Aves

Brasil sedia encontro sobre aves migratórias

2 de agosto de 2018

Especialistas de treze países se reuniram em Florianópolis para debater aves migratórias e conservação das espécies.

 

 

Pesquisadores do Cemave/ICMBio são responsáveis pela avaliação do estado de conservação das aves brasileiras e pela elaboração e coordenação de Planos de Ação Nacionais para conservação de espécies ameaçadas de extinção e das aves migratórias.

 

 

 
O Brasil sediou na última semana de julho, em Florianópolis (SC), duas reuniões da Convenção sobre Espécies Migratórias. A 1ª Reunião da Força-Tarefa para as Rotas de Aves Migratórias das Américas e a reunião de atualização do Memorando de Entendimento sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Aves dos Campos Sulinos da América do Sul e dos seus Habitats.
 
Os dois encontros foram compromissos assumidos durante a 12ª Conferência das Partes (COP) da CMS, em Manila, Filipinas, em 2017. A temática das reuniões está relacionada ao Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves Limícolas Migratórias e ao Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves Ameaçadas dos Campos Sulinos e Espinilho, coordenados pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMACE/ICMBio).
 
O objetivo da reunião foi avaliar a implementação do Plano de Ação e iniciar o planejamento de um novo ciclo, uma vez que o primeiro foi encerrado em 2015.
 
Já a Reunião da Força-Tarefa para as Rotas de Aves Migratórias das Américas teve como objetivo facilitar a implementação do seu Plano de Ação. O evento reuniu um grupo variado de especialistas e representantes de governos e instituições de diferentes países com o objetivo comum de melhorar os esforços de conservação para as aves migratórias e seus habitats. 
 
Participaram representantes do Brasil, Argentina, Cuba, Equador, USA, Costa Rica, Panamá, Canadá, Paraguai, Peru, México, Uruguai, além de membros do Secretariado da CMS, que fica em Bonn, Alemanha.
 
ESTRATÉGIAS E AÇÕES
Foram discutidas estratégias e ações para aumentar o envolvimento da sociedade e fortalecer parcerias e a participação dos governos e contribuição das comunidades nos planos e iniciativas para conservação das espécies Também para reduzir as ameaças e pressões existentes sobre as aves e habitats nas Américas, além de buscar proteção para as espécies que vivem do fenômeno da migração. Outro objetivo do encontro foi o de aumentar os benefícios advindos da conservação das aves, da biodiversidade, dos serviços ecossistêmicos e a capacidade de planejamento e gestão da biodiversidade pelas comunidades e governos locais e regionais.
 
 
MoU CAMPOS SULINOS
 
O Memorando de Entendimento foi acordado no âmbito da CMS e tornou-se ativo em 26 de agosto de 2007. Foi firmado por representantes da Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil, que se comprometeram a reunir esforços para trabalhar pela conservação das espécies migratórias de aves que utilizam campos naturais do sul da América do Sul.
 
Em dezembro de 2010, em Assunção, Paraguai, foi realizada a 1ª Reunião Formal dos Signatários do MoU Campos Sulinos. Na ocasião, os representantes dos governos aprovaram o Plano de Ação Internacional para a Conservação de espécies de Aves Migratórias dos Campos Sulinos da América do Sul e dos Seus Habitats, no período de 2010 a 2015.
 
 
FORÇA-TAREFA
 
A força-tarefa para a implementação do Plano de Ação para Rotas de Aves Migratórias das Américas foi convocada de acordo com o mandato aplicado pela Resolução 11.14 da CMS, sobre aves e rotas migratórias. A resolução solicita ao grupo de trabalho sobre rotas migratórias e ao secretariado da CMS o apoio para o estabelecimento de uma força-tarefa para coordenar o envolvimento de parceiros no desenvolvimento e implementação de um plano de ação para as rotas de aves migratórias das américas, incluindo disposições para ações de conservação para espécies prioritárias.
 
O objetivo da força-tarefa é estabelecer uma prática comum e compartilhada para a conservação de aves migratórias nos países das Américas, fortalecendo a implementação de iniciativas já existentes para a conservação de aves migratórias na região e promovendo a cooperação entre os países.
 
 O grupo de trabalho facilitará a implementação do arcabouço para aves migratórias das américas (The Americas Flyways Framework, sigla AFF em inglês) e do seu Plano de Ação, com foco no preenchimento de lacunas e ações de conservação.
 
 
AS ANDORINHAS MIGRATÓRIAS E O CONTROLE ECOLÓGICO DE PRAGAS
 
Para o ornitólogo Johan Dalgas Frisch existe um outro problema grave em relação às aves migratórias, sobretudo quando envolve as andorinhas-azuis que deixam o Hemisfério Norte no inverno e vem buscar melhores temperaturas e alimentos no Hemisfério Sul, especialmente o Brasil. O problema é a intolerância de comerciantes e prefeitos das cidades onde as andorinhas chegam em bandos e se estabelecem nas praças públicas. Se as pessoas reclamam da sujeira depois de uma noite de pouso nas árvores das praças, essas mesmas pessoas esquecem que as andorinhas têm um valor ambiental de primeira grandeza: segundo os pesquisadores, cada andorinha se alimenta de mais de 2 mil pequenos insetos por dia, como pernilongos, mosquitos, brocas, sugadores de cana-de-açucar, vaquinhas-de-feijão etc. Elas praticam o verdadeiro controle biológico de pragas, pois devoram estes insetos justamente nos meses de sua maior proliferação. 
 
 

 

 

 

ANDORINHA-AZUL (Progne subis) – O nome da espécie, subis – do latim subis = uma espécie de ave que quebra os ovos de águia. Já o nome do gênero, Progne – do latim progne = andorinha (Prokne ou Procne, personagem da mitologia grega, filha de Pandion, rei da Ática, casada com o rei da Trácia, Tereu. Procne, ao saber que seu marido havia violado sua irmã Philomela, vingou-se fugindo juntas. Perseguidas por Tereu, as duas apelaram aos deuses. Philomela foi transformada em rouxinol, Tereu transformado em coruja e Procne em andorinha.
 
 
 
EQUILÍBRIO ECOLÓGICO
 

 

 

"Esse equilíbrio ecológico feito pelas andorinhas faz baixar drasticamente o número de insetos vivos, sobretudo fêmeas dispostas à desova, evitando o perigoso crescimento de larvas e lagartas" explica o ornitólogo Dalgas Frisch. E o próprio Dalgas faz um alerta. "Logo, logo vamos sentir na pele a consequência do aumento dos pernilongos. E, também, o fato terá consequências econômicas, pois as plantações vão exigir mais uso de agrotóxicos".

Para se ter uma ideia do benefício que as andorinhas trazem para os agricultores, Dalgas lembra que nos Estados Unidos, como as florestas deram lugar a extensas e mecanizadas lavouras, as andorinhas-azuis quase foram extintas por perderem seu habitat de procriação. “O extermínio destas andorinhas só não aconteceu porque os agricultores norte-americanos perceberam os benefícios que elas traziam, pois bandos devoravam, diariamente, trilhares de insetos e larvas. Aí, os próprios agricultores começaram a recuperar seu habitat natural e até a instalar em suas propriedades casinhas de alumínio onde as aves pudessem morar e procriar”.
 
IGNORÂNCIA COMPORTAMENTAL
 
Conclui o ornitólogo Dalgas Frisch: “O tratamento dado às andorinhas para espantá-las, não só no Brasil mas em outros países da América Central, como Colômbia e Venezuela é terrível. Além de cortar as árvores das praças, estão fazendo fumaças tóxicas para espantar as andorinhas. Isso é uma ignorância. Os prefeitos, fazendeiros, indústrias frigorificas, não tem a menor ideia, das consequências nos dias de hoje de sua ação contra o meio ambiente. Afastam de suas cidades os maiores predadores de mosquitos. Dessa forma passam a ser responsáveis pelo ressurgimento de doenças como malária, febre amarela, dengue e também  a transmissão do terrível vírus da ZICA”.