes e seus órgãos fotógenos espalham-se pelo corpo em numerosas pequenas áreas. 
 
VAGALUME – Recebem este nome as várias espécies de coleópteros da família dos lampiridídeos (Lampyrididade) muito conhecidos pela luminescência branca esverdeada de que são dotados. A luminescência é exteriorizada através de áreas claras e translúcidas do tegumento do antepenúltimo (5°), do penúltimo e, às vezes, do último urosternito. Em algumas espécies, as fêmeas são ápteras. 
 
UAUÁ – Reminiscência do linguajar tupi, que ainda persiste em algumas partes do Brasil. É como se disséssemos pisca-pisca na língua gentílica.
 
 
BIOLUMINESCÊNCIA.
 
O vaga-lume ou pirilampo é um inseto da família Lampyridae, muito conhecido por suas emissões luminosas. A espécie mais comum no Brasil é a Lampyris noctiluca – nessa espécie apenas os machos são alados, embora em outras espécies ambos sejam alados; alimentam-se, principalmente, de lesmas e caracóis.
As conhecidas emissões luminosas destes animais devem-se a uma substância que ao entrar em contato com o ambiente é oxidada e produz uma molécula energizada que, por sua vez, produz a luz. Esse fenômeno é denominado bioluminescência.
A enzima luciferase actua sobre o substrato (luciferina), estimulando a emissão de luz.
 
 
PARA SABER MAIS PERGUNTAS E RESPOSTAS
 
O QUE SÃO VAGALUMES?
São besouros que emitem luz. Porém, nem todas as espécies possuem luminescência. Só algumas espécies, ao longo da evolução, incorporaram a bioluminescência porque ela facilita a comunicação sexual e a defesa. 
Os vagalumes que não emitem luz em geral desenvolvem atividades diurnas.
 
COMO É PRODUZIDA A LUZ DO VAGALUME?
A luz é produzida pelo organismo do inseto com uma reação bioquímica que libera muita energia. O processo, chamado de "oxidação biológica", permite que a energia química seja convertida em energia luminosa sem a produção de calor, por isso é chamada de luz fria. 
As luzes têm diferentes cores, pois variam de espécie para espécie e nos insetos adultos facilitam a atração sexual. Os lampejos equivalem ao início do namoro: são códigos para atrair o sexo oposto. 
Mas a luminescência também pode ser usada como instrumento de defesa ou para atrair a caça.
 
PROCESSO DE "PRODUÇÃO DE LUZ"
Uma molécula de luciferina é oxidada por oxigênio, em presença de ATP (trifosfato de adenosina), ocorrendo assim a formação de uma molécula de oxiluciferina, que é uma molécula energizada. 
Quando esta molécula se desativa, ou seja, quando ela perde sua energia, passa a emitir luz. 
Esse processo só ocorre na presença da luciferase, que é a enzima responsável pelo processo de oxidação. 
As luciferases são proteínas compostas por centenas de aminoácidos, e é a seqüência destes aminoácidos que determina a cor da luz emitida por cada espécie de vaga-lume. 
Para cada molécula de ATP consumida durante a reação, um fóton de luz é emitido. Portanto, a quantidade de luz enviada pelo vaga-lume indica o número de moléculas de ATP consumidas.
 
ENGENHARIA GENÉTICA
Há mais de uma década o fenômeno da bioluminescência dos vaga-lumes vêm sendo objeto de estudo. 
Técnicas de engenharia genética estão sendo usadas para fazer com que bactérias possam produzir luz. Para isso, é necessário isolar e multiplicar os genes dos elementos presentes no organismo do vagalume e inserir dentro da bactéria e esta passa a emitir luz como ocorre nos vagalumes.
 
"CUPINZEIROS LUMINOSOS"
No Brasil o espetáculo da bioluminescência é oferecido pelos chamados "cupinzeiros luminosos". Esses cupinzeiros luminosos são encontrados na região amazônica e no cerrado do Estado de Goiás. 
É no cerrado onde a concentração de vaga-lumes é maior, fazendo com que a paisagem fique com chamativos pontos luminosos. 
É observado principalmente no período de outubro a abril, em noites quentes e úmidas, como se fossem uma série de árvores de natal. 
O que ocorre na verdade é que a fêmea depois de fecundada, deposita os ovos no pé dos cupinzeiros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
A noite, elas "acendem" suas luzes, atraindo a caça; insetos que em geral são cupins, mariposas e formigas. 
Antigamente era possível observar no cerrado de Goiás enormes campos cobertos com esses cupinzeiros, mas com a ocupação da área para o plantio de soja os campos foram praticamente destruídos. É necessária a preservação desses campos, pois a importância dos cupinzeiros luminosos não está apenas associada com sua beleza. 
 
 
AMEAÇA AOS VAGALUMES
 
Um problema que ameaça os vagalumes é a iluminação artificial, que por ser mais forte, anula a bioluminescência, podendo interferir diretamente no processo de reprodução da espécie que podem sofrer perigo de extinção.