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Pesquisadores buscam salvar mico-leão-de-cara-preta
4 de julho de 2019Parque Nacional do Superagui é o principal beneficiado em projeto para a conservação da espécie; unidade abrange 70% do território conhecido da espécie.
Só é possível encontrar o mico-leão-da-cara-preta nos estados de São Paulo e no norte do Paraná. (Foto: Celso Margraf)
Eles são pequenos, ágeis, a carinha preta contrastando com os pelos de um dourado vívido. Só é possível encontrar o mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara) nos estados de São Paulo e no norte do Paraná. Ainda assim, suas aparições são raras, afinal a mais otimista estimativa é de que haja, no máximo, 900 indivíduos desta simpática espécie de primata.
Um Projeto liderado pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) quer mudar esse panorama. A iniciativa é apoiada pelo ICMBio e tem foco especial no Parque Nacional do Superagui (PR), que corresponde a 70% do território ocupado por este animal.
O Projeto deve durar 18 meses. Em março deste ano, foram iniciadas as atividades de campo no Ariri, área de ocorrência da espécie no litoral sul de São Paulo. Para esta fase, foram contratados dois moradores da comunidade do Ariri que já possuem experiência com a espécie em trabalhos anteriores com ações de pesquisa e conservação da espécie organizadas por outras instituições. Esta é a fase de localização dos grupos em toda a área de distribuição (ilha de Superagui, área continental e nas duas áreas protegidas no Parque Nacional de Superagui e Parque Estadual do Lagamar de Cananeia).
Ao longo do projeto, o objetivo principal é colaborar com a implementação do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e da Preguiça-de-coleira que tem vigência até 2023. Os dados obtidos também devem gerar subsídios para futuros planos de manejo das duas unidades de conservação que abrigam os habitats do mico-leão-de-cara-preta.
Como o mico é uma espécie bastante carismática, tem um grande potencial para a sensibilização ambiental. Deste modo, também é esperado trabalhar em ações de educação ambiental com foco nos moradores da região, gerando engajamento e alertando para a importância da conservação da espécie. Isso também reverbera em ações promovidas por outras instâncias, por exemplo, como a prevenção e controle da febre amarela.
Estima-se que cerca de metade da população está protegida no Parque, o restante está na parte continental. Esta, inclusive, é uma ameaça à conservação da espécie, pois, com a construção do canal que separou o continente da Ilha de Superagui, as populações também ficaram isoladas, culminando na diminuição de variabilidade genética.
Além disso, a longo prazo, o aquecimento global também pode comprometer a sobrevivência do mico-leão-de-cara-preta. O aumento do nível do mar prejudica o território da espécie que é próximo da cota zero do nível do mar, tanto no continente quanto na ilha.
As estimativas de adultos com condições de reprodução não passam de 250 indivíduos. A maturidade sexual deste animal gira em torno de 1,5 a 2 anos e eles são em geral, monogâmicos, ainda que haja alguns registros de poligamia. A gestação da fêmea dura aproximadamente 4 meses e geralmente com 2 filhotes por vez.
A iniciativa tem apoio da Fundação Grupo Boticário, do Primate Action Fund e do Mohamed bin Zayed Species Conservation Fund, e auxílio de instituições parceiras como a Fundação Florestal e o Departamento de Fauna da Subsecretaria de Meio Ambiente de SP, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz, o Instituto de Pesquisas Cananéia (IPEC), a Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR).