Baleias
Flagrante raríssimo mostra 40 cachalotes gigantes nadando em SP
2 de abril de 2019Imagens raras foram feitas a mais de 300 quilômetros das praias. Mamíferos aquáticos chegam a ter 18 metros de comprimento e podem pesar até 57 toneladas.
Pesquisadores em um avião fizeram um raro registro de um grupo de 40 cachalotes (Physeter macrocephalus) a mais de 300 quilômetros das praias do litoral de São Paulo. Os animais, que podem chegar a 18 metros de comprimento e pesar até 57 toneladas, foram encontrados durante monitoramento na área de exploração de petróleo do pré-sal.
As cachalotes são mamíferos aquáticos que, apesar do tamanho, não são baleias. As que foram flagradas estavam em deslocamento na superfície, próximas à extremidade da Bacia de Santos, onde a profundidade supera os 2 mil metros.
A espécie ocorre em todos os oceanos e está classificada como vulnerável à extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês).
"Em termos de registro, é raro. Estamos, justamente, estudando o comportamento delas, já que estão geralmente concentradas no talude [região de declive] da plataforma continental [porção mais rasa, de até 200 metros de profundidade], mais na região sul", explica o biólogo José Olímpio da Silva Junior, coordenador da Socioambiental, que faz pesquisa a pedido da Petrobras.
Grupo de cachalotes é avistado por pesquisadores na costa de São Paulo — Foto: Divulgação/Sociambiental
A Petrobras é obrigada pela legislação a avaliar eventuais impactos da extração do petróleo. As cachalotes foram registradas durante a 8ª Campanha de Avistagem Aérea do Projeto de Monitoramento de Cetáceos (PMC), realizada no primeiro trimestre desse ano pela consultoria.
Olímpio explica que biólogos e oceanógrafos percorrem toda a Bacia de Santos – que inclui os litorais de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro – em um avião ao longo de uma semana, se as condições climáticas permitirem.
Os voos feitos nessas áreas são diários, de cinco horas de duração, e têm por objetivo localizar e registrar o comportamento dos cetáceos – mamíferos aquáticos – cujos animais mais conhecidos são as baleias e os golfinhos.
Outro registro raro feito durante os trabalhos foi em 2018 também no litoral paulista, de quatro baleias-azuis (Balaenoptera musculus) – considerado o maior animal a existir na terra por atingir até 30 metros de comprimento e pesar até 180 toneladas. Os avistamentos anteriores dessa espécie na costa brasileira tinham ocorrido na década de 1960.
Pesquisadores em aeronave realizam o monitoramento da Bacia de Santos — Foto: Divulgação/Sociambiental
Ao menos 38 espécies já foram identificadas nessa área de exploração desde o início do monitoramento, em 2015. Além do sobrevoo, os pesquisadores fazem registros por meio de expedições de navio, onde navegam por mais de um mês para filmar, fotografar e capturar os sons desses animais.
"Nessas embarcações, a gente também reboca um cabo de conjunto de hidrofones que faz o registro acústico [submerso]. Nosso objetivo, no futuro, é poder identificar com precisão as espécies, de maneira simultânea, por meio da observação visual e acústica, justamente para aprofundar o conhecimento", explica o coordenador do projeto.
Os profissionais também acoplam transmissores a alguns desses animais para poder acompanhá-los remotamente e assim entender da maneira exata de onde vêm e para onde vão. A captação de dados desse monitoramento é complementada pela coleta de material genético, que é analisado em laboratório posteriormente pela equipe.
Baleia azul foi registrada pelos pesquisadores na costa de São Paulo — Foto: Divulgação/Sociambiental
Apesar dos três anos de projeto, os pesquisadores consideram ser necessário duas décadas para poder avaliar a existência ou não de impactos ocasionados pelas unidades petrolíferas. Esse trabalho ocorre paralelo ao Projeto de Monitoramento de Praias, feito nas praias do quatro estados que englobam a Bacia de Santos e estuda e resgata animais encalhados, vivos ou mortos.
Cachalote
O biólogo José Olímpio lembra que as cachalotes se diferem das baleias justamente por terem dentes, por isso são classificadas como grandes cetáceos. A espécie se popularizou ao ser descrita no clássico romance Moby Dick, de Hermann Melville, que conta a história do ataque a uma embarcação baleeira e o naufrágio que deixou 20 tripulantes à deriva.
As cachalotes se alimentam de peixes e lulas que vivem em grandes profundidades. "Elas podem permanecer por mais de 30 minutos embaixo d'água com tranquilidade e concentram-se na região do talude continental justamente por ser rico em nutrientes pela movimentação das correntes marítimas", explica o coordenador do projeto.
O predador natural é a orca (Orcinus orca), mas a principal ameaça é a captura acidental em redes de pesca e a colisão com grandes embarcações em alto-mar. A caça aos animais da espécie ocorreu até a segunda metade do século 20, ainda conforme os pesquisadores, para a obtenção de óleo e de uma substância para prover a iluminação de cidades.
Pesquisadores em embarcação durante expedição para registro de animais na Bacia de Santos — Foto: Divulgação/Socioambiental
Pesquisadores se aproximam de animais para acoplar transmissores via satélite — Foto: Divulgação/Socioambiental
Pesquisadores sobrevoam a Bacia de Santos em busca de cetáceos — Foto: Divulgação/Socioambiental