Pacífico
O misterioso lodo encontrado em ilha ‘recém-nascida’ do Pacífico que intriga a Nasa
8 de fevereiro de 2019A ilha surgiu em 2015 após uma erupção vulcânica no arquipélago de Tonga. Um grupo de cientistas e estudantes visitou o local pela primeira vez e encontrou um cenário diferente do que esperava.
A nova ilha, no centro da imagem, surgiu de uma erupção vulcânica em 2015 — Foto: Woods Hole
"Parecíamos crianças no meio daquilo."
Dan Slayback, pesquisador da Nasa, descreve a experiência que teve ao visitar uma nova ilha que nasceu no Pacífico e que vem, desde então, intrigando os cientistas da agência espacial americana.
A ilha vulcânica surgiu no oceano em 2015 após uma erupção e faz parte do arquipélago de Tonga.
Mas por que ela vem chamando a atenção?
A ilha é especialmente interessante porque apenas três, nos últimos 150 anos, nasceram de erupções – ela faz parte do grupo e tem sobrevivido há meses à poderosa erosão do oceano. Mas não é só isso.
Pistas que 'levam a Marte'
Entender como as ilhas se formam e mudam na Terra pode dar pistas sobre a interação entre terrenos vulcânicos e antigas fontes de água em Marte.
Pesquisadores da Nasa vinham monitorando a ilha através de satélites. Mas a realidade, em campo, pode ser muito diferente das imagens captadas de forma remota.
Slayback e um grupo de estudantes com quem esteve no local que o digam. Ao desembarcarem por lá, eles encontraram um cenário muito diferente do esperado.
Lodo e cascalho
Slayback visitou a ilha com um pesquisador de Tonga, cientistas e estudantes da Sea Education Association (Associação de Estudos Marinhos, em tradução literal), um programa de exploração oceânica para estudantes universitários com sede em Woods Hole, Massachusetts, nos Estados Unidos. O grupo chegou a bordo de um navio da Associação.
Vegetação nascida de sementes espalhadas por aves está colonizando a lama, na nova ilha do Pacífico — Foto: Dan Slayback
A ilha é tão nova que não tem nome e é descrita simplesmente como HTHH, a combinação do nome de duas ilhas próximas, Hunga Tonga e Hunga Ha'apai.
"A maior parte da ilha é como um cascalho negro. Eu não chamaria de areia porque as pedras são do tamanho de uma ervilha", disse Slayback, que é cientista do Centro de Voos Espaciais Goddard, o centro de pesquisas da Nasa em Maryland.
"(Para andar no local) quase todos usávamos sandálias. Era muito doloroso sentir as pedras debaixo dos pés", disse o pesquisador em um blog da Nasa.
"Me surpreendeu o quão valioso foi estar pessoalmente na ilha. Quando você está lá, vê claramente o que acontece com o terreno", disse Dan Slayback, pesquisador da Nasa. — Foto: Dan Slayback
Ele também observou que, no local, "há como uma argila que se estende a partir do centro". "Nas imagens de satélite você vê claramente esse material colorido, é lodo argiloso."
"É muito pegajoso. Quando o vimos não sabíamos o que era e sua origem ainda me intriga. Porque não é cinza vulcânica."
Vegetação e pássaros
A lama não foi a única surpresa para os pesquisadores.
Slayback e os estudantes fotografaram a vegetação que está colonizando o terreno e que provavelmente cresceu a partir de sementes que chegaram à ilha em fezes de pássaros.
Os cientistas também encontraram aves marinhas trinta-reis-das-rocas (Onychoprion fuscatus) na nova ilha — Foto: Dan Slayback
Uma coruja, inclusive, provavelmente residente na vegetação das ilhas próximas, apareceu no local enquanto estavam lá.
Os cientistas também encontraram aves marinhas trinta-reis-das-rocas (Onychoprion fuscatus), nas depressões da terra ao redor da cratera.
Os estudantes fizeram registros da nova ilha com unidades de GPS e usaram drones para mapear o terreno — Foto: Dan Slayback
Buracos nas falésias ao redor da cratera são outro mistério.
"Me surpreendeu o quão valioso foi estar pessoalmente na ilha. Quando você está lá, vê claramente o que acontece com o terreno", disse Slayback.
"A erosão causada pela chuva na ilha é muito mais rápida do que eu imaginava."
A erosão causada pela chuva esculpiu as falésias ao redor da cratera — Foto: Dan Slayback
Pesquisas
Os pesquisadores e estudantes coletaram amostras de rochas da ilha e fizeram medições do terreno com drones e unidades de GPS.
De volta ao laboratório no centro Goddard, Slayback agora trabalha em um modelo 3D da ilha para determinar seu volume.
O cientista espera voltar ao local no próximo ano em busca de pistas que permitam decifrar alguns dos seus muitos mistérios.