O lixo e os materiais gerados pela sociedade são consequências de péssimos hábitos de consumo.
A população mundial ainda não se deu conta de que o lixo é uma catástrofe moderna tantos nas ruas, nos parques, nos rios e oceanos. E o mundo não pode acabar em lixo. Nesse esforço pela conscientização do uso e desuso do lixo, envolvendo indústrias e consumidores, está uma luta de diversos organismos, ONGs e ambientalistas para promover uma sustentabilidade pelos resíduos sólidos descartáveis. Nessa luta está a organização TriCiclos com uma missão de gestão e fé: fazer que a sustentabilidade seja contagiosa. O próprio nome TriCiclos vem do compromisso com um triplo resultado: trabalhar os conceitos da sustentabilidade no cotidiano das pessoas; mudar no consumidor o hábito do consumo e facilitar o recolhimento e reciclagem de materiais recicláveis. A TriCiclos existe há 11 anos. Foi fundada no Chile e agora é uma empresa brasileira. Para explicar melhor essa missão, a Folha do Meio Ambiente procurou a Gerente Comercial da TriCiclos, Cintia Kita.
Cintia Kita explica que a economia circular propõe eliminar o conceito de lixo por definição, garantindo a utilização dos recursos pelo máximo de tempo possível e com maior valor agregado. O modelo atual linear (em que extraímos, transformamos, consumimos e descartamos) está fadado ao fracasso.
ENTREVISTA
CINTIA KITA – Gerente Comercial e de Projeto TriCiclos
Cintia Kita: “A decisão das indústrias de investir em tecnologias e ações de economia circular é fundamental para preservar o meio ambiente e a saúde das pessoas, mas também para o próprio negócio”.
FMA- O que é economia circular e como ela pode acabar com o lixo?
Cintia Kita – A economia circular propõe eliminar o conceito de lixo por definição, garantindo a utilização dos recursos pelo máximo de tempo possível e com maior valor agregado. Ou seja, o modelo atual linear (em que extraímos, transformamos, consumimos e descartamos) está fadado ao fracasso. É necessária uma mudança efetiva na forma de desenhar produtos e serviços para que o resultado do consumo possa se tornar o início de um novo ciclo de uso, possibilitando uma economia de recursos naturais, de investimentos na cadeia pós-consumo e de emissões de carbono.
FMA – Qual seria o principal papel das empresas para a redução do lixo?
Cíntia Kita – Acreditamos que o lixo é um erro de design que pode e deve ser corrigido. Quando uma empresa tem consciência do impacto que seus produtos e embalagens causam, ela consegue agir de maneira estratégica e eficaz para evitar a geração de lixo. A decisão das indústrias de investir em tecnologias e ações de economia circular é fundamental para preservar o meio ambiente e a saúde das pessoas, mas também para o próprio negócio.
Por exemplo: na triciclos temos um software capaz de medir o índice de reciclabilidade dos materiais, relativo à região onde este produto é consumido. Com base em análise aprofundada, é possível elaborar planos de ação e orientar o desenvolvimento de novas embalagens, com maior potencial de circular e não virar lixo.
FMA – Qual o principal vilão quando falamos da poluição plástica que atinge os oceanos?
Cíntia Kita – É comum vermos a culpa recair sobre o plástico ou mesmo sobre outros materiais pela poluição que vemos tomar conta dos oceanos. Mas a reflexão que precisa ser feita é como este lixo foi parar lá. Isso nos convida a olhar com mais cuidado para os descartáveis de uso único e então questionar hábitos de consumo, não a existência de plástico. Apenas alguns minutos de uso podem implicar em algo que vai permanecer por séculos no meio ambiente. O problema poder ser corrigido quando o produto já existe, seja evitando o uso indiscriminado desses itens ou garantindo que ele seja descartado corretamente e reciclado, mas também pode ser substituído antes mesmo de existir.
FMA – O que a indústria precisa fazer?
Cíntia Kita – Simples assim: a indústria precisa colocar “bons” materiais no mercado, como forma de garantir que eles sejam reciclados e tenham grande potencial de retornar ao mercado. A qualidade dos materiais, seu objetivo e os hábitos de consumo são na verdade os vilões e não os materiais por si só.
FMA – Além da poluição causada pelos resíduos, quais são os outros impactos ambientais que podem ser mensurados?
Cíntia Kita – A produção de novos materiais exige um consumo de água, energia, emissão de gases de efeito estufa, além da extração da matéria prima em si, que acarreta em diversos riscos ambientais e trabalhistas. Por isso a economia circular é tão importante.
FMA – Pode dar um exemplo?
Cíntia Kita – Lógico. Por exemplo, apenas nos seis Pontos Limpos da TriCiclos em operação no Brasil, o material reciclado e que volta para o mercado, é capaz de evitar a emissão de 26.019 toneladas de CO2 e impedir que 74.658 árvores sejam cortadas. O economizado em água e energia seria suficiente para mais de 2.500.000 banhos de 5 minutos e mais de 55.900.00 horas de lâmpadas (100W) acesas.
FMA – Qual o papel do cidadão na luta contra o lixo?
Cíntia Kita – Ao rever seus hábitos de consumo o cidadão tem um poder enorme nas mãos. Recusar materiais descartáveis ou de pouca reciclabilidade, questionar a origem do material usado nas embalagens dos produtos que consomem e também incorporar a reciclagem no seu dia a dia são algumas das mudanças que fazem a diferença. Além disso, apenas novos hábitos geram mudanças efetivas.
Mais informações: www.triciclos.net / (11) 3552-0103.