NATURALISTAS VIAJANTES

Como resolver desentendimentos entre os índios – parte 11

7 de novembro de 2018

Jean de Léry explica: é vida por vida, olho por olho, dente por dente

 

 

 

Estamos na Parte 11 dessa viagem espetacular sobre o início da História do Brasil, num relato impressionante de Jean de Léry (1536-1613). Léry é aquele que entrou de gaiato no navio, ao acreditar na balela do poderoso Nicolas Durand de Villegaignon, embarcando em um dos navios franceses que vieram colonizar a porção Antártica da França. O relato que o artesão e futuro pastor calvinista deixou aos brasileiros é precioso. Nesta Parte 11, Jean de Léry conta como os índios resolvem suas desavenças na vida cotidiana da tribo.

 
 
RESUMO GERAL
 
Estamos na Parte 11. Acho que o leitor gostaria de ter um resumo das dez partes anteriores, se bem que pode buscar no site Folha esta história de Jean de Léry e de vários outros Naturalistas Viajantes.  O relato que o artesão e futuro pastor calvinista deixou aos brasileiros é precioso e deveria ser leitura obrigatória em nossas escolas.
 
PARTE 1 – ABERTURA (Edição 285 – Janeiro de 2018) – Lévi-Strauss explica: “A leitura de Jean Léry me ajuda a escapar de meu século, a retomar contato com o que eu chamaria de ‘sobre-realidade’, não aquele de que falam os surrealistas, mas uma realidade ainda mais real do que aquela que testemunhei. Léry viu coisas que não têm preço, porque era a primeira vez que eram vistas e porque foi a quatrocentos anos”.
 
PARTE 2 (Edição 286 – Fevereiro de 2018) – Jean Léry aporta pela primeira vez ao norte de Espírito Santo no final de fevereiro de 1557 e tem a oportunidade de observar de perto os índios, durante um escambo.
 
PARTE 3 (Edição 287 – Março de 2018) – Léry observa e anota o que permanecerá por séculos como documento raro do reencontro de seres humanos, separados há 40 mil anos, desde que deixaram a África para dominar o planeta. 
 
PARTE 4 (Edição 289 – Abril de 2018) – O incômodo que as mulheres nativas demonstram em cobrir o corpo talvez seja a gênese da tendência moderna dos exíguos acessórios indumentários femininos praticados no Rio de Janeiro:
 
PARTE 5 (Edição 290 – Maio de 2018) – Léry explica como os índios fazem o avati, a bebida do milho. São as mulheres que preparam, mastigando as raízes ou o milho.
 
PARTE 6 (Edição 291 – Junho de 2018) – Jean de Léry conta que “as abelhas da América não se parecem com as europeias. Antes se assemelham às pequenas moscas pretas que temos no tempo das uvas. 
 
PARTE 7 (Edição 292 – Julho de 2018) VOLÚPIA DOS EUROPEUS PELO PAU-BRASIL – Os tupinambás admiram porque os estrangeiros se dão ao trabalho de vir buscar o seu ‘arabutã’ (pau-brasil).
 
PARTE 8 (Edição 293 – Agosto de 2018) – AS GUERRAS TRIBAIS E COMO TRATAM OS PRISIONEIROS – “Quem cai no poder do inimigo não pode esperar remissão”.
 
PARTE 9 (Edição 294 – Setembro de 2018) – A festa canibalesca entre os Tupinambás. Move-os a vingança. Para satisfazer o seu sentimento de ódio, devoram tudo do prisioneiro.
 
PARTE 10 (EDIÇÃO 295 – Outubro de 2018) SOBRE O CASAMENTO E A POLIGAMIA ENTRE OS INDÍGENAS. Como os índios promovem seus casamentos e as regras para conseguir uma esposa e como acontece a cerimônia matrimonial.
 
 
 
 
 
 
 
PARTE 11 
 
OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE
 
Os desentendimentos particulares são resolvidos de forma curta e grossa: “Se acontece brigarem dois indivíduos (o que é tão raro que durante a minha permanência de quase um ano entre eles só me foi dado presenciar duas vezes) não procuram os outros separá-los ou apaziguá-los; deixam-nos até furarem os olhos mutuamente sem dar palavra. Entretanto se um deles é ferido prendem o ofensor, que recebe dos parentes próximos do ofendido ofensa igual e no mesmo lugar do corpo; e ocorrendo morrer a vítima, os parentes do defunto tiram a vida ao assassino. Em resumo, é vida por vida, olho por olho, dente por dente, etc. (…) No que diz respeito à propriedade das terras e campos, cada chefe de família escolhe em verdade algumas jeiras onde lhe apraz, a fim de fazer suas roças e plantar mandioca e outras raízes, mas quanto a heranças e pleitos divisórios, deixam aos herdeiros avarentos e demandistas cá da Europa tais cuidados”. 
 
 
A INVENÇÃO DA REDE
 
A invenção da rede é coisa de indígena brasileiro e Léry recupera a técnica tupiniquim de sua fabricação: “Para a fabricação das redes, que os selvagens chamam ‘inis’, usam as mulheres teares de madeira, que não são horizontais nem tão complicados quanto os dos nossos tecelões, mas perpendiculares e da altura delas; depois de as unirem a seu modo tecem as redes a começar pela parte inferior do tear. Certas redes são feitas à maneira de rendas ou de redes de pescar, outras têm as malhas serradas como o brim Gross. Têm elas em geral quatro, cinco ou seis pés de comprimento por uma braça mais ou menos de largura; trazem nas pontas argolas por onde passam as cordas com que os selvagens as amarram a dois postes fronteiros, expressamente fincados no chão para esse fim. E carregam os selvagens consigo essas redes tanto nas guerras como nas caçadas ou pesarias à beira-mar ou nos rios, suspendendo-as aos troncos das árvores para dormirem. Quando sujas pela fumaça dos fogos que acendem dentro de suas casas, ou por qualquer outro motivo, colhem as mulheres americanas certo fruto silvestre semelhante a uma abóbora, porém muito mais volumoso; cortam-no em pedaços, esmagam-no dentro d’água em qualquer vasilha de barro e batem-no com pauzinhos; assim se forma grande quantidade de espuma que lhe serve de sabão e que deixa as redes alvas como neve. Que tais redes são cômodas o dirão todos os que as experimentaram, principalmente ao verão”.
 
 
 
PRÓXIMA EDIÇÃO 297 – Dezembro de 2018 – Parte 12
PRIMEIRA VISITA AOS TUBINAMBÁS – Jean de Léry “Os nossos tupinambás recebem com muita cordialidade os estrangeiros que os vão visitar; como estes, porém nãos entendem a língua, ficam a princípio meio esquerdos entre eles. Visitei esses selvagens pela primeira vez três semanas depois de nossa chegada à ilha de Villegaignon e fui em companhia de um intérprete a três ou quatro aldeias do continente. Essa aldeia distava apenas duas léguas de nossa fortaleza e quando ali entrei vi-me logo rodeado por inúmeros selvagens que me perguntavam: ‘Marapê-dererê, marapê-dererê’