As linguagens são muitas e variadas, como a linguagem do fogo, das bandeiras, dos sinais, dos gestos, dos sons e das luzes. Quando uma pessoa está dirigindo um carro e quer indicar que vai entrar à direita, ela liga o pisca-pisca para a direita. Pronto! Quem está na rua, pedestre ou automóvel, já sabe o que significa aquele sinal. Os animais também têm suas linguagens. Das mais variadas, como o homem. Por exemplo, a lanterninha do vaga-lume também tem suas funções. A vaga-lume fêmea pisca para avisar ao macho que ele pode se aproximar dela para o acasalamento. O pisca-pisca também serve para espantar os inimigos, pois toda vez que a luz pisca, produz-se uma substância tóxica no corpo do vaga-lume. Os cientistas buscam explicar melhor a função da lanterna dos vaga-lumes, que, certamente, funciona como a forma de comunicação do pisca-pisca dos carros.
O que se sabe é que um vagalume macho sobrevoa a vegetação à procura da fêmea para o acasalamento. Enquanto voa, vai piscando num ritmo próprio de sua espécie. Lá embaixo, a fêmea da mesma espécie vagalumeia no mesmo ritmo, como que para avisar que o macho pode se aproximar.
Um inseto chega perto do vaga-lume e ele está apagado. O vaga-lume dá o bote e faz sua refeição. Mas o pisca-pisca funciona também ao contrário. Como os vaga-lumes têm toxina em seu corpo, os predadores quando vêem o pisca-pisca já sabem que eles são presas indigestas. Na verdade, segundo os cientistas, os vaga-lumes não passam de besouros. Besouros especiais por emitirem luz. E eles formam três famílias diferentes: os elaterídeos, os fengodídeos e os lampirídeos. O que os diferencia são o lugar onde ficam os órgãos luminescentes e a frequência e também a cor da luz emitida.
CUPINZEIROS LUMINOSOS
Bioluminescência: o incrível e raríssimo fenômeno que acontece em Goiás
A cientista Keila Eliza Grimberg, Licenciatura em Ciências Exatas da USP – São Carlos, explica que, no Brasil, o espetáculo da bioluminescência é oferecido pelos chamados "cupinzeiros luminosos". Estes cupinzeiros luminosos são encontrados na região amazônica e no cerrado, especialmente em Goiás. Muito comum no Parque Nacional das Emas. A concentração maior de vaga-lumes está no Cerrado e o melhor período de observação é de outubro a abril. No caso dos cupinzeiros luminosos, o fato é que a fêmea depois de fecundada, deposita os ovos no pé dos cupinzeiros. À noite, elas "acendem" suas luzes, atraindo insetos para sua alimentação.
PIRILAMPOS, VAGALUMES OU UAUÁS
A rigor, pirilampo não é sinônimo de vaga-lume. São duas espécies de famílias diferentes. Para quem quiser saber mais detalhes sobre as diferenças entre pirilampos, vaga-lumes ou uauás, o pesquisador Eurico Santos, em sua Zoologia Brasílica, esclarece:
PIRILAMPO (Pyrophorus nyctophanus) – Coleópteros da família dos elaterídeos e subfamília dos pirophorineos. É conhecido por tuco na Argentina, nas Guianas e mesmo em algumas partes do Brasil. Há centenas de espécies, mas a P. Nyctophanus é a mais vulgar entre nós. Os órgãos luminescentes, dois discos branco-amarelados com aspecto de olhos, localizam-se nas laterais da base do pronoto. Suas larvas são também luminescentes e seus órgãos fotógenos espalham-se pelo corpo em numerosas pequenas áreas.
VAGA-LUME – Recebem este nome as várias espécies de coleópteros da família dos lampiridídeos (Lampyrididade) muito conhecidos pela luminescência branca esverdeada de que são dotados. A luminescência é exteriorizada através de áreas claras e translúcidas do tegumento do antepenúltimo (5°), do penúltimo e, às vezes, do último urosternito. Em algumas espécies, as fêmeas são ápteras.
UAUÁ – Reminiscência do linguajar tupi, que ainda persiste em algumas partes do Brasil. É como se disséssemos pisca-pisca na língua gentílica.
ENTRE OS SACIS E AS FADAS
A magia dos vaga-lumes e pirilampos a iluminar as noites de campos e florestas
Valéria Fernandes, de São Lourenço-MG
Pirilampos integram aquele grupo de seres mágicos, formados por fadas, sacis e duendes que habitam florestas encantadas. Afinal, como fadas, que voam, sacis, que correm numa perna só, e duendes, que desaparecem, os pirilampos também têm habilidade especial. São bichinhos que acendem e apagam. A diferença é que da existência deles ninguém duvida. Esses pequenos besouros integram um ecossistema, importante como qualquer outro, e estão ameaçados de extinção pelo excesso de iluminação artificial, poluição e desmatamento.
Os vaga-lumes usam a luz para atraírem parceiros e se reproduzirem, para se defenderem dos inimigos e para caçarem (alimentam-se de formigas, cupins e mariposas). De acordo com especialistas, o excesso de luz artificial à noite impede os animais de utilizarem sinais luminosos para se encontrarem. Mas, além disso, prejudica a visão da abóboda celeste, dificulta os estudos astronômicos, aumenta a falta de visibilidade e prejudica animais e plantas.
É por isso, por exemplo, que parques e jardins botânicos não têm iluminação noturna.
Em Portugal, o Parque Biológico de Gaia abre especialmente nas noites de junho para o público observar os pirilampos. Aqui no Brasil, os espetáculos protagonizados por esses insetos ocorrem, principalmente, na Amazônia e no Cerrado goiano. Lá, distante das luzes artificiais, pode-se ver os cupinzeiros luminosos.
O fenômeno acontece entre outubro e abril quando as fêmeas, depois de fecundadas, depositam os ovos na base dos cupinzeiros e, à noite, acendem suas luzes para atraírem caça.
Os campos se enfeitam, como que decorados por pequenas e inúmeras árvores de Natal. Infelizmente, porém, também esses locais são cada vez mais raros, já que as plantações de soja e cana se expandem sem qualquer controle.
REAÇÃO QUÍMICA
A produção de luz dos vaga-lumes é resultado de uma reação bioquímica e a presença de uma enzima chamada luciferase que tem sido objeto de pesquisas nas últimas décadas. Técnicas de engenharia genética estão sendo usadas para fazer com que bactérias possam produzir luz.
No início deste ano, o professor Vadim Viviani, do campus de Sorocaba (SP) da Universidade de São Carlos publicou um artigo no jornal "Photochemical and Photobiological Sciences" falando sobre os avanços obtidos com o estudo da estrutura genética desses insetos. Em entrevistas, o professor Viviani explicou que os genes das luciferases podem ser utilizados como biomarcadores luminosos, quando transferidos para uma bactéria.
Segundo ele, ao adquirir luz, a bactéria pode ser acompanhada dentro do organismo humano. Esse procedimento tem sido utilizado para testar o funcionamento de medicamentos, para detectar se há contaminação bacteriana em alimentos e para mostrar a evolução de células cancerígenas em modelos animais.
O fenômeno da bioluminescência dos vaga-lumes vêm sendo objeto de estudo. Técnicas de engenharia genética estão sendo usadas para fazer com que bactérias possam produzir luz