Ecoturismo e Preservação

Lençóis Maranhenses, lugar de ver Deus

29 de julho de 2019

O Parque dos Lençóis é um convite à contemplação e à aventura

 

 

Vale a pena conhecer, mas é muito importante respeitar (foto: Silvestre Gorgulho)

 

 

 
O Parque dos Lençóis Maranhenses é um santuário onde um deserto de areia convive com muita água azul e transparente. É um paraíso escondido no Maranhão e um dos mais belos cartões postais da América. Criado em 1981, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses tem área total de 156,5 mil hectares e integra a Rota das Emoções do estado maranhense. As dunas – comuns nessa região do país – são formadas pela força dos ventos, que criam uma paisagem única e tem um dos rios mais lindos da região: o rio Preguiças. 
 
Na primeira vez que visitei os Lençóis Maranhenses, em agosto de 2003, ainda me lembro de uma conversa que tive com a bióloga e funcionária do Parque Diana Floriani. Com certeza, Floriani foi uma garantia de bom comportamento e de respeito com os turistas e com o meio o meio ambiente. Formada em Oceanografia, com mestrado em Geografia, Diana Floriani é analista ambiental do ICMBio, com experiência em gestão de Unidades de Conservação. Em 2003, trabalhava no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Atualmente trabalha nas Unidades de Conservação Marinho Costeiras Federais de Santa Catarina.
 
 
 
 
 
 
 
EMOÇÃO E LIÇÕES NA CHEGADA DO PARQUE
 
Logo ao chegar à portaria do Parque numa Toyota, tração quatro por quatro, Diana Floriani formava grupos de turistas para uma conscientização sobre aquele santuário ecológico. A entrada já estava lotada por centenas de Toyotas. Diana, com sotaque catarinense, organiza os grupos, fazia algumas perguntas, e abriu a conversa:
 
– "Meus amigos, eu sou Diana. Gostaria de fazer algumas considerações com vocês. Para ser um Parque Nacional a área tem que ter algumas características especiais. A primeira delas é ser um ambiente muito bonito, de rara beleza cênica, que tenha importância ecológica e que tenha seus ecossistemas bem preservados. Existem 320 Unidades de Conservação federais no Brasil. São 71 Parques Nacionais no Brasil e 30 reservas biológicas, 32 estações ecológicas, 65 Florestas Nacionais, 62 reservas extrativistas, 7 refúgios de vida silvestres, 3 monumentos naturais, 32 áreas de proteção ambiental, 16 áreas de relevante interesse ecológico e 2 reservas de desenvolvimento sustentável. Juntas, elas somam cerca de 75 milhões de hectares, o equivalente a praticamente 10% do território brasileiro. 
 
Então, toda unidade de conservação é uma área única, por isso a gente pede alguns cuidados para vocês”.
 
Didaticamente, ignorando até uma greve que os funcionários públicos promoviam naquele ano, Diana Floriani estava a postos na defesa dos Lençóis e retoma sua aula:
 
 
LIXO
 
 – "A primeira coisa é o lixo. Tudo que vocês levarem, por favor, tragam de volta. Eu sei que a maioria de vocês já tem essa consciência ambiental. Mas é importante lembrar que venta muito nas dunas. Então qualquer saco plástico, guardanapo, papel, se ficar solto, com o vento vai tudo parar muito longe e aí tem que sair correndo para pegar. Guarde tudo que levarem bem próximo a vocês".
 
 
SILÊNCIO 
 
– "A segunda coisa é o silêncio. Qualquer tipo de algazarra, festa, música alta vamos deixar para fazer à noite lá em Barreirinhas. E o silêncio é importante porque permite a gente admirar e contemplar melhor essa beleza que são os Lençóis. Sem poluição sonora".
 
 
PROTEÇÃO SOLAR
 
 – "A terceira recomendação é se proteger do sol. Quem não tiver um guarda-sol, use protetor e fique mais dentro d’água".
 
 
SEGURANÇA 
 
– "O quarto recado é importante para sua segurança: não dispersem muito do grupo, principalmente as crianças, porque o ambiente das dunas é muito parecido. Há casos de gente que se perdeu e demorou muito para ser encontrada".
 
 
PRESERVAÇÃO 
 
– "A última coisa, já para encerrar é que eu gostaria de explicar por que a gente pede para os carros pararem aqui no início. O primeiro motivo é cênico, porque se você vem admirar, ninguém quer ficar vendo esse tanto de Toyotas paradas na beira das lagoas. 
 
A poluição visual também é uma agressão ambiental. Também quando os carros sobem começa a desestabilizar, a descompactar as dunas e elas começam como que a diluir. Aí, de duna vira morro e de morro vai virar uma planície como esse estacionamento aqui. Então a lagoa de trás dela começa a escoar. Se a gente não preserva, outras gerações não poderão contemplar o que vocês vão ver e aproveitar agora".
 
 
CARACTERÍSTICAS DOS LENÇÓIS MARANHENSES
 
 
 
 
 
 
LAGOAS AZUIS
 
Pronto! Essa pequena aula de Diana Floriani é o passaporte para a aventura. Andando pouco mais de um quilômetro, numa areia bem fresca para o sol que se apresenta, surge a primeira lagoa: a Lagoa Azul. Poderia ser chamada de oásis. Mas é muito mais do que isso. É beleza que bate na retina e fixa no coração. Há milhares destes oásis nos Lençóis: lagoa do Peixe, lagoa da Esperança, lagoa da Lua, lagoa Bonita e não sei quantas mais sem nome. O fato é que todas elas são azuis e bonitas.
 
 
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS
 
Uma característica dos Lençóis: as lagoas maiores permanecem, mas algumas menores vão secando com o tempo da seca, voltando a encher no início das chuvas, em março. Mas o curioso é que as dunas vão mudando. Uma nova vista a cada dia, marcada pelo contraste entre dunas e lagoas. O vento se encarrega de levar e trazer a areia, de fazer e desfazer dunas e de mudar o cenário a cada instante.
 
Outra característica interessante é que num lugar aparentemente desértico, deveria haver pouca diversidade biológica. Mas é só aparentemente. Além de diversas espécies de tartarugas-marinhas, existe uma rica fauna microscópica que cumpre papel fundamental na alimentação e reprodução de animais e aves. A região mais próxima da costa abriga aves migratórias e animais ameaçados de extinção, como a tartaruga marinha gigante.
 
 
 
 
 
 
MELHOR ÉPOCA PARA VISITAS
 
Na região dos Lençóis Maranhenses existem duas estações características ao longo do ano. A chuvosa e a seca. A melhor época para visitação é logo depois da estação chuvosa e no começo da seca, durante os meses de julho a setembro, quando as lagoas estão em seu nível máximo e as chuvas, que costumam ser fortes e diárias, dão uma trégua. Nesse período as lagoas estão perfeitas para banho.
 
 
RIO PREGUIÇAS, AS BELEZAS DE UM RIO QUE PARECE LAGO
 
Preguiçosamente as águas do rio Preguiças chegam ao mar por entre dunas e manguezais
 
 
 
 
 
Barreirinhas é o portal do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. O nome Barreirinhas surgiu em função de muitas barreiras e dunas existentes na área. Aos visitantes, além dos Lençóis há algo tão belo para se apreciar: o rio Preguiças, que é o mais importante da região. O RIO Preguiças nasce no povoado de Barra da Campineira, município de Anapurús, e percorre 120 km até sua foz, entre Caburé e Atins.
 
De Barreirinhas até o mar, o rio preguiçosamente serpenteia por 42 km, quando em linha reta são apenas 16 km. 
 
Sereno, caudaloso e muito bonito, o rio Preguiças apresenta uma dúvida à primeira vista: para que lado ele corre? Foi a pergunta que fiz a um dos principais operadores do turismo em Barreirinhas, Bernardo Marconi, 40 anos, que opera barcos, Toyotas e tem todas as informações sobre o lugar. A resposta surpreende:
– Olha, agora o rio Preguiças está correndo pra lá…
– Como assim?
 
– É que o rio é muito calmo. Quando a maré sobe, o rio volta…. quando a maré baixa, o rio aproveita corre para o mar…
 
 
 
 
NOME DA UNIDADE: Parque Nacional dos Lençois Maranhenses
BIOMA: Marinho Costeiro
ÁREA: 156.608,16 hectares
DIPLOMA LEGAL DE CRIAÇÃO: Dec nº 86.060 de 02 de junho de 1981
COORDENAÇÃO REGIONAL / VINCULAÇÃO: CR5 – Parnaíba
ENDEREÇO: Rua Cazuza Ramos, 328, Cruzeiro, Barreirinhas-MA
TELEFONE: (98) 33491267
 
 
ALERTA
 
Mas a verdade é que indo ou voltando, o Preguiças é muito bonito e mais parece um rio-lago. Não dá para perceber nitidamente para onde ele corre. O fato é que margeando dunas e manguezais, o rio Preguiças tem uma bela mata ciliar e é outra maravilha de Barreirinhas. Mas vale lembrar e alertar: a rodovia (250 km) que liga São Luiz a Barreirinhas facilitou muito o acesso ao Portal dos Lençóis. Antes do asfalto, eram oito horas de uma dura viagem. Hoje são no máximo três horas de uma viagem tranquila.
 
A rodovia trouxe investimentos, aumentou o turismo e está provocando uma verdadeira revolução na cidade. O crescimento é da noite para o dia. O adensamento urbano, a questão do saneamento e disposição final do lixo, a construção de muitas casas de veraneio e de pousadas à beira do rio acaba por ser preocupante. Se tudo isto não obedecer a uma ordenação efetiva, com certeza problemas sérios virão e vão colocar em risco o ambiente e a vida do Preguiças.
 
 
 
 
A foz do rio Preguiças no encontro com o Mar em Caburé: uma beleza infinita
 
 
 
 
CABURÉ E A FOZ DO RIO PREGUIÇAS 
 
Ao desaguar no Oceano Atlântico, o rio Preguiças se abre em braços de praias onde tem alguns povoados: ao lado esquerdo, está Mandacaru, onde tem o Farol de 45 metros de altura, construído em 1944, para direcionar a navegação em Atins. 
 
À margem direita, estão os povoados de Alazão, Vassouras, Caburé e Brasília.
 
Em Caburé, entre as praias do rio Preguiças e as praias do Atlântico, numa distância que não passa de 800 metros, estão estabelecidas várias pousadas e restaurantes.
 
Outra coisa interessante, é que à esquerda do rio Preguiças está o Parque dos Grandes Lençóis e à direita o chamado Pequenos Lençóis. Não fosse o rio, com sua vegetação, seus manguezais e sua história, não haveria esta separação.
 
Por falar em manguezais, vale destacar os três tipos de mangues: o vermelho (Rhizophora mangle) que os ribeirinhos utilizam muito para retirar uma tinta vermelha para colorir seus artesanatos; o mangue-branco (Laguncularia racemosa) e mangues-siriuba (Avicencia tomentosa).