Ararinhas-azuis

Acordo garante repatriação de 50 ararinhas-azuis

9 de junho de 2019

Aves deverão chegar ao Brasil em 5 meses vindas da Alemanha. Após adaptação, serão reintroduzidas na Caatinga baiana, seu habitat histórico. Espécie é extinta na natureza

 

 

ave cyanopsitta spixii ararinha azul foto camile ugarini

Atualmente, existem no mundo apenas 163 ararinhas-azuis vivendo em cativeiro, sendo 13 delas no Brasil (Foto: Camile Lugarini)
 
 
 
 
Brasília – Dentro de cinco meses, 50 exemplares da ararinha-azul devem chegar ao Brasil, repatriadas da Alemanha. O retorno à casa foi anunciado nesta sexta-feira (7) durante a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a ONG alemã Association for the Conservation of Threatend Parrots (ACTP), que mantém as aves.
 
Ao chegarem, provavelmente no mês de novembro, as ararinhas serão levadas para o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul, unidade de conservação criada no ano passado, em Curaçá, na Bahia, especialmente para receber as aves. O local é habitat histórico da espécie, considerada extinta na natureza desde 2000 após ser alvo durante anos de caçadores e traficantes de animais.
 
Depois de um período de adaptação em viveiro, elas serão, enfim, soltas na natureza, concretizando um sonho acalentado há anos pelos integrantes do Projeto de Reintrodução da Ararinha-Azul, coordenado pelo ICMBio e executado com a ajuda de parceiros do Brasil e do exterior. Atualmente, existem apenas 163 exemplares da ave em cativeiro no mundo, sendo 13 no Brasil.
 
 
ESFORÇOS
 
Momento da assinatura do acordo de cooperação entre o ICMBio e a ONG alemã Association for the Conservation of Threatend Parrots (Foto; Bruno Bimbato)Na solenidade de assinatura do acordo, o presidente do ICMBio, Homero de Giorge Cerqueira, ressaltou o esforço do Ministério do Meio Ambiente (MMA) em trazer a espécie para o Brasil. “É um feito inédito e importante para biodiversidade brasileira”, destacou ele, empolgado com os resultados do programa de reintrodução da ave.
 
Já a secretária-executiva do MMA, Ana Maria Pellini, disse que “temos homens que destróem, e homens que constróem”. “E hoje estamos aqui construindo, repondo as ararinhas na natureza”. Ana Pellini ainda elogiou as iniciativas brasileiras de reprodução da espécie. No Brasil, as 13 aves estão alojadas em criadouro na Fazenda Cachoeira, em Minas Gerais. Duas delas são filhotes e nasceram na semana passada.
 
O dono do criadouro na Fazenda Cachoeira, Edson Gontijo, mostrou-se empolgado com a assinatura do acordo. Ele disse estar feliz em contribuir para um projeto tão importante para a biodiversidade brasileira, que é o repovoamento da ararinha-azul.
 
 
Momento da assinatura do acordo de cooperação entre o ICMBio e a ONG alemã Association for the Conservation of Threatend Parrots (Foto; Bruno Bimbato)
 
 
 
SITUAÇÃO
 
Antes da assinatura, o analista ambiental Hugo Vercilo, do ICMBio, fez uma apresentação sobre a atual situação da espécie. Segundo ele, os 166 exemplares estão mantidos em cativeiro. Além dos 13 no Brasil, há 147 na Alemanha, dois na Bélgica e quatro em Singapura, países que participam do Programa de Reintrodução da Ararinha-Azul.
 
Ao chegar ao Brasil, explicou, as ararinhas vão para o Centro de Reintrodução e Reprodução da Ararinha-azul, que está sendo construído no interior do Refúgio de Vida Silvestre, em Curaçá. Durante o período de adaptação, as aves ficarão sob a guarda da ACTP, que mantém 90% das ararinhas-azuis em cativeiro do mundo após receber os exemplares que estavam em instituição no Catar, recentemente fechada. “É uma responsabilidade enorme”, disse Martin Guth, presidente da ACTP, que pagará pelo novo Centro de Reintrodução.
 
A analista ambiental Camile Lugarini, do ICMBio, disse que a reintrodução na natureza será um processo cauteloso. As primeiras solturas serão feitas em conjunto com maracanãs (Primolius maracana), uma outra espécie de arara, com hábitos semelhantes aos da ararinha-azul – ambas utilizam ocos de caraibeira (ipê-amarelo) para fazer seus ninhos, entre outras similiridades. Segundo a analista, antes de desaparecer, o último macho de ararinha-azul chegou a formar par com uma fêmea de maracanã.
 
A soltura, ainda segundo ela, está prevista no Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha Azul (PAN Ararinha-Azul), coordenado pelo ICMBio e publicado em 2012. As ações do plano tem o objetivo de aumentar a população manejada em cativeiro e recuperar o habitat de ocorrência histórica da espécie, visando à sua reintrodução à natureza.
 
 
SAIBA MAIS
 
Descoberta no início do século 19 pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix, e exclusiva da Caatinga brasileira, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) teve sua população dizimada pela ação do homem. O último exemplar conhecido na natureza desapareceu em outubro de 2000 e até hoje não se sabe se morreu ou foi capturado por alguém.
 
Desde então, os poucos exemplares que restaram em coleções particulares vêm sendo usados para reproduzir a espécie em cativeiro. Quase todos no exterior. A ararinha é endêmica da Caatinga e considerada uma das espécies de aves mais ameaçadas do mundo. Em 2000, foi classificada como Criticamente em Perigo (CR) possivelmente Extinta na Natureza (EW), restando apenas indivíduos em cativeiro.
 
Rara, a espécie vivia originalmente numa pequena região do interior de Juazeiro e Curaçá, no norte da Bahia, onde o governo federal criou no início deste mês duas unidades de conservação: o Refúgio de Vida Silvestre (com 29,2 mil hectares) e a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-Azul (com 90,6 mil hectares), destinadas à reintrodução e proteção da espécie e para conservar o bioma da caatinga. Um centro de reprodução está sendo construído no local para receber as 50 araras vindas da Alemanha e reproduzir os filhotes que serão liberados na natureza.