Mudanças climáticas

Mudanças climáticas propiciam incêndios florestais

2 de agosto de 2018

No Brasil, o fator humano e as demandas do mercado são graves ameaças à natureza.

 

 

Chamas consomem uma casa em Lakeport, na Califórnia (EUA), durante incêndio florestal que assola o estado e foi apelidado de 'River Fire' (Foto: Noah Berger/AP)

Chamas consomem uma casa em Lakeport, na Califórnia (EUA), durante incêndio florestal que assola o estado e foi apelidado de 'River Fire' (Foto: Noah Berger/AP)
 
 
 
 
As florestas estão queimando como nunca no hemisfério norte, da Grécia à Califórnia. Apesar de ser um fenômeno recorrente nesta época do ano, a ferocidade do fogo assusta. Os incêndios são resultado de uma conjuntura de fatores, mas o efeito estufa estaria entre os culpados, dizem especialistas. No Brasil, o fator humano e as demandas do mercado são graves ameaças à natureza.
 
“Hoje o planeta em geral está 1°C mais quente do que há cem anos. Isso é mudança climática”, explica Carlos Nobre, pesquisador-colaborador do Instituto de Estudos Avançados da USP, e senior fellow do World Resources Institute – Brasil. “Isso é causado pela emissão de gases de efeito estufa que nossa sociedade moderna colocou na atmosfera, que por sua vez não conseguiu se livrar do excesso de poluentes”, continua.
 
Nobre explica que esse 1°C a mais contribui para deixar a atmosfera mais quente e a biomassa mais inflamável. “Quando a temperatura fica mais alta, ela faz com que o solo perca água mais rapidamente. A evaporação do solo aumenta muito. O solo secando, a energia solar passa a ser usada mais para aquecer o ar do que evaporação”, explica. “Ou seja, esse um grau a mais, junto com o solo mais seco e aliado a um período sem chuvas, são fatores que aumentam muito a flamabilidade da biomassa”, diz Nobre.
 
 
Calígula
 
O meteorologista Celso Oliveira, do instituto Somar, de São Paulo, lembra que este período de muito calor entre julho e agosto no hemisfério norte é chamado de “Calígula”, uma homenagem ao tirano e cruel imperador romano. “Este ano o calor está mais forte que o normal. Além das mudanças climáticas, fala-se também de uma mudança na temperatura do oceano Atlântico, intensificando um centro de alta pressão, um sistema que inibe a formação de nuvens de chuva, fazendo com que os dias sejam mais ensolarados e as temperaturas, mais elevadas”, diz Oliveira.
 
“Para se falar em extremo meteorológico, dificilmente você vai conseguir separar e falar que apenas um fator foi responsável. É uma soma de fatores e talvez o aquecimento global seja um deles”, argumenta o meteorologista.
 
 
Brasil
 
No Brasil, a ação humana, mais do que mudanças climáticas ou fenômenos naturais, influencia queimadas e incêndios na mata. “A floresta amazônica e a Mata Atlântica são biomas que evoluíram durante dezenas de milhões de anos com pouca influência do fogo”, explica Carlos Nobre. “Em uma parte densa da floresta, com dosséis altos e alta densidade de folhas, no máximo 4% dos raios solares chegam à superfície. No entanto, hoje, o uso do fogo na agricultura e a retirada de árvores torna o sistema mais inflamável e vulnerável”, alerta o especialista.
 
Celso Oliveira lembra também outro fator ligado às queimadas no Brasil: o mercado. “Se o preço das commodities está algo, a pressão sobre a fronteira agrícola faz aumentar as queimadas a fim de impulsionar as plantações, principalmente de soja".