Folha do Meio

Há 28 anos

6 de novembro de 2017

1989 – 2017

 

Entrevista LUIZ SIMÕES LOPES

 

Silvestre Gorgulho e o professor Luiz Simões Lopes

 
 
 
( Rio de Janeiro – Junho de 1989) Mais atual, difícil. Mais oportuno, nunca. Quando vemos hoje a ONU e outras entidades propondo estratégias para se obter um desenvolvimento sustentável, recomendando maneiras e ajudando a definir noções comuns relativas a questões ambientais, não podemos imaginar que, neste mesmo Brasil, tão alvo de agressões do exterior, há 59 anos, precisamente em março de 1930, um brasileiro reformista, inconformado, empreendedor e sonhador já estava lutando pela nossa natureza. É fantástico ver que, este brasileiro, com 86 anos, despachando oito horas por dia em seu gabinete, ainda propõe soluções para o hoje e para o amanhã, com a mesma serenidade, lucidez e competência com que, em julho de 1938, por exemplo, promoveu o divisor de águas da administração pública brasileira com a criação do DASP, ou quando assinou a Exposição de Motivos ao presidente da República, para a criação da Fundação Getúlio Vargas.
 
O professor Luiz Simões Lopes, gaúcho, agrônomo formado em Belo Horizonte, um dos criadores da FBCN – Fundação Brasileira para Conservação da Natureza, mentor e primeiro diretor geral do Serviço Florestal, lançador de revistas sobre cultura e educação, como a Revista Florestal, de onde foram tiradas estas citações, desde a década de 20, sinalizava, pela primeira vez no País, "que a Terra era uma bola frágil e pequena, dominada não pela ação e pela obra do homem, mas por um conjunto ordenado de nuvens, oceanos, vegetação e solos" (Comissão Brundtland-1988) Simões Lopes vislumbrou, desde então, a grandiosidade desta tarefa. A humanidade precisava agir conforme essa ordenação natural. Há mais de meio século, este brasileiro – único na sua medida do País – deu seu grito de alerta. Viva a vida… Silvestre Gorgulho foi até sua sala na FGV, no Rio, e conversou com o professor. Eis a entrevista publicada na Folha do Meio, em 1989:
 
FMA – Seu pai, Idelfonso Simões Lopes, foi ministro da Agricultura de Epitácio Pessoa. Este fato influenciou sua formação de agrônomo?
Simões Lopes – Não, talvez tenha me interessado por agronomia, porque meu irmão mais velho estudou agronomia na Argentina. E, também, porque nós tínhamos fazenda. Formei-me em Belo Horizonte, mais fui aluno da Escola Luiz de Queiroz, em Piracicaba. Lá fui presidente de uma associação de classe, que estava parada e que incluía também professores da escola. Consegui uma coisa muito importante que foi reviver a revista da associação que se chamava "O Solo". Sou um criador de revistas. Em Niterói, trabalhei na revista "A Rama" e, no Ministério da Agricultura, criei a "Revista Florestal".
 
FMA – Todos os movimentos de saúde, de educação, de cultura e de valorizado do patrimônio têm seu apoio. Há 31 anos o senhor criou a FBCN…
Simões Lopes – Não, eu não fui o criador. Fui um dos que tomou parte naquele movimento. A fundação foi criada por um grupo grande. Nesta época, eu trabalhava com e presidente JK.
 
FMA – Quando o senhor começou a trabalhar com floresta?
Simões Lopes – Eu fui, em 1925, oficial do Gabinete do ministro Miguel Calmon. Fui convidado para ser secretário da Comissão, que ele tinha designado para preparar a legislação inicial do Serviço Florestal.
 
FMA – O senhor também foi o criador de várias revistas.
Simões Lopes – É que eu já tinha um interesse muito grande pelo assunto. Em 1930, eu já tinha a "Revista Florestal". Este aqui é um número bonito que consegui fazer (mostrando o exemplar). Eu era o diretor técnico, e o Francisco Rodrigues de Alencar, o gerente. Foi em 1930, era impressa no Rio de Janeiro e à minha custa.
 
FMA – Como compatibilizar ecologia e desenvolvimento?
Simões Lopes – Não há incompatibilidade. O território onde está situado Berlim, uma das grandes cidades do mundo, tem 75% de cobertura florestal.
 
FMA – Como o senhor vê a ocupação da Amazônia?
Simões Lopes – Considero uma destruição. Ela deveria ser ocupada, mas de maneira racional. A tecnologia tem que ir na frente. Conservando as matas densas, explorando, de maneira racional, as florestas. As nossas florestas, inclusive, são muito ricas até em remédios. Tirar uma floresta nativa e substituí-la por uma floresta produtiva é perfeitamente justificável. É só fazer um manejo. As árvores também têm vida e não vivem para sempre. Há uma certa época em que elas podem ser cortadas.