Plantas medicinais da Chapada Diamantina no foco da pesquisadora portuguesa
A engenheira biológica portuguesa Sílvia Martins, veio para a Chapada Diamantina como parte de suas pesquisas sobre plantas medicinais. Silvia casou-se com um nativo (é assim que os daqui preferem ser tratados) formaram família e ela adotou Lençóis como sua residência. O seu marido Lucas teve um papel importante no direcionamento de seus estudos voltados às plantas medicinais da Chapada Diamantina.
Formada em Biotecnologia pela Universidade do Minho, Sílvia Martins se encantou por Lençóis, na Chapada Diamantina, e passou a estudar as plantas medicinais da região.
FORMAÇÃO
Formada em Engenharia Biológica (Biotecnologia) pela Universidade do Minho, Braga, Portugal, Mestrado em Química Alimentar, University College Cork, Cork (Irlanda) e Doutorado em Engenharia Química e Biológica, Universidade do Minho, Braga (Portugal), a portuguesa Sílvia Martins admite que a sua vinculação com a natureza tem origem em seu próprio nome: “Às vezes acho que até o meu nome, coincidentemente, vai ao encontro do rumo que a minha vida tomou. O nome “Silvia” deriva da palavra silva, que em latim quer dizer selva.”
O ELO PROFUNDO
O elo que se formava com a natureza estava programado desde a infância. “Apesar de ter nascido na segunda maior cidade de Portugal, o Porto, fui criada numa pequena cidade residencial chamada Maia. Minha infância foi passada a brincar na rua, e logo desde cedo o interesse pelos animais e as plantas crescia em mim. Curiosidade sobre os seus comportamentos, o seu habitat natural, os seus processos biológicos.
Por mais estranho que possa parecer, lembro-me dos meus pensamentos silenciosos ao olhar as plantas, e sentir curiosidade pelas suas células, os seus ciclos biológicos desde a germinação à sua reprodução.
Apesar de não ser criada no campo, na família e na minha criação, culturalmente falando, o consumo de infusões de ervas tradicionais como forma de prevenir ou curar certas enfermidades era prática corrente. Essa prática trouxe também desde pequena a consciência do potencial terapêutico das plantas.
Acredito que todo o ser humano de alguma forma se conecte à natureza, ou pelo menos sinta essa necessidade, em alguma etapa da sua vida; e, algumas pessoas, também a dada altura, não conseguem prescindir mais desse contato, de um modo diário. Isso aconteceu comigo.”
O ENCONTRO DECISIVO
Em 2010, Silvia Martins conheceu a Chapada Diamantina e programou uma colaboração com a Universidade Federal de Pernambuco para integrar pesquisas de campo ao seu programa de doutorado.
Em 2010, ela conheceu a Chapada Diamantina e sentiu-se inteiramente atraída por esse ambiente que a fascinava e programou uma colaboração com a Universidade Federal de Pernambuco para voltar no mesmo ano para integrar pesquisas de campo ao seu programa de doutorado, foi quando conheceu e casou com Lucas e tem um filho desse matrimônio. Sendo guia turístico e nativo, Lucas, foi essencial para que Sílvia encontrasse o caminho das plantas medicinais. Com o olhar pleno de entusiasmo, ela lembra: “Com ele também me inspirei e motivei a aprofundar-me no mundo das plantas medicinais da Chapada Diamantina. As trilhas que fazíamos eram muito mais do que caminhadas e paisagens encantadoras; eram ‘caminhos de conversa’, troca de muitas informações sobre as plantas, muitas coletas e receitas dos seus usos e aplicações, pesquisas; eram momentos de resgate de memórias com a mãe, os avós, os familiares que mostraram, ensinaram e usaram essas plantas em diversos momentos que traziam junto lembranças da infância e adolescência.”
VIVENDO ENTRE AS ERVAS
“Continuei sempre coletando informações sobre plantas, mas desta vez tive mais tempo de conhecer de perto o potencial terapêutico de algumas delas. Usei como banho de assento o barbatimão roxo e a aroeira, tomei chá de raiz de cainaninha para as cólicas menstruais, recorri às sementes de umburana para dores na barriga, queimei resina de amescla como repelente, tomei vermífugo natural preparado com mastruz, conheci de perto a mamona e as suas sementes de onde se extrai o óleo que já usava há muito tempo…enfim, são muitos exemplos, uma busca quase incessante de conhecimento, curiosidade intensa.”
GUIA PRÁTICO DE PLANTAS MEDICINAIS DA CHAPADA DIAMANTINA
A mesa de trabalho de Silvia Martins é um mosaico da Chapada Diamantina
Diante dessas descobertas e profundas conexões com a natureza, e para difundir o valioso trabalho dos tradicionais raizeiros do Sertão, Sílvia Martins decidiu reunir em livro esse acervo de conhecimento das ervas da Chapada Diamantina.
“A humanidade e a sua existência é perpetuada através de ciclos. É assim e sempre será. Um desses ciclos foi a transformação do químico natural para o químico sintetizado. Não se pode negar a importância desse ciclo e de todos os benefícios que advieram dele, mas os efeitos colaterais de alguns produtos químicos sintetizados começaram a “desequilibrar a balança” e a colocar em risco a nossa própria saúde e o meio ambiente. O crescimento populacional e a indústria farmacêutica também colocam em causa esse equilíbrio, e aqui seria assunto que levaria tempo a ser desenvolvido.
Acredito que há um movimento crescente no sentido das pessoas recorrerem à fitoterapia e ao que é natural para o cuidado e preservação da sua saúde. Essa busca vai ao encontro de outras escolhas que cada vez mais são procuradas, como um estilo de vida mais tranquilo e saudável, uma alimentação mais natural e equilibrada, a realização de práticas diárias de atividades físicas que relaxam e fortalecem, entre outras. Este livro é um incentivo que visa viabilizar a escolha do natural ao químico em situações em que essa prática seja adequada, considerando a riqueza que a Chapada Diamantina nos disponibiliza.
FERRAMENTA DE PREVENÇÃO
Na verdade, o realmente importante é considerar a fitoterapia como uma ferramenta de prevenção, e nem sempre de cura. Além dessa possibilidade prática, quem vive e/ou visita a Chapada Diamantina, e se interessa pelo universo das plantas medicinais, terá disponível neste livro a descrição de algumas das plantas que pode encontrar na região, podendo ter uma noção do seu potencial terapêutico e de como as utilizar de forma correta e segura.
Os registros apresentados sobre o uso das plantas na medicina popular são informações passadas por raizeiros, pelas pessoas da região, e nesse sentido há efetivamente um resgate de uma cultura ancestral. Neste livro proponho-me a correlacionar essa informação com os estudos de pesquisa, mais recentes, para fundamentar o potencial terapêutico das respectivas plantas e, dessa forma, evidenciar a importância e eficácia da fitoterapia para a preservação da saúde.”
O registo importante de todo acervo de suas pesquisas
FINANCIAMENTO COLETIVO
Sílvia Martins acredita que todas as iniciativas que tenham por objetivo preservar o conhecimento popular regional, como as plantas medicinais da Chapada Diamantina, e o seu potencial terapêutico para a saúde humana, são importantes. Como já diz o provérbio “de muitos poucos se faz um muito” e o objetivo mesmo é concretizar um sonho a partir de um foco definido.
Por isso, ela pretende disseminar este conhecimento através de um livro impresso para consulta, simples e didático, é o resultado de sua dedicação à população da Chapada Diamantina. “Minha meta é fazer a impressão de 1000 exemplares do “Guia Prático de Plantas Medicinais da Chapada Diamantina”, que pretendo doar exemplares às escolas e bibliotecas públicas de todos os municípios da Chapada. É uma intervenção pequena, mas é a minha contribuição, tentando mostrar também às pessoas que a Natureza nos dá tudo e que é nosso dever preservá-la”, conclui a bióloga portuguesa.