Bioeconomia

Bioeconomia

3 de fevereiro de 2020

Fundo nacional de repartição de benefícios irá valorizar o patrimônio genético brasileiro

 

 

“Sou biólogo e viajo muito pela savana de meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros, mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto”.
Mia Couto  é pseudônimo de 
Antônio Emílio Leite Couto escritor, poeta, biólogo
 e jornalista moçambicano.
 
 
 
 
 
 
Contrato firmado entre o Ministério do Meio Ambiente e o BNDES irá viabilizar investimentos na área da bioeconomia. (Foto: Jefferson Rudy)
 
 
 
 
Valorizar o patrimônio genético brasileiro e os conhecimentos tradicionais, promovendo seu uso de forma sustentável. Esse é o principal objetivo do contrato firmado entre o Ministério do Meio Ambiente e BNDES, que instituiu o Fundo Nacional de Repartição de Benefícios (FNRB). A ação é fundamental para viabilizar a agenda da bioeconomia, um dos pilares previstos na Estratégia Nacional de Combate ao Desmatamento Ilegal, elaborada pelo MMA para conter atividades ilegais e promover mudanças estruturais socioeconômicas.
 
 
RETORNO FINANCEIRO
 
 
 
 
 
A expectativa é de que seja possível trazer um retorno financeiro que gere renda e desenvolvimento sustentável para as comunidades que detêm os conhecimentos de uso tradicionais, além de incentivar projetos de sustentabilidade, combater a biopirataria e conferir segurança jurídica aos investidores, uma vez que a exploração está regulamentada. 
 
A arrecadação será feita da seguinte forma: empresas que se beneficiem do patrimônio genético brasileiro deverão contribuir para o fundo com 1% da receita líquida anual obtida com exploração econômica, enquanto perdurar a atividade.
 
As decisões sobre a repartição desses benefícios serão feitas pelo Comitê Gestor do FNRB. Pela primeira vez, comunidades tradicionais terão participação direta na gestão e serão beneficiadas de forma igualitária na divisão dos recursos. O Brasil é o único país a promover a inclusão desses povos na gestão de políticas públicas como essas.
 
Indígenas, quilombolas, pequenos produtores, comunidade ribeirinhas, entre outros, têm assentos no Comitê. Entre outros representantes, estão o Ministério da Agricultura, IPHAN, Ministério da Economia, Ministério da Cidadania, Funai e o Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais. A primeira reunião está prevista para março de 2020.
 
O fundo foi instituído pela Lei n° 13.123 e, desde 2015, seu funcionamento aguardava a definição de uma instituição financeira federal para gerir os recursos oriundos de repartição de benefícios de patrimônio genético. Com o contrato assinado entre MMA e o BNDES, as empresas já estão habilitadas a depositar cerca de 19 milhões de reais referente aos fundos arrecadados em 2019.
 
 
 
 
 
CONSERVAÇÃO BIOLÓGICA
 
O FNRB irá privilegiar investimentos em projetos de conservação biológica, de prospecção e captação de recursos humanos associado ao uso sustentável do patrimônio genético, fomento à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, boas práticas em sistemas agroflorestais, entre outras propostas contidas no manual de operacionalização, que serão votadas pelo Comitê.
 
 
PATRIMÔNIO GENÉTICO E USO ASSOCIADO
 
O captopril é um fármaco com propriedades anti-hipertensivas obtido do veneno da jararaca, uma cobra não endêmica encontrada na América do Sul. Apesar do princípio ativo estar disponível em outros países, apenas determinadas comunidades do Brasil detinham o conhecimento sobre suas propriedades. 
 
Contudo, pela ausência de lei, pesquisadores estrangeiros o patentearam em outro país, e o Brasil não pôde recolher os recursos. Por isso, o conhecimento tradicional é de grande importância na questão do patrimônio genético e oferece grande potencial de arrecadação, devido à riqueza de biodiversidade do país.
 
Com a criação do FNRB, essas comunidades irão participar ativamente na valorização desses patrimônios genéticos e serão beneficiadas com os recursos arrecadados.