Lixo

Lixo no mar

2 de janeiro de 2020

A TERRÍVEL PONTA DO ICEBERG

 

 

Lixo no Porto do Rio de Janeiro, próximo ao Museu do Amanhã, onde chegam no verão cerca de 10 navios de cruzeiro por semana.

 

25 milhões de toneladas de lixo vão para os oceanos todos os anos. Pior da história: a cada ano essa conta aumenta. Não diminui. Como que o Homem – animal racional e inteligente – vai conseguir resolver o problema da destinação dos resíduos sólidos se cada vez mais se chafurda em ganâncias, embalagens, facilidades e desperdícios? O lixo nosso de cada dia está aí na porta das casas, nas ruas da cidade, no corpo dos rios, lagos e mares. A hora é de encarar essa terrível ponta do iceberg.

 

 

 

PLÁSTICO NOS OCEANOS

De acordo com a ONU, há 13 mil pedaços de plástico em cada quilômetro quadrado do oceano. Esse é um dado grave, que mostra como muitos países têm sido displicentes quanto à preservação dos recursos marinhos. Por isso, uma das metas do Objetivo 14 da Agenda 2030 é aumentar a conscientização quanto à poluição dos oceanos. Mais: a Agenda 2030 também prevê que, em 2020, haja o fim de todas as práticas ilegais de pescaria que prejudicam o ecossistema marinho. Em prosseguimento à série do quadro UrbanSus, o Jornal da USP no Ar conversou com os professores da USP Marcos Buckeridge, do Instituto de Estudos Avançados, e Alexander Turra, do Departamento de Oceanografia Biológica do Instituto de Oceanografia.
 
 
O DESCARTE INADQUADO
 
O lixo que termina nos oceanos segue um caminho conhecido: sem o descarte adequado, vai para lixões, muitos deles à beira de corpos d'água, de onde seguem para o mar. Foi com essa premissa que a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (Iswa, na sigla em inglês) fez um levantamento e revisão da literatura sobre poluição marinha e estimou que 25 milhões de toneladas de resíduos são despejados nos oceanos por ano. E o pior: 80% desse volume é fruto da má gestão dos resíduos sólidos nas cidades.
 
A Iswa usou uma estimativa de que, em todo o mundo, algo entre 500 milhões e 900 milhões de toneladas de resíduos não tem um descarte adequado e cruzou esse dado com o mapeamento de pontos de descarte irregular em cidades perto do mar ou de corpos hídricos. Surgiu assim a hipótese de que ao menos 25 milhões de toneladas desse lixo mal descartado chega ao mar. O estudo foi divulgado durante o Fórum Mundial da Água, que acontece até o final da semana em Brasília.
 
Os dados do levantamento indicam que cerca de metade desse lixo que vai para os oceanos (ou seja, cerca de 12,5 milhões de toneladas) é plástico – cada tonelada de resíduo não coletada em áreas ribeirinhas, destaca a Iswa, representa o equivalente a mais de 1.500 garrafas plásticas que terminam seu ciclo de vida no mar (e acabam virando microplástico depois, vale lembrar).
 
 
MAIS LIXO QUE PEIXE
 
 
 
 
 
 
O volume proposto pelo estudo é um pouco maior do que os 8 milhões de toneladas de lixo plástico estimados pela ONU, que fala em algo entre 60% e 80% de todo o lixo do mar como sendo plástico – e indica que pode haver mais lixo do que peixes nos oceanos até 2050. É interessante lembrar que, em um único dia, voluntários recolheram 4,5 toneladas de lixo em praias ao redor do mundo.
 
O lixo oceânico, reforça a Iswa, se tornou um problema tão sério quanto as mudanças climáticas e traz impactos diretos nos gastos com saúde e tratamento de corpos d'água. Só no Brasil são gastos cerca de R$ 5,5 bilhões por ano para tratar a saúde das pessoas, os cursos d'água e recuperar o ambiente em virtude da degradação dos resíduos sólidos.
 
 
BRASIL: 5 MI TONELADAS DE LIXO
 
O braço da Iswa no Brasil, a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), concluiu que nosso país colabora com pelo menos 2 milhões de toneladas do volume total de lixo oceânico. É o equivalente à área de 7 mil campos de futebol. As previsões foram conservadoras no sentido de excluir lixões irregulares em áreas muito afastadas do mar, como o Pantanal e a Amazônia. O volume poderia chegar a 5 milhões de toneladas se essas regiões fossem incluídas.
 
No caso brasileiro, não foi possível estimar quanto desse volume de lixo seja plástico, mas sabe-se que 15% do resíduo sólido aqui gerado tem essa origem. Outro estudo da Abrelpe, o Panorama dos Resíduos Sólidos, aponta que em 2016 cerca de 41% dos resíduos sólidos produzidos no Brasil teve destinação inadequada.