Abelhas

Projeto na Expoflora ensina sobre convivência com abelhas sem cultura do medo: ‘Principais polinizadores’

4 de setembro de 2019

Associação A.B.E.L.H.A. e Projeto Kombee apresentam variedades do inseto, inclusive sem ferrão, e apontam espécies de flores e árvores nativas que podem auxiliar na conservação da biodiversidade.

 

 

Abelha Lambe-olhos é espécie sem ferrão catalogada no Brasil — Foto: Mirela Von Zuben/G1

Abelha Lambe-olhos é espécie sem ferrão catalogada no Brasil — Foto: Mirela Von Zuben/G1
 
 
 
 
A Associação A.B.E.L.H.A. e o Projeto Kombee levam à 38ª edição da Expoflora, em Holambra (SP), uma “tradução” sobre a importância das abelhas para a conservação da biodiversidade do Brasil com o combate sobre a cultura do medo que é colocada sobre estes insetos.
 
No local, biólogos e outros profissionais ensinam formas de auxiliar na manutenção da natureza através do plantio de flores, ervas e árvores – nativas de cada parte do país –, que se tornam verdadeiros “banquetes” para estes insetos.
 
A 38ª edição da Expoflora acontece até dia 29 de setembro em Holambra (SP), sempre às sextas, sábados e domingos, e comercializa muitas das plantas indicadas pelos biólogos que conversaram com o G1 a respeito das abelhas.
 
 
250 espécies de abelhas sem ferrão
 
Ana Lúcia Assad, diretora executiva da A.B.E.L.H.A., conta que o Brasil tem ao menos 3 mil espécies de abelhas, das quais 1,8 mil estão registradas. Destas, 250 não possuem ferrão e são estes insetos especificamente que o projeto evidencia em seu espaço no evento.
 
“Elas [abelhas] são os principais polinizadores do mundo todo e as plantas precisam delas. A gente mostra que existem abelhas sem ferrão porque existe um medo das pessoas, elas acham que vai picar, gerar uma alergia”, explica a diretora.
 
Assad aponta que a abelha mais comumente conhecida pela sociedade, que produz a maior parte do mel comercializado no Brasil, na verdade é uma espécie europeia, trazida ao país para trabalhar na produção de cera no século 19.
 
“Em 1950 entrou a espécie africana e elas acabaram cruzando. Hoje a gente tem uma abelha robusta que produz a grande parte do mel”.
 
 
Espécies de abelhas sem ferrão, como a Mandaçaia, são apresentadas aos visitantes da Expoflora — Foto: Mirela Von Zuben/G1
 
Espécies de abelhas sem ferrão, como a Mandaçaia, são apresentadas aos visitantes da Expoflora — Foto: Mirela Von Zuben/G1
 
 
 
Entre as espécies de abelhas sem ferrão e que, portanto, não picam caso se sintam ameaçadas, estão:
 
Guaxupé (Trigona hyalinata)
 
Jataí (Tetragonisca angustula)
 
Lambe-olhos (Leurotrigona muelleri)
 
Mandaçaia (Melipona quadrifasciata)
 
Marmelada (Frieseomelitta varia)
 
Mirim (Plebeia droryana)
 
Mombuca carniceira (Trigona hypogea)
 
Uruçu (Melipona scutellaris)
 
Plantas que auxiliam as abelhas

 

 

Plantas de fácil cultivo, como ervas aromáticas, são "banquetes" para as abelhas sem ferrão — Foto: Mirela Von Zuben/G1

Plantas de fácil cultivo, como ervas aromáticas, são "banquetes" para as abelhas sem ferrão — Foto: Mirela Von Zuben/G1
 
 
 
 
Os biólogos do Projeto Kombee apontam algumas espécies de plantas nativas que auxiliam na conservação da vida das abelhas. A bióloga Isabela Cardoso Fontoura cita como exemplo o açaizeiro, natural da região Norte do Brasil, que precisa de uma biodiversidade à sua volta para que a produção do fruto tenha maior qualidade.
 
“Os nativos começaram a cortar a mata em volta para plantar o açaizeiro e tiraram dali uma fonte de alimento e polinização das abelhas. Em vez de aumentar a produção, tiveram uma diminuição porque tirou algo que é natural, que é a fonte de alimento delas”, diz.
 
Na região Sul, aponta o biólogo Fernando Quenzer, o cultivo da canola foi influenciado pela presença das abelhas.
 
“Também precisamos pensar nas áreas florestais, muitos cultivos agrícolas dependem delas. A presença delas ajudou a aumentar a produção da canola”.
 
Entre outras espécies que atraem abelhas e podem se beneficiar da polinização, estão:
 
  • Aroeira
 
  • Embaúba
 
  • Ervas aromáticas, como manjericão, PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), lavanda, alecrim, coentro, ora-pro-nóbis
 
  • Escova de garrafa
 
  • Guaecá
 
  • Ipê
 
  • Jabuticabeira
 
  • Manacá-da-serra
 
  • Paineira
 
  • Pequizeiro
 
  • Pitangueira
 
  • Quaresmeira
 
  • Sibipiruna
 
 
Por que a polinização é importante?
 
Segundo a bióloga Isabela Fontoura, 70% dos vegetais cultiváveis pelo ser humano são beneficiados pelo processo de polinização e quem mais o faz são as abelhas. Ela conta que, assim como acontece entre os animais, também existem plantas macho e fêmea.
 
“O pólen é a parte masculina da flor, então você pode ter numa mesma flor as duas partes, ou uma delas. A polinização é o transporte do pólen, da parte masculina para a parte feminina, onde ocorre a fecundação e depois o nascimento do fruto”, explica a bióloga.
 
 
 
 
Abelhas auxiliam no ciclo reprodutivo de plantas com o transporte do pólen — Foto: Reprodução/EPTV
 
Abelhas auxiliam no ciclo reprodutivo de plantas com o transporte do pólen — Foto: Reprodução/EPTV
 
 
 
 
Segundo ela, várias plantas precisam dos polinizadores para que o processo de reprodução ocorra. “Algumas não dependem de polinizadores animais, dependem do vento, por exemplo, então com isso você tem a produção de frutos, ou a melhora na produção deles”.
 
 
Remanejamento
 
As abelhas com ferrão, segundo Assad, normalmente não podem frequentar áreas urbanas. Se ela não tem alimento próximo, ela vai buscá-lo.
 
“No refrigerante você já deve ter visto, fica aquela abelha voando ali em volta, e ela na verdade está atrás de alimento, de açúcar”, explica.
 
Caso uma pessoa se depare com estas abelhas que picam, a recomendação é que entre em contato com um apicultor ou alguém especializado no manuseio destes insetos. “Ele vai até o local fazer a retirada, para que elas sejam levadas para o campo. Assim, elas voltam para o habitat natural”.
 
"As abelhas sem ferrão podem ser criadas no ambiente urbano, mas devem ter fontes de alimento próximas. Tem que ter flores, plantar árvores e outras plantas que forneçam alimento para elas”, pontua.