Amazônia e o desmatamento

Mulher Coragem

3 de julho de 2018

Zelma Campos, secretaria do meio ambiente de três municípios da Amazônia, está no olho do furacão do desmatamento da floresta

 

 

O pacto de lideranças ambientalistas, de ONGs internacionais e do próprio Ministério do Meio Ambiente pela redução do desmatamento na Amazônia tem provocado reações extremas dos traficantes de madeira, do garimpo e dos donos de projetos agropecuários na região. Há seis anos consecutivos, o Brasil é o país onde se morre mais ativistas que lutam por terra e defesa do meio ambiente, de acordo com a organização internacional Global Witness. A Amazônia Legal abriga 24 milhões de pessoas, 13% da população brasileira, em um espaço que corresponde a cerca de 60% do território brasileiro. A violência contra ativistas está aumentando: foram 32 vítimas em 2013, 29 em 2014, 50 em 2015 e 49 em 2016. E mais de trinta em 2017. E para falar sobre este ranking mundial de assassinatos contra defensores da floresta, ninguém melhor do que Zelma Luzia da Silva Campos, a MULHER CORAGEM que nasceu, vive e trabalha no coração da Amazônia, onde estão os maiores conflitos pela posse da terra.
 
 
BIÓLOGA E MULHER CORAGEM
 
 
 
 
Nascida em Altamira, Pará, 50 anos, casada e dois filhos, Zelma Campos é bióloga pela Universidade Federal do Pará e faz de sua vida uma defesa da floresta. Zelma Campos é atualmente Secretária Municipal de Meio Ambiente e Turismo na Prefeitura Municipal de Senador José Porfírio. Mas já foi Secretária de Meio Ambiente de Altamira e de do município de Rio Novo. A entrevista foi feita por Julio Galhardi, quando Zelma Campos foi convidada a participar do programa de intercâmbio denominado “Programa de Visitantes Internacionais” promovido pelo Departamento de Estado dos EUA, cujo objetivo é a troca de experiências entre profissionais brasileiros e americanos. Esse programa está sendo desenvolvido para um grupo de sete profissionais brasileiras de diversos setores e diferentes cidades do Brasil. 
 
Além da Zelma, foram convidadas duas participantes de São Paulo, duas participantes de Pernambuco, uma de Minas Gerais, e uma participante de Brasília.
 
 
ZELMA CAMPOS – Entrevista
 
 
 
 
Zelma Campos: “Considero missão o desafio de buscar soluções inteligentes e estratégica para o desenvolvimento dos municípios amazônicos”.
 
 
 
 
Para defender o meio ambiente na Amazônia precisa mesmo ser Mulher Coragem?
 
Zelma Campos – É fundamental, pois os desafios forçam tomadas de decisões corajosas em defesa dos recursos naturais na busca pela sustentabilidade dos municípios.
 
 
O que significa ser Secretária do Meio Ambiente de três municípios diferentes em regiões tão conflitadas da Amazônia? É procurar sarna pra coçar ou é missão?
 
Zelma Campos – Considero missão o desafio de buscar soluções inteligentes e estratégica para o desenvolvimento dos municípios. Em cada município, devemos considerar as diferenças especialmente no fator econômico. Altamira tem vasta dimensão territorial. Para fazer uma gestão qualificada temos que entender suas características atuais. Ali existem áreas de conservação da natureza, terras indígenas e áreas produtivas.  
 
Já Brasil Novo tem um cenário de pecuária extensiva e que, com o desembargo ambiental, necessita de uma mudança estruturante na economia rural agora com transferência de tecnologia. 
Senador José Porfírio é o único município descontínuo no estado do Para e apresenta realidades distintas na área onde fica localizado. 
 
 
O reconhecimento e premiação como este da Embaixada dos EUA ajuda ou é apenas mais um conforto pelo dever cumprido?
 
Zelma Campos – Ajuda muito a dar o merecido valor à liderança, que cotidianamente se lança nos desafios locais, para lutar na garantia da preservação dos recursos naturais bem como pela qualidade de vida. Este reconhecimento é um momento ímpar para encorajar a continuar no trabalho e sempre servir a causa ambiental na Amazônia, pois é preciso servir de inspiração para novos envolvidos na causa nobre e que seja conduzida com muita seriedade. Os interesses são muito desafiantes para se fazer o ordenamento de procedimentos de Ordenamento territorial e regularização ambiental.
 
 
Como você vê o futuro da Amazônia? Tem como diminuir o desmatamento?
 
Zelma Campos – O futuro da Amazônia é desafiante. O controle do desmatamento necessita de um conjunto de esforços integrados de lideranças governamentais e não governamentais, bem como o fortalecimento da legislação de meio ambiente, especialmente nos municípios da Amazônia. Há que ter uma formação continuada das equipes que trabalham a frente de tomadas de decisão governamental, fortalecimento e integração de centrais de inteligência com monitoramento por imagens de satélites, para intervenção assertivas em campo pelas equipes de fiscalização. Além disso, há que ter garantia de segurança para os agentes públicos especialmente dos municípios, pois estão sempre recebendo graves ameaças no exercício do trabalho. É um enfrentamento constante. Não é fácil fazer a salvaguarda dos recursos naturais, o combate aos ilícitos ambientais que ocorrem na maiorias da vezes em locais remotos.
 
 
E a grave questão do garimpo que polui o solo, a floresta e os rios?
 
Zelma Campos – Certamente a situação de garimpos na região é muito preocupante. Faz-se necessário uma revisão no Código de Mineração Brasileiro. Tem mais: quando os processos de licenciamento ambiental da atividade for em âmbito municipal, a equipe deve estar efetivamente preparada tecnicamente, para fazer gestão ambiental qualificada no território. As populações atingidas devem ser melhor ouvidas, as populações indígenas devem ter seus direitos assegurados, o que preconiza a OIT. É um ponto muito sensível, nos municípios da Amazônia.
 
 
Quais as instituições que mais ajudam você na defesa da Floresta?
 
Para fazer uma gestão ambiental compartilhada, foi preciso o engajamento especialmente das prefeituras, da câmara municipal, do governo do Estado do Pará, governo federal, universidades e dos ministérios públicos estadual e federal.
 
E a nível de entidades não governamentais, de uma forma mais próxima, posso citar o IMAZON, TNC, ISA, IPAM, IBAM, IAA, Fundação Viver Produzir e Preservar, associações comerciais, sindicatos rurais, Igreja Católica e Evangélica.
 
 
Não deve ser fácil fazer uma gestão compartilhada…
Verdade, fazer gestão ambiental compartilhada exige uma profunda dedicação, foco total no território, entender o cenário que está posto e partir para o real convencimento perante a causa, defendendo com veemência, de forma que todos possam fazer ampla defesa ambiental no município. Mas digo que com o apoio decisivo, de lideranças das entidades, devidamente sensibilizadas com a causa ambiental foi possível estabelecer uma sólida parceria, com ganhos de sustentabilidade nos municípios onde liderei a agenda municipal de Meio Ambiente.