RAONI

Raoni e Papa Francisco

31 de maio de 2019

Um líder indígena brasileiro no Vaticano

 

 

 
 
Dois caciques se encontram no Vaticano. Um da Floresta e outro do Céu. Um dos povos nativos e outro dos povos religiosos. O papa Francisco, líder da Igreja Católica, o Cacique Raoni, líder dos indígenas no Brasil. Ambos fortes aliados na defesa da Amazônia. O papa Francisco recebeu no Vaticano o líder indígena Raoni num encontro em 27 de maio, durante o qual os dois líderes trocaram presentes e conversaram amigavelmente. A audiência com Raoni faz parte da preparação para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Panamazônica, a ser realizada de 6 a 27 outubro. O tema proposto é 'Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para Ecologia'.
 
Raoni, o líder indígena brasileiro, iniciou em 12 de maio uma excursão de três semanas pela Europa, onde foi recebido por chefes de Estado, marchou com jovens em favor do clima e agora se reuniu agora com o papa. "Com este encontro, o papa Francisco quer reiterar sua atenção pela população e pelo meio ambiente da região amazônica e seu compromisso com a proteção da Casa Comum", explicou o porta-voz do papa, Alessandro Gisotti.
 
 
ENCÍCLICA ‘LAUDATO SI’
 
Considerado o pontífice mais sensível aos problemas ecológicos após a publicação em 2015 da encíclica "Laudato Si", o papa Francisco convocou para outubro deste ano um sínodo ou assembleia de bispos sobre a Amazônia, a fim de proteger os povos desta região que abrange nove países e é considerada o pulmão do planeta. 
 
"A audiência com Raoni também faz parte da preparação para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Panamazônica, a ser realizada de 6 a 27 outubro, com o tema 'Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para Ecologia'", precisou Gisotti.
 
O líder Kayapó, que viaja acompanhado de outros três líderes indígenas do Xingu, tem sofrido a devastação de seu vasto território, ameaçado pelo desmatamento, pelo agronegócio e pela indústria madeireira. Um fenômeno que o próprio papa denunciou quando visitou Puerto Maldonado em janeiro de 2018, uma cidade rural no sudeste do Peru, cercada pela floresta amazônica.
 
 
 
 
Raoni viaja acompanhado de outros três líderes indígenas do Xingu e denuncia ao Papa Francisco a devastação de seu território, ameaçado pelo desmatamento. (fotos: VATICAN MEDIA / AFP )
 
 
 
 
A preocupação do papa Francisco com as ameaças contra esse santuário da biodiversidade coincide com a de muitas populações amazônicas, determinadas a defender sua identidade e seus costumes. É a primeira vez que a Igreja Católica apoia oficialmente atividades concretas em favor do cuidado ambiental, inclusive nas paróquias.
 
A viagem de Raoni acontece em meio a tensões no governo brasileiro, que tem se mostrado favorável à exploração de áreas protegidas. O cardeal brasileiro Cláudio Hummes, próximo ao papa, relator geral do Sínodo a ser realizado de 6 a 27 de outubro, reconheceu recentemente em Roma que a defesa da Amazônia gera muitas "resistências e incompreensões". 
 
 
OS ESQUECIDOS DA FLORESTA
 
"Os interesses econômicos e o paradigma tecnocrático são contrários a qualquer tentativa de mudança e estão prontos a se imporem com força, violando os direitos fundamentais das populações no território e as normas de sustentabilidade e proteção da Amazônia", explicou Hummes.
 
A igreja de Francisco também está empenhada em proteger "os esquecidos" da floresta amazônica, as populações mais pobres. A Amazônia é habitada por 390 povos com uma identidade cultural e uma língua própria, e tem cerca de 120 aldeias livres em isolamento voluntário.
 
Este território, compartilhado por nove países e habitado por cerca de 34 milhões de pessoas, abriga 20% da água doce não congelada do mundo, 34% das florestas primárias e 30-50% da fauna e flora do planeta.
 
 
 
 
O presidente da França, Emmanuel Macron, também recebeu o líder Kayapó e discutiu a difícil situação das comunidades indígenas no Brasil. Macron assegurou ao cacique Raoni o apoio da França em sua luta para proteger a biodiversidade e os povos da Amazônia, vítimas de um crescente desmatamento.