Descoberta

Primeira fábrica de cimento da América Latina

29 de abril de 2019

A fábrica foi construída pelo engenheiro gaúcho Luiz Felipe Alves da Nóbrega, na ilha Tiriri, em 1890, na Paraíba.

 

 

Tese de doutorado de engenheiro paraibano assegura que o Brasil estava inserido na vanguarda tecnológica mundial da produção cimenteira desde o século 19.
 
O engenheiro paraibano Alysson D. M. Medeiros acaba de defender tese de doutorado, na Universidade Federal da Paraíba, a partir de uma importante descoberta: a primeira fábrica de cimento Portland da América Latina ficava naquele estado. Pesquisadores brasileiros do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba desvendam os mistérios em torno da fábrica de cimento mais antiga da América Latina. Pela primeira vez, utilizando técnicas avançadas de microscopia eletrônica de varredura, análises químicas com espectroscopia de energia dispersiva e difração de raios-x, os pesquisadores conseguiram esclarecer que a fábrica realmente produziu cimento Portland.
 
 
 
Localização exata das ruínas da primeira fábrica de Cimento da América Latina, na ilha de Tiriri – Paraíba
 
 
A CONSTRUÇÃO
 
 
 
 
 
A fábrica foi construída pelo engenheiro gaúcho Luiz Felipe Alves da Nóbrega, na ilha Tiriri, do Rio Paraíba, no atual município de Santa Rita, região metropolitana de João Pessoa, entre 1890 e 1892. Ali foi produzido cimento Portland de alta qualidade até a segunda década século 20.
 
O Brasil foi um dos vinte primeiros países do mundo que fabricavam cimento Portland, no século 19, cuja qualidade foi atestada pelo doutorando Alysson Medeiros e pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba, orientados pelo professor Sandro Marden Torres, especialista em cimento Portland e doutor pela Universidade de Sheffield, Inglaterra, que desenvolveu seus trabalhos no Centre for Cement and Concrete.
 
 
VANGUARDA TECNOLÓGICA
 
Portanto, a descoberta da fábrica de cimento de Tiriri inseriu o Brasil na vanguarda tecnológica mundial com a produção desse valioso insumo da construção civil, sem o qual os avanços e os desafios da moderna engenharia ficariam limitados.
 
Segundo o orientador Sandro Torres, aos fragmentos de concreto coletados na área da fábrica foram aplicadas diferentes técnicas de caracterização microestrutural, analisados nos laboratórios da UFPB, por fluorescência e difração de raios X, assegurando a qualidade do produto.
 
 
 
 
Alysson D. M. Medeiros e os pesquisadores do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba. Da esquerda para a direita: Tarciso Cabral, o doutorando Alysson Medeiros, Sandro Marden, Angelo Just, Antônio Leal e Marçal Rosas Filho.
 
 
 
O trabalho do engenheiro Medeiros, defendido em sua tese de doutoramento, ressaltou, ainda, a grande extensão das jazidas de calcário paraibanas, que impressionaram o ilustre engenheiro do império André Rebouças, ainda em 1864, em visita à Paraíba.
 
PATRIMÔNIO HISTÓRICO E TURÍSTICO
 
 
 
 
Como a fábrica de cimento se encontra atualmente
 
 
 
Apesar de ainda não ser considerado objeto de proteção pelos órgãos que respondem pela preservação do patrimônio cultural, o grandioso valor histórico do sítio constitui um extraordinário exemplo da tecnologia industrial empregada ao fim do século XIX. 
 
Acerca da necessidade de proteção foi abordada pelo autor em comparação com outras ruínas congêneres estrangeiras reconhecidas como bens culturais, podendo esta situação ser revertida após as informações resgatadas e apresentadas pela pesquisa. 
 
Não obstante o valor histórico, o cimento Portland de idades avançadas como a peça resgatada muito contribui para o entendimento dos fenômenos químicos complexos em longas idades, extremamente importante para se compreender acerca da durabilidade de obras de concreto, assegura o engenheiro doutorando Alysson Medeiros.
 
 
BARRICAS DE MADEIRA
 
 
 
Barrica de madeira para transportar cimento preservada pela UFPB
 
 
 
 
O transporte do cimento era feito em barricas de madeira, como eram as embalagens de outros produtos como uísque, rum e vinho.
 
Dentre os achados nos escombros da fábrica a investigação concentrou-se nos materiais de construção da fábrica, dos materiais aderidos aos fornos e de uma peça de cimento hidratado em formato de barrica. A peça, de 127 anos, remete à forma utilizada para transportar o produto no século XIX. Descoberta nas imediações dos fornos da fábrica em setembro de 2018, durante os trabalhos de campo, a relíquia está sob a responsabilidade do Centro de Tecnologia da UFPB, onde permanece resguardada para mais estudos, sob os cuidados do professor. Sandro Torres.
 
 
BARRICAS DE ALTO MAR: SHIP ON SHORE
 
Fato curioso ocorreu a 7 mil quilômetros dali, em Sheerness, na costa de Kent, Inglaterra. Em 1848, o navio Lucky Escape naufragou naquelas imediações e um morador resgatou alguns barris da carga, levando-as para um pub local acreditando tratar-se de barris de uísque, mas para decepção de todos, os barris transportavam cimento Portland, que se transformaram em blocos de concreto em contato com a água, com o formato das barricas.
 
 
 
 
 
O dono do pub decidiu construir uma gruta com aqueles blocos de concreto. O pub que ficou conhecido por “Ship on Shore” que se mantém como um importante ponto turístico.